Ginger Snaps: o uivo da adolescência

Sábado tem lua cheia, cenário ideal para curtir um bom filme de lobisomem ou, neste caso, de lobismulher

Diz a mitologia, que na Grécia Antiga, o rei Lyacon, da Arcádia, enciumado com a popularidade de um estrangeiro perante seus súditos, convidou o cidadão para um jantar em seu palácio. Ele ouvia que o convidado, era, na verdade, um deus.

Para ter certeza, resolveu fazer um teste macabro. Iria servir, no banquete, carne humana. Se fosse mesmo um deus, o rapaz saberia e se recusaria a comê-la.

O anfitrião deu um azar danado. Não é que o forasteiro percebeu, e pior, revelou-se ser nada mais nada menos que Zeus, a principal divindade do Olimpo.

O deus ficou tão bravo que incendiou a moradia e transformou Lyacon num lobo.

Pronto.

Nascia a lenda do lobisomem.

Reprodução de início da cena de transformação em Um Lobisomem Americano em Londres, de 1981 (Foto: Reprodução)
Reprodução de início da cena de transformação em Um Lobisomem Americano em Londres, de 1981 (Foto: Reprodução)

A lua acabou introduzida nessa ideia por significar mudanças. Ela muda a maré, o ciclo menstrual das mulheres, influencia no crescimento dos cabelos. Quando está cheia, é a luz da loucura.

Com o tempo, outros elementos foram sendo introduzidos a esse folclore. E o “homem que se transforma em lobo” teve sua metamorfose ligada a várias interpretações: doenças, liberdade, inteligência, instinto primitivo e até adolescência.

Claro! Que transformação é mais radical que a da adolescência.

E é esse recorte que a coluna de hoje fará no vasto universo do Lobisomem.

Ginger Snaps ou A Possuída (infeliz título em português) é um filme canadense de 2000 que atingiu incríveis 90% de aceitação dos críticos no site especializado em cinema Rotten Tomatoes.

As irmãs Fitzgerald, Ginger e Bridget são duas figuras estranhas.

Passam o dia pensando em como vão tirar a própria vida já que a sociedade não as merece.

Elas chegam a apresentar um trabalho de escola só com fotos de várias maneiras como pensam em tirar a própria vida. (Por favor, se você tem algum tipo de pensamento como esse, entre em contato com o CVV, o Centro de Valorização da Vida, de sua cidade. Sua vida importa muito!)

As duas enfrentam bullying na escola.

E desconforto com os pais. Apesar da idade, 15 e 16 anos, ambas não menstruaram e precisam aguentar a mãe falando sobre isso com um distante pai na mesa de jantar quase todas as noites.

De repente, uma ameaça toma a cidade onde vivem. Cachorros da vizinhança começam a aparecer destroçados, o que leva os moradores a um lockdown.

Claro que, como adolescentes, elas não vão cumprir.

Ginger, que começa a ficar mais saidinha quando passa a ser crush de um menino da escola, resolve sair de casa à noite. A irmã a segue porque fazem tudo juntas.

O ataque é inevitável.

A cena, desesperadora. Na escuridão, Ginger é arrastada enquanto Bridget tenta achar a irmã em meio aos gritos.

Apesar da gravidade do ataque, Ginger não morre.

Ginger Snaps (Foto: Reprodução)
Ginger Snaps (Foto: Reprodução)

A partir disso, o filme traça um paralelo interessante entre a transformação da menina em lobo ao mesmo tempo que vai abandonando a adolescência para se mostrar uma mulher extremamente sensual.

A falta de confiança da puberdade vai embora. E de caça, Ginger passa a predadora.

As roupas largas dão lugar a camisetas apertadas e decotadas.

Ela, agora, é o centro das atenções da escola.

E o pesadelo da irmã.

Bridget ficou solitária e tem de lidar com os ataques de Ginger.

Muitos deles sanguinolentos e mortais. Como parar a pessoa que mais ama sem expô-la às autoridades?

Vale até mesmo se passar pela lobismulher na tentativa de encontrar uma cura para a parente.

Ginger Snaps merece todo o destaque que teve por inovar.

Enquanto a maioria dos filmes de lobisomem se resumem a apenas mostrar uma fera incontrolável, a obra canadense vai mais fundo ao discutir as mudanças e os perigos que elas trazem.

Aqui, as mudanças não são apenas numa noite de lua cheia e com duração de poucos minutos. Ela acontece aos poucos, como na adolescência. Primeiro, no comportamento, depois nos pelos que aparecem pelo corpo. A dentição. A fome. E, por fim, claro, a transformação.

O jeito como a transmissão acontece também é digno de nota.

Não é apenas uma mordida. Sexo – em uma clara alusão às Infecções Sexualmente Transmissíveis – também pode te transformar num lobisomem.

O filme pode ser encontrado no serviço de streaming Darkflix+ e rendeu duas continuações.
Agora, se não se interessou pelo enredo, mas quer curtir um filme de lobisomem nesta lua cheia, segue uma listinha com ótimas opções.

LOBISOMEM NA NOITE (2022)
Esse filme faz parte do universo da Marvel e, por isso, encontrado na Disney+. Gael Garcia Bernal no elenco que faz parte de um grupo de caçadores de monstros que se reúne após a morte de seu fundador pra decidir quem vai ficar com a posse de um artefato especial. O vencedor será aquele que conseguir matar uma fera trazida especialmente para o evento.

UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES (1981)
Clássico de John Landis, tem uma das transformações mais dolorosas e perfeitas que o cinema já mostrou. Dois amigos norte-americanos decidem conhecer a Inglaterra. Chegam a uma cidadezinha com uma recepção fria dos moradores. Ao deixarem um bar, são atacados por um lobisomem. Um deles, contaminado, vai se transformar no bicho.

UM LOBISOMEM AMERICANO EM PARIS (1997)
O filme é bem legal e está mais para uma comédia romântica que para terror. Um turista norte-americano salva uma moça que tentava pular da Torre Eiffel. Eles se apaixonam até que ele descobre que a namorada é filha de um lobisomem e herdou, geneticamente, a licantropia.

GRITO DE HORROR (1981)
Mais um clássico. Dirigido por Joe Dante (Gremilins), The Howling é um splatter (filme com sangue jorrando pela tela) que acompanha uma popular âncora de TV. Karen é atacada por um serial killer que ela entrevistaria e é orientada a procurar um refúgio tranquilo para descansar e se recuperar do trauma. Ela escolhe, no entanto, um lugar repleto de lobisomens.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toda Sexta é 13, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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