Indígenas de MT movimentam mais de R$ 120 milhões por ano com o cultivo de grãos
Ricos em qualidade de vida. É assim que o líder indígena Arnaldo Zunizakae, membro da Coopihanama (Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki Coopihanama), define seu povo Paresi, que movimentou com o cultivo de grãos como soja, milho e feijão mais de R$120 milhões em 2021. Realidade muito diferente de 20 anos atrás, quando eles iniciaram o projeto da lavoura mecanizada em uma área total […]
Ricos em qualidade de vida. É assim que o líder indígena Arnaldo Zunizakae, membro da Coopihanama (Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki Coopihanama), define seu povo Paresi, que movimentou com o cultivo de grãos como soja, milho e feijão mais de R$120 milhões em 2021.
Realidade muito diferente de 20 anos atrás, quando eles iniciaram o projeto da lavoura mecanizada em uma área total de 19.600 hectares distribuídas em cinco Terras Indígenas: Paresi, Rio Formoso e Utiariti da etnia Paresi, Irantxe da etnia Manoki; e Tirecatinga da etnia Nambikwara.

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Segundo Arnaldo, jovens e adultos indígenas saíam de seu território em busca de emprego em fazendas da região, mas o mais grave veio em seguida, quando as aldeias começaram a registrar casos de desnutrição infantil.
“Com o esvaziamento das aldeias começaram a surgir problemas muito sérios dentro de nossas casas, um deles foi o alto índice de desnutrição. E, consequentemente, uma mortalidade de crianças muito grande. Inclusive, acima da média do país”, relatou.
Diante da situação, as lideranças começaram a buscar alternativas de geração de renda dentro do território e viram na plantação de grãos a possibilidade de trazer de volta as pessoas que saíram de suas aldeias em busca de emprego.
“Morrer de desnutrição não era tradição do povo Paresi, passar fome também não. Tínhamos tudo aquilo que era necessário para se viver bem aqui dentro. Mas a gente precisava se auto sustentar. E surgiu a grande ideia, audaciosa, de plantar a lavoura mecanizada de grande escala dentro da terra indígena Paresi”.
Começo da plantação em território indígena Paresi. (Foto: arquivo pessoal) Começo da plantação em território indígena Paresi. (Foto: arquivo pessoal) Começo da plantação em território indígena Paresi. (Foto: arquivo pessoal) Começo da plantação em território indígena Paresi. (Foto: arquivo pessoal) Começo da plantação em território indígena Paresi. (Foto: arquivo pessoal)
Sem recursos, eles iniciaram as atividades em parceria com produtores rurais da região. “As associações eram as responsáveis por monitorar e executar os contratos. Com o término das parcerias, nós fomos obrigados a criar a cooperativa. Hoje, nós estamos indo para o quarto ano de execução total da gestão da atividade”.
Na época das parcerias, a Funai (Fundação Nacional do Índio) determinou que os Paresi guardassem 50% do recurso que eram destinados a eles. Assim, a Coopihanama já nasceu com dinheiro em caixa.
“Quando acabou o nosso contrato, nós já começamos a cooperativa com fundo significativo. Graças ao trabalho com as parcerias, a gente aprendeu de fato como comprar, vender e fazer negócio. E o mais importante, fomos adquirindo crédito. Embora hoje a gente não consiga acessar créditos bancários de nenhuma instituição financeira, a gente entra na mesma modalidade de muitos produtores rurais que conseguem todo financiamento dos insumos para se fazer o trabalho”.
Como garantia, a safra é ofertada em penhor, pois não é possível dar a terra, que é de usufruto exclusivo dos povos indígenas, mas pertence à União, conforme os artigos 231 e 232 da Constituição do Brasil.
Emprego no território
Hoje, a produção de grãos emprega aproximadamente 250 trabalhadores diretos, dos quais 95% são indígenas. No período do plantio, o número de funcionários ultrapassa 300 pessoas, o que inclui a mão de obra não indígena, feita por trabalhadores terceirizados.
“Nós estamos com 70% dessas pessoas já contratadas no regime CLT. Pouquíssimos não indígenas prestam serviço para nós, mais naquelas áreas que não temos quantidade suficiente de pessoas formadas”, explicou.

‘Bolsa Família’ Paresi
Do dinheiro arrecadado, os Paresi também separam uma porcentagem para assistência social do próprio povo. Cada indígena que vive em uma das terras indígenas onde atua a Coopihanama recebe, em média, R$ 4 mil anuais como repasse social, o que Arnaldo comparou ao Bolsa Família, programa do Governo Federal que beneficia famílias carentes. Ao todo, a cooperativa destinou R$ 8 milhões para o programa neste ano.
“A cooperativa orienta e dá suporte para que os pais de família invistam o recurso em outros projetos de geração de renda como: criação de frango, psicultura, turismo e artesanato. O trabalho da lavoura mecanizada, além de manter o indígena trabalhando aqui dentro, também dá o suporte para que cada família inicie um projeto de vida que venha a gerar renda no futuro”, explicou.
Famato apoia e incentiva produtores indígenas
O presidente da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso), Normando Corral, afirmou que a instituição apoia o trabalho desenvolvido pelos Paresi e acredita que outros indígenas também podem desenvolver esse tipo de atividade.
“A Federação vê essa produção indígena com muito bons olhos. Entendemos os indígenas como qualquer outro produtor. Temos descendentes de alemães, italianos e tem o índio que é produtor também, que estão tendo sucesso na produção. Eles fazem a atividade econômica que vai beneficiar eles mesmos, não vão depender de ninguém e vão ter sua receita”, afirmou.
Produção agrícola é o futuro dos indígenas, diz Funai
Segundo a Funai, para a safra 2021-2022 a estimativa é de que a produção atinja mais de um milhão de sacas de soja. A plantação ocupa menos de 2% da área indígena total, que somam aproximadamente 1,1 milhão de hectares.
A Fundação ainda afirma que a produção de grãos, que considera como um etnodesenvolvimento, é o grande futuro para as Terras Indígenas do país, “pois possibilita aliar autonomia indígena, geração de renda e sustentabilidade para promover dignidade a comunidades em todo o Brasil”.
