Tamanduá-mirim choca pesquisadores com vida nas cavernas do Pantanal
Pesquisa inédita revela que além de subir em árvores e andar em duas patas, animal adota vida subterrânea
Um estudo inovador revelou que o tamanduá-mirim, conhecido por se movimentar tanto no solo quanto nas árvores, também adota hábitos subterrâneos. Pesquisadores descobriram que esses animais utilizam as tocas escavadas por tatus-canastra como abrigo, permanecendo nelas por longos períodos. Veja fotos e vídeos ao longo da reportagem.

Essa adaptação levanta questões sobre o comportamento da espécie e destaca a relevância da conservação dos tatus-canastra, considerados verdadeiros “engenheiros” do ecossistema pantaneiro.
O estudo, publicado no Journal of Zoology e conduzido por pesquisadores do Icas (Instituto de Conservação de Animais Silvestres) e da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), revelou que os tamanduás-mirins descansam e até dormem dentro das tocas escavadas pelos tatus.

Alguns indivíduos permaneceram abrigados por mais de 22 horas, possivelmente aproveitando a estabilidade térmica dessas cavidades subterrâneas.
As tocas podem atingir até 5 metros de comprimento e 1,5 metro de profundidade, proporcionando um refúgio seguro contra as temperaturas extremas do Pantanal.
Os registros indicaram quatro principais comportamentos dos tamanduás ao interagir com as tocas: investigar a entrada, explorar o interior, descansar e dormir.

O uso frequente das tocas como refúgio sugere que esses mamíferos adotam estratégias para conservar energia e manter sua temperatura corporal estável.
Fonte de alimento para o tamanduá-mirim

Os pesquisadores também sugerem que as tocas podem representar um ponto estratégico para alimentação.
Tamanduás-mirins se alimentam de formigas e cupins, insetos que frequentemente ocupam essas cavidades.
Vídeos capturados durante o estudo mostram os animais farejando e arranhando a entrada das tocas, o que pode indicar uma busca ativa por alimento.
A pesquisa foi realizada entre os municípios de Corumbá e Aquidauana (MS), com o apoio do Projeto Tatu-Canastra, do ICAS, em parceria com a Fazenda Baía das Pedras.
Há mais de uma década, os pesquisadores utilizam armadilhas fotográficas para monitorar o comportamento da fauna pantaneira, o que tem permitido uma melhor compreensão das interações entre diferentes espécies.

O estudo recebeu financiamento da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e de zoológicos que apoiam o Programa de Conservação do Tatu-Canastra.
Entre os cientistas envolvidos estão Mateus Yan, Arnaud Desbiez, Alessandra Bertassoni UFG (Universidade Federal de Goiás) e Gabriel Massocato, coordenador do Projeto Tatu-Canastra no Pantanal.
A descoberta reforça a importância dos tatus-canastra para o equilíbrio ecológico do Pantanal. Suas tocas não são apenas essenciais para sua própria sobrevivência, mas também oferecem refúgio para diversas outras espécies.