Não Fale o Mal na sexta-feira 13

Hollywood não pode ver um filme estrangeiro bem-sucedido na crítica sem adaptá-lo com atores que falam inglês. Precisa disso?

Os cinemas brasileiros receberam nesta semana de sexta-feira, 13, cópias de Não Fale o Mal, refilmagem de Speak no Evil, uma produção dinamarquesa e holandesa de 2022.

Eu assisti ao original e tenho a segurança de afirmar que é um dos melhores filmes de suspense que vi nos últimos anos.

Duas famílias se conhecem numa viagem ao exterior.

Uma delas, da Dinamarca. Outra, da Holanda.

Depois de uma temporada de confraternização, os dinamarqueses recebem o convite para visitar os novos amigos em sua terra natal.

Ora, eles foram tão simpáticos e os filhos deles se deram tão bem, por que não?

Porque tudo vai desmoronar em um filme angustiante em que você sabe o tempo todo que esse novo encontro não vai acabar bem.

Mas a forma como as situações são colocadas na tela num constante morde e assopra nos leva a não culpar os visitantes por permanecerem na casa.

É totalmente possível – que Deus me livre – estar na situação e fazer tudo igual.

O protagonista é passivo. Sua família é formada por pessoas boas, que não só não falam, mas não pensam no mal. Isso faz com que as suspeitas sobre as reais intenções dos anfitriões logo sejam desfeitas e não passem de mal-entendidos.

O desfecho é brutal e coloca cada um de nós como espectadores de uma situação de impotência. A vontade é entrar na tela para evitar, o que, inevitavelmente, vai acontecer.

Simplesmente brutal.

Como eu gostaria que todo o mercado internacional de filmes pudesse ter contemplado essa obra da forma como foi pensada e exibida nos cinemas e nos streamings que se dignaram em dar a chance aos adoradores do gênero que nos faz roer as unhas até o talo.

Infelizmente, no Brasil, nenhum dos streamings mais conhecidos disponibilizou Speak no Evil em seus catálogos.

Nós, brasileiros, somos acostumados com legendas.

Os norte-americanos, no entanto, não são.

Speak no Evil original, produção dinamarquesa/holandesa é tensa e tem final de tirar o fôlego (Foto: Reprodução
Speak no Evil original, produção dinamarquesa/holandesa é tensa e tem final de tirar o fôlego (Foto: Reprodução

A dublagem, recurso cada vez mais presente nos filmes exibidos nas telonas por aqui, também não está entre as preferências do maior mercado consumidor do cinema.

Então, filmes geniais como o francês Mártires (2008) ou o espanhol Rec (2007) ganham versões com atores que falam inglês e sem qualquer esforço para superar os originais, como se as boas avaliações recebidas pelos antecessores fossem a garantia de sucesso em escala global.
Na verdade, é um desserviço aos cinéfilos.

Tenho pena de quem não teve a chance de assistir ao argentino O Segredo dos seus Olhos (2009) e achou que ele se resumia ao que foi apresentado no remake Olhos da Justiça, de 2015. Nem o elenco estelar com Juila Roberts à frente conseguiu um décimo do que Ricardo Darín e equipe entregaram nesse suspense magnífico e, com certeza, um dos melhores que já vi.

Essas refilmagens, feitas de olho em gordas bilheterias, nem sempre garantem esse sucesso.

O Oldboy, de 2013, não chega aos pés do coreano de 2003, e amargou um retumbante fracasso de público.

Mas é possível que os estúdios apostem em filmes legendados nos mercados de língua inglesa?

O também sul-coreano Bong Joon-Ho acredita que sim.

Ele é o diretor de Parasita (2019), um fenômeno que tinha arrecadado, até fevereiro de 2020, US$ 175 milhões nas bilheterias.

A obra-prima ainda conquistou 4 estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme, disputando com outros falados em inglês.

Joon-Ho reconheceu seu feito e o usou como ferramenta para tentar impulsionar a prática de levar mais filmes estrangeiros aos cinemas norte-americanos. Sem refilmagens medíocres.

Na cerimônia do Oscar, o diretor fez questão de fazer seu discurso na língua natal com uso de uma intérprete.

Ele disse que superar a barreira das legendas faria o público norte-americano descobrir filmes incríveis.

Incríveis como Speak no Evil.

Que agora chega como oportunidade para quem não encontra o original.

O diretor James Watkins (do bom A Mulher de Preto), em entrevistas, disse que quis fazer um filme mais leve que o antecessor. Ele tem até elementos de comédia.

Vi críticos dizerem que é um filme B com produção A, mas que isso não é problema.

O Rotten Tomatoes está com 88% de aprovação no tomatômetro. O pipocômetro, que avalia a opinião do público, ainda está zerado porque a estreia é simultânea entre Brasil e EUA.

O outro James do filme, o ator, James McAvoy, costuma entregar ótimos papéis.

Na sexta-feira 13, o terror Não Fale o Mal, com James McAvoy, é boa pedida para curtir a data nos cinemas e analisar se Hollywood está certa em recriar filmes de língua não inglesa que fazem sucesso mundo afora. (Foto: Reprodução)
Na sexta-feira 13, o terror Não Fale o Mal, com James McAvoy, é boa pedida para curtir a data nos cinemas e analisar se Hollywood está certa em recriar filmes de língua não inglesa que fazem sucesso mundo afora. (Foto: Reprodução)

Ele esteve assustador em Fragmentado, de M. Night Shayamalan.

Vou assistir? Claro que sim.

E, provavelmente, falado em português.

Infelizmente, está cada vez mais difícil termos cópias legendadas nas salas de cinema.

Que em português, inglês ou dinamarquês, o novo Speak no Evil possa falar a linguagem do bom cinema.

Feliz sexta-feira 13 para todos nós!!

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toda Sexta é 13, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Comentários (1)

  • João

    Qualquer filme bom é destruido pelos dubladores brasileiros.

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