Imaculada: uma ótima discussão num filme raso
A talentosa Sydney Sweeney vive uma freira que pode ser a nova Virgem Maria em terror ambientado num convento da Itália; professor de La Casa de Papel vive padre
Chegou ao serviço de streaming o filme Imaculada (EUA, 2024), que tem como protagonista a atriz Sydney Sweeney.
Uma das revelações da nova geração de atores, ela acabou de completar 27 anos e já agregou ao currículo duas indicações ao Emmy de melhor atriz coadjuvante por participações nas séries Euphoria e The White Lotus.
Ainda acumula a função de empresária. É dona de uma produtora de cinema.
De olho no protagonismo cada vez mais batendo à sua porta, Sweeney decidiu atuar em mais uma história de terror ambientada num convento.
O cenário – recheado de mistérios devido a clausura de muitas de suas moradoras – voltou a ganhar atenção dos estúdios após o invocaverso catapultar A Freira (EUA, 2018) à condição de filme próprio.
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Em Imaculada, a primeira cena deixa claro que o convento escolhido pela doce Cecília (Sweeney) para fazer seus votos não é de Deus.
A segunda cena confirma que a noviça que tenta escapar de uma horda de freiras está bem mais próxima do inferno que do céu.
Metáforas à parte, Imaculada se diferencia dos demais filmes justamente em seu argumento.

O local reserva um segredo que teria tudo para levantar uma discussão gigantesca sobre os embates entre a fé a evolução da ciência.
É incrível pensar o quanto o mundo ficaria dividido se fosse possível fazer o que a direção do convento propõe.
Nas mãos de um bom roteirista, Imaculada poderia, facilmente, ascender a um dos melhores filmes do gênero.
Mas, da maneira como feito, não passa de uma boa diversão pra um sábado à noite.
Cecília é norte-americana, mas acaba num convento da Itália, onde há uma grande relíquia religiosa: um dos pregos usados na crucificação de Jesus Cristo.
A explicação? Ela sofreu um acidente na adolescência, acredita ter sido salva por intervenção divina e que deve ao Salvador uma missão especial de vida.
Essa missão é revelada no convento: ela vai se tornar a nova Virgem Maria.
O padre Tedeschi, que a recrutou, é vivido pelo ator espanhol Álvaro Morte, o professor da série La Casa de Papel.
Aliás, é impossível não olhar pra ele e não imaginar que ele terá um plano infalível pra se dar bem.
O convento é o Nossa Senhora das Dores. Construído em 1632 sobre as catacumbas de Santo Estevão, para abrigar freiras em seus últimos dias de vida.
Algumas têm câncer, outras Alzheimer.
As mais novas cuidam das mais velhas e dedicam toda a sua vida à servidão.
Cecília precisa fazer votos de pobreza, castidade e obediência.
Mas logo na primeira noite após seu juramento, é brindada com um de muitos banquetes que nada têm de miséria.
Furos assim do roteiro incomodam.
A obra não se define se é um filme sobrenatural ou não.
Até a metade parece ser uma coisa, depois, outra.
Também deixa muita dúvida se estamos vendo mais um filme dos inúmeros que surgiram recente sobre satanismo. (Ah! O Exorcista – o Devoto, o que você fez?)
As peças desse quebra-cabeças, ao invés de irem se encaixando, vão sendo descartadas pela direção.
E o que surge é mais uma amostra do poder da final girl. Cecília, tão meiga e devotada, parte pra porrada.
Imaculada está disponível no Prime Video e conta com um final bem polêmico. Prepare-se! Você teria coragem de fazer o que ela fez?
Quem não se incomodar com questões mal resolvidas e com as chances perdidas de aprofundamento dos temas, vai assistir a um filme ok. Na mesma linha de qualidade das últimas películas envolvendo freiras.
Agora, se quiser, mesmo, assistir a um filme perturbador envolvendo essas servas do catolicismo, indico Os Demônios, de 1971, disponível na Darkflix.

Não há freiras das trevas, ligadas ao capiroto, mas sim, reprimidas sexualmente durante o século XVII.
Uma delas, Jeanne des Anges (Vanessa Redgrave) fica obcecada pelo padre Urban Grandier (Oliver Reed).
E ao não ser correspondida, faz o terror na vida do sujeito que não é lá muito seguidor da doutrina.
Acusado de bruxaria pela mulher, ele come o pão que o diabo amassou.
Des Anges é uma freira que dá medo.
As demais, por enquanto, divertem.
Se o cinema não melhorar os roteiros envolvendo essas religiosas, talvez seja melhor deixá-las em paz.
Rezando para um mundo livre do mal.
Seja dentro ou fora dos conventos.