Fogo e destruição: o impacto do ambiente na sobrevivência das araras-azuis
A sobrevivência das araras-azuis é algo que impacta toda a biodiversidade
As araras-azuis, assim como qualquer outra espécie, dependem integralmente de seu habitat saudável para sobreviver. A ausência dessas aves em áreas urbanizadas como Cuiabá, apesar de sua ocorrência em uma vasta região do Brasil central, desde o Pantanal até o centro-sul do Pará e oeste do Piauí e Bahia, ilustra essa dependência.

O Primeira Página conversou com o biólogo ornitólogo e professor da UFMT, Vítor Piacentini, que explicou algumas questões importantes em relação a esse panorama.
De acordo com o pesquisador, a destruição do ambiente pelo fogo, especialmente o Pantanal impacta diretamente a vida desses animais, forçando-os a abandonar seus territórios em busca de recursos essenciais.




” O principal problema é que as populações de araras-azuis, em condições normais, já ocupam praticamente todos os territórios disponíveis, atingindo a “capacidade de suporte” do ambiente. Isso significa que, ao serem deslocadas pelo fogo, essas aves dificilmente encontrarão novos locais para se estabelecer. As consequências são dramáticas:
- Escassez de alimentos: Sem território, a busca por comida se torna uma luta constante, colocando em risco a sobrevivência das araras.
- Territórios inadequados: Mesmo que encontrem refúgio em áreas periféricas, esses locais podem não oferecer os recursos necessários para a reprodução, como alimento suficiente, árvores para ninhos, além disso pode haver maior exposição a predadores.
- Superpopulação e competição: A busca por abrigo pode levar à concentração de araras em áreas já ocupadas, resultando em superpopulação, diminuição dos territórios individuais e competição por recursos, o que afeta negativamente a reprodução de todos os casais da região.
O impacto dos incêndios sobre as araras-azuis não se resume à mortalidade direta durante o fogo. Mesmo as aves que conseguem escapar das chamas sofrem com as consequências a longo prazo, que podem se estender por meses e até anos, comprometendo a sobrevivência e a reprodução da espécie”.
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O professor faz um alerta sobre a real atualidade, salientando que a falta de pesquisas e recursos para investigar a fundo esses impactos dificulta a compreensão da real dimensão do problema e a implementação de medidas eficazes para a conservação das araras-azuis não só em Mato Grosso, mas no Brasil.
“Todas as populações biológicas são dinâmicas e, se não houver impactos seguidos da ação humana, a tendência é que se recuperem. Então o impacto do fogo (ainda) é reversível em médio e longo prazo se o Pantanal for protegido, se não seguirem queimando, se não construírem mais barragens que seguram as águas dos rios que alimentam o Pantanal, se não desmatarem as florestas nativa”.
