Creepypastas do Abominável

Contos e histórias contadas na internet viralizam e se transformam em lendas urbanas; este é dos assuntos discutidos em podcast de terror

Em 1971, o ator símbolo do horror, Vincent Price, protagonizou O Abominável Dr. Phibes. Musicista, ele sofre um acidente enquanto viaja para encontrar sua esposa. Ela também fora vítima de um desastre e estava no hospital para se recuperar.

Ela não resiste. E Phibes, dado como morto, sobrevive com deformidades e, revoltado com a perda da amada, parte para a vingança contra os médicos que não a salvaram.

Foi deste clássico que o designer e roteirista de histórias em quadrinhos, Rodrigo Ramos, tirou o nome para um podcast muito legal sobre indicações de filmes e séries de terror.

O Abominável Podcast está disponível nas principais plataformas de streaming de música e volta justamente nesta sexta-feira após um período de férias.

Rodrigo tem como coapresentador Dane Taranha, radialista, apresentadora e, claro, igual ao colega, fã de filmes sanguinolentos.

Em episódios semanais, os dois falam sobre o universo do medo.

Cinquenta episódios já estão disponíveis. Eles têm duração média de 30 minutos.

O último deles fechou um balanço de 2023 com os piores filmes do ano.

Os dois elencam pérolas que já citei em colunas anteriores como Ursinho Pooh – Sangue e Mel e O Exorcista – o Devoto.

Antes, falaram das obras que consideram as melhores do ano passado. Também estão na lista filmes citados anteriormente aqui como Evil Dead Rise e When Evil Lurks (que, aliás, chega aos cinemas brasileiros em 1° de fevereiro! Se você gosta de filmes de possessão, quer novidade no tema e se propõe a ficar com imagens marcantes na cabeça por anos, não deixe de assistir.

Você pode revisitar a história do filme aqui: Um argentino que dá medo: e eu não estou falando do Milei

Dane e Rodrigo mostram uma sintonia perfeita. É nítido o respeito e carinho que existe entre eles. Não há um querendo dizer que conhece mais que o outro. E Dane dá um show com um sotaque paulistano clássico e um senso de humor delicioso. Comparo o estilo dela com a de outra Dani, a Calabresa.

E nessa vibe eles falam do sanguinolento Eli Roth (episódio 48), diretor Cabana do Inferno, O Albergue e do recente Feriado Sangrento (que também bateu ponto em Toda Sexta é 13). Comentam obras de Stephen King adaptadas para o cinema (episódio 37). De filmes em que a comida se torna a vilã, com destaque para O Menu.

Filmes que se assemelham à série Black Mirror — por também colocaram a tecnologia em situações desfavoráveis aos humanos (episódio 29). E pra quem quer encarara a estreia do fim de semana nos cinemas, Mergulho Noturno, com uma piscina assassina, tem um episódio só com objetos amaldiçoados, que vão de sofá à camisinha (ep. 46) Enfim, muitos assuntos legais e com várias dicas para explorar o gênero.

No episódio 33, a dupla recebeu um convidado: Daniel Pires. O influenciador é famoso por fazer lives que chegam a 3 milhões de visualizações.

Elas são sobre creepypastas.

Mas o que é isso?

Creepypastas são a versão moderna das lendas urbanas. Elas nascem como contos ou histórias contadas na internet como se fossem verdade e passam a habitar o universo maldito. Histórias de terror que tem o único objetivo de viralizar e alcançar, assim, o maior número de pessoas amedrontadas. O Homem Torto que aparece em Invocação do Mal 2 é um exemplo de história fictícia que acaba sendo levada a sério. E que flerta com o cinema.

Como explica o site Jovem Nerd, “o nome ‘creepypasta’ surgiu com a junção do termo “copypasta” (textos que foram copiados e colados) com a palavra em inglês ‘creepy’, que significa ‘arrepiante’ em tradução livre”.

Dane, Rodrigo e Daniel expõem vários casos e filmes com a temática. Dentre eles Slender Man – Pesadelo sem Rosto, de 2016. Essa, talvez, a creepypasta mais famosa porque quase causou a morte de uma menina.


O monstro sem rosto e braços alongados surgiu em 2009 em um fórum de discussão da internet. A partir daí, virou um jogo de videogame famoso. Quem não se aventurou ainda nesse game, é desesperador andar pela floresta à noite e topar com o dito cujo doidinho pra te matar.

Só que duas adolescentes norte-americanas não souberam diferenciar a diversão fictícia da realidade. O caso foi em 2014, na cidade de Waukesha, no estado de Wisconsin. Morgan Geyser completava doze anos no dia 30 de maio. Chamou as amigas da mesma idade, Anissa Weier e Payton Leutner para comemorar.

As três dormiram na casa da aniversariante e na manhã seguinte foram brincar num bosque.

Num bosque! Quem mora no bosque segundo a lenda urbana informatizada?

Sim. Slender Man.

E a menina era fã e seguidora do bicho.

Morgan pegou uma faca de cozinha e esfaqueou Payton dezenove vezes como um sacrifício para o monstro. Ela achava que assim subiria na hierarquia dos adoradores do espectro sobrenatural.
Milagrosamente, Payton sobreviveu e se arrastou até a estrada onde conseguiu ajuda. Ela se recuperou após dias internada no hospital.

Morgan Geyser foi diagnosticada com esquizofrenia precoce e Anissa Weier, com transtorno delirante. Elas enfrentaram o tribunal e tiveram de ser internadas em instituições psiquiátricas. Difícil saber se ainda cumprem pena pela tentativa de homicídio ou já saíram. Há muitas reportagens de sites norte-americanos que tentaram localizar as garotas recentemente e sem sucesso.

Outra creepypasta famosa na internet é a do Baby Blue (Bebê Azul). Reza a lenda que a mãe dele teve depressão pós-parto e não suportava a criança. Porém, era vidrada nos olhos azuis do filho. Certo dia, com a criança no colo e na frente do espelho, ela teve um ataque. Quebrou o vidro e pegou os cacos para arrancar os olhos do bebê (pesada essa!). Evidentemente, ele morreu e a mãe, ao perceber o que fez, suicidou-se em seguida. Uma história triste de mais e tem gente que ainda quer revivê-la.

Se você deixar um espelho embaçado (no banheiro, por exemplo, com o vapor do chuveiro), escrever baby blue com o dedo e balançar os braços algumas vezes (já ouvi 3 e 5) como se o bebê estivesse em seu colo, o falecido volta à vida. E bem nos seus braços! Aí se você, com o susto, deix-lo cair, já era. Vai morrer. Se o bebê não gostar de você, vai arranhar teus braços. É uma versão mais elaborada da Maira Sangrenta, da “Desgraça Pelada” e todas aquelas lendas sobre entidades que aparecem quando repetem o nome delas três vezes em frente ao espelho.

As creepypastas são divertidas quando encaradas do ponto de vista da criatividade de quem as elabora.
Mas é preciso saber que se sempre há quem use isso para o mal verdadeiro.

É o caso da Momo. A escultura do japonês Keisuke Aiso era para ser apenas uma obra de arte discutível: uma mulher com rosto horroroso e corpo de galinha. Se ele não tinha pensado nisso, deveria assistir a mais filmes de terror porque ela é uma personagem pronta pra assustar.

Alguém, no entanto, teve a diabólica ideia de animar a escultura e dublá-la em vídeos espelhados pela rede dando ordens a crianças para se automutilares.

Uma irresponsabilidade gigantesca para reafirmar que o ser humano não tem mesmo limites para a falta de empatia com o semelhante.

Momo inspirou um filme chamado O Meme do Mal. Sinceramente, não tive coragem de assistir. Não por medo. Mas por achar totalmente descartável.

Ao contrário do Abominável Podcast. Que é essencial para os fãs de terror. Confesso que estou viciado e à espera de novos episódios.

coluna alex
Dane Taranha

Há muitos filmes e séries indicados pela dupla que eu não conhecia. E não se preocupe em ouvir com caneta na mão ou com o teclado do celular aberto para anotar as dicas. No Instagram deles, é possível ver as listas das indicações episódio por episódio.

Rodrigo Ramos
Rodrigo Ramos

Não precisa seguir a ordem cronológica.

E se gostou do assunto creepypastas, vale começar por esse episódio.

Aproveitando, vou deixar uma pra vocês aqui.

Era uma vez uma coluna semanal de um portal de notícias publicada sempre às sextas-feiras. O autor falava sobre terror. Certo dia, ele escreveu sobre creepypastas. Misteriosamente, algumas das pessoas que a leram até o fim passaram a ter visões perturbadoras sempre antes de dormir.

Foi constatado que os sintomas só aconteciam com quem não lia as colunas seguintes. Para deixar de ver as imagens assustadores do mundo espectral, descobriu-se que o amaldiçoado deveria abrir o portal de notícias e repetir: “Toda Sexta é 13” por 13 vezes, ler o conteúdo até o final e voltar a repetir a frase anterior pelo mesmo número de repetições.

Isso, por 13 semanas seguidas! Só assim, se livrava das visões.

Agora, quem continuo a ler a coluna sem interrupções, não sofreu nadinha.

Aí é só escolher: leitura agradável ou visões perturbadoras.

Espero que se torne viral.

Não a maldição, claro, mas o hábito de continuar aqui comigo.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toda Sexta é 13, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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