Morte Morte Morte ao spoiler!
Jamais estraguem o direito que as pessoas têm de ser surpreendidas...
Há filmes que serão eternamente lembrados pelos finais surpreendentes. Nesse seleto rol estão obras-primas como Psicose, O Sexto Sentido e Os Outros.
Apesar da história envolvente, da qualidade dos atores, do roteiro, cenários, tudo perfeito… imagino como seria assistir a esses filmes já sabendo o que acontece no final. Privar alguém de ter essa surpresa é de uma maldade digna de filme de terror. No mau sentido da expressão aqui.
Lembro quando O Sexto Sentido estava no cinema e um colega de redação, o Clayton, chegou pra mim e disse:
– Você viu O Sexto Sentido?
– Vi, ontem. Filmaço.
– Eu não vi. Mas já sei o final… É ….
Ele sempre foi um espalhador de spoilers, mesmo antes dessa palavra existir no nosso vocabulário diário.
Eu disse:
– Caramba! Como você soube? Mas não vai ficar falando pras pessoas que não assistiram senão você vai estragar o filme.
To spoil, em inglês, significa justamente isso: estragar.
Ele disse, todo entusiasmado:
– Há há! Eu sabia! Claro que eu vou falar pra todo mundo…
Nesse caso, se lascou. Alguém sacaneou o Clayton contando um final totalmente diferente. Eu confirmei a mentira e, com certeza, ele passou muito carão e acabou poupando vários espectadores.
Mas por que lembrar de um filme de 1999? Bom, primeiro, porque não dá pra esquecer da obra de M. Night Shyamalan. Quem não viu e, principalmente, não sabe sobre o final, corra pra algum serviço de streaming, locadora virtual e se divirta com uma aula de suspense.
E, segundo, porque há um filme recente no catálogo da HBO Max que alcançou um certo sucesso de público e crítica – nada parecido com aqueles citados no início dessa coluna, claro – e que vale muito uma espiada.
Mas aqui vai um alerta: não de spoiler! Mas de que os personagens são muito chatos. Ao meu ponto de vista. Muitas pessoas poderão achar que chato é o colunista por pensar isso.
A história mostra duas amigas ricas e jovens num final de semana numa mansão com amigos de mesmas faixas etária e monetária. São influencers – e no filme – vazios que se preocupam apenas em curtir a vida e aumentar o número de likes. A noite é regada a bebidas e drogas até que um dos presentes sugere que joguem Morte Morte Morte.

É bem parecido com aquele jogo que muitos aqui devem ter jogado onde um é escolhido o assassino e precisa matar as pessoas piscando enquanto um detetive tenta pegar o flagrante.
O jogo começa e não demora muito para uma tempestade mudar a história. As luzes se apagam e os jovens se espalham. Bee, a personagem principal, se depara com um dos convidados morto, com um belo talho na garganta.
Pronto. O medo se espalha na mansão. As amizades falsas mostram a verdadeira face de cada um enquanto o jogo se transforma em realidade. Quem é o assassino?
Morte Morte Morte seria apenas mais um slasher comum tentando beber na fonte de sucesso de Pânico. Mas o desfecho surpreendente e inteligentíssimo deixa uma mensagem tremenda para quem faz do celular e da rede social um meio de vida.
O filme tem 95 minutos de duração. Se você conseguir segurar seu ranço da futilidade dos personagens – ok, nesse caso, como é filme, vale até torcer pela morte de alguns – e chegar até o final, você vai rir muito e se admirar com o responsável pelas mortes.
Lembro que eu pensei:
— Ah! Não acredito!! Estava tudo tão fácil de ser resolvido. Sem Psicose nenhuma, sem que Os Outros tivessem que morrer. Bastava acionar O Sexto Sentido.
Mentira. Não pensei isso, não. Na hora só fiquei de boca aberta rezando para que todas as outras pessoas que assistissem ao filme ficassem com ela fechada.
Jamais estraguem o direito que as pessoas têm de ser surpreendidas. E nem o dos autores de guardarem surpresas pro final.
Morte Morte Morte ao spoiler.