A Freira 2: terror avança, mas continua aquém de A Invocação do Mal
Filme continua a história de A Freira e mostra um novo combate entre a entidade do mal Valak e a irmã Irene, desta vez, num colégio interno católico na França
Confesso que fui ao cinema, à noite, assistir a A Freira 2 (The Nun 2, EUA, 2023) com muito medo. Não dos sustos. Mas de ser novamente enganado pelo demônio Valak.
Sim, enganado.
Porque o primeiro filme desperdiçou completamente a ótima vilã de A Invocação do Mal 2 (The Conjuring 2, EUA, 2016) ao levar a irmã Irene (Thaissa Farmiga) – uma espécie de caça-fantasmas da Igreja com certos poderes sobrenaturais – a confrontar a freira sinistra num convento da Romênia onde um portal para o inferno foi descoberto.
Na ocasião, lamentei, sinceramente, cada minuto desperdiçado em frente à tela. O primeiro A Freira, para mim, é um filme totalmente descartável.
Mas então por que insisti em ver a sequência?
Porque James Wan tem crédito. O diretor dos dois primeiros Invocação do Mal, de Jogos Mortais e de Sobrenatural sabe como fazer terror. Tanto que A Freira 2 era um dos filmes mais aguardados do ano.
Wan aparece nos créditos como produtor.
Com a fé em alta, fui ao cinema no dia da estreia. Sessão das 21h, filme legendado. A introdução é bem legal. Suspense, criança assustada. Morte terrível de padre. Opa! Vai dar bom… pensei.
Outro indicativo grande de que o filme prometia foi a cena em que uma das freiras conta o que aconteceu no primeiro filme. Ótimo. Quem não viu o primeiro ficou livre de ter de passar pelo martírio. Apesar de ser uma sequência da história, A Freira 2 pode ser visto por quem não viu o primeiro.

Na obra atual, o Vaticano manda a irmã Irene investigar a matança de religiosos. Todos mortos de forma horrível. Ela, então, segue para um internato católico na França, onde acredita estar o demônio.
A primeira metade do filme, mostrando a atuação de Valak na escola, serve para pessoas que se assustam facilmente.
O diretor Michael Chaves abusa dos efeitos sonoros para fazer os desavisados saltarem das cadeiras.
Não gostei. As cenas são nitidamente criadas só com esse propósito. Não há nenhuma justificativa para que os personagens passem pelas situações apresentadas.
Pronto! – pensei.
– Fui enganado de novo pelo mal. Caí no conto da Freira duas vezes.
Quando já me conformava em ter de escrever sobre mais um filme decepcionante, Valak dá uma forcinha.
A segunda metade de A Freira 2 realmente faz a película engrenar. A cena envolvendo o bode do capiroto libera a adrenalina.

E a explicação para a freira demoníaca estar no colégio e para os poderes da irmã Irene existirem convence.
Saí satisfeito do cinema.
É um filmaço? Longe, muito longe disso.
Mas deu um upgrade considerável em relação ao primeiro. É possível se divertir.
Situação semelhante ao que aconteceu com Annabelle, o filme da boneca possuída que também faz parte do universo de Invocação do Mal. Já escrevi aqui sobre o segundo filme – pra mim, ainda superior a A Freira 2. Vale conferir.
Valak tem potencial para continuar assustando? Sei não. O número 3 não tem feito bem à franquia criada por James Wan.
Annabelle 3 é esquecível. Invocação do Mal 3 (do mesmo diretor de A Freira 2), frustrante. O 4 tem estreia prevista para 2024 com muita expectativa já que há especulação que o próprio Wan assuma a direção.
Por falar em expectativa, um outro gigante da demonologia vai ganhar as telas mês que vem.
Antes de A Freira 2, os espectadores são apresentados ao trailer de O Exorcista: o Devoto. Sim, é uma sequência do filme de terror mais assustador de todos os tempos. Há referências diretas a Regan, a menina possuída no clássico de 1973. Tanto que a mãe dela, Chris MacNeil (Ellen Burstyn), aparece como uma consultora do casal que tem as duas filhas atormentadas pelo demônio.
Difícil saber se terá o mesmo impacto de 50 anos atrás.
Mas, se for melhor que as sequências descartáveis que o capitalismo impôs à obra-prima de Willian Friedkin, vai valer a pena.
Torço muito por isso.
O terror precisa ser respeitado por quem decide conviver com ele.
E, nesse caso, o mal não pode ser, nunca, sinônimo de ruim.