O Deus Louco do Stop Motion
A técnica que fotografa bonecos em movimentos milimétricos está em dois filmes de terror que valem uma olhada nesta Sexta-Feira, 13
Toda sexta é 13!
Mas, hoje, pela segunda vez no ano (a outra foi em setembro), coincidiu que este número do mês caísse justamente no quinto dia da semana.

Leia mais
Sexta-feira, 13. A data já foi considerada por muitos como dia de azar. No catolicismo, tem a ver com o dia da semana em que Jesus foi crucificado. Na mitologia nórdica, Loki não foi convidado para um jantar onde estavam 12 deuses. O irmão maligno do Thor fez com que um dos deuses matasse outro, só de sacanagem. Aí o 13 ficou marcado como número maldito.
Sexta-Feira, 13. Tem mais um monte de crenças que envolvem desde cavaleiros templários a bruxas que ligam a data à má sorte. Dia de azar. Que bobagem.
Baita sorte que a gente tem de muitas pessoas que ainda não foram cooptadas pelas garras do terror, abrem a mente para entrar na vibe e acabam se identificando com o gênero.
E hoje vou falar de uma técnica muito legal que também é usada para filmes de terror. Quem nunca se encantou com O Estranho Mundo de Jack, A Noiva Cadáver, Coraline?
Esses filmes foram feitos em stop motion (movimento parado), ferramenta que surgiu, praticamente, junto com o cinema, como precursora dos efeitos especiais. Se você precisava de um monstro num filme, antigamente, eles eram feitos de massinha e muita paciência.
Para dar movimento às criaturas, os realizadores precisavam usar um ciclo quase interminável.
Por exemplo, se tinham de fazê-lo andando por uma floresta, eles colocavam o boneco numa determinada posição e cenário e o fotografavam. Com o take capturado, eles levantavam a perna direita do personagem meio milímetro e fotografavam de novo. Repetiam essa atividade quantas vezes fossem necessárias. Quando as fotos eram rodadas em sequência, o efeito enganava nosso cérebro que via um bicho estranho se movendo.
Com o avanço da tecnologia, os efeitos especiais deixaram o stop motion de lado e hoje tudo pode ser criado do zero, no computador. Porém, fazer filmes em stop motion ganharam um status de obras de arte.
Por isso, cineastas ousados se utilizam da técnica até hoje, mesmo sendo muito mais fácil programar um demônio galopando em direção à vítima na tela de um notebook.
Tim Burton foi responsável direto pelos dois primeiros citados na linha inicial desta coluna. Apesar da temática sobrenatural, as obras não trazem um grande medo. Coraline e o Mundo Secreto, do norte-americano Henry Selick (que dirigiu O Estranho Mundo de Jack com acompanhamento de Tim Burton), era pra ser infantil, mas assustou muita criança por aí.
Outros dois filmes que vi recentemente se encaixam na categoria stop motion de terror puro! E são boas pedidas para esta sexta-feira, 13. Ambos podem ser vistos na Reserva Imovision, um canal de streaming que oferece degustação de 15 dias grátis pela plataforma da Prime Video.
Mad God (Deus Louco, 2021) é para poucos. Os cenários criados por Phill Tippet (Star Wars, Howard the Duck, Robocop) provocam repulsa, horror, um total sentimento de desolação. A história mostra um ser vestido com uma roupa parecida com a da Primeira Guerra Mundial.
Ele entra numa cápsula que, amarrada a um cabo de aço, desce para as profundezas do inferno.
Ele tem em mãos um mapa e precisa encontrar alguma coisa que é importante para o seu povo. O que ele vê e o que ele passa nos vários caminhos que encontra é de se tirar o chapéu para a capacidade do diretor em fazer os personagens sofrerem.
Pra mim, uma representação perfeita do que deve ser o inferno. A história, em si, é difícil de se acompanhar. O filme não tem diálogos. Mas vale muito a pena assistir pelo visual.
É de um capricho sem limites. Desde sua concepção até a entrega dos rolos para os cinemas, foram gastos 30 anos de produção!
Em alguns trechos, ele mescla os efeitos de stopmotion com atores reais. O que acontece também em Stopmotion (EUA, 2023). Sim, o filme tem o nome da técnica escrito tudo junto. A película tem como protagonista Ella Blake, uma animadora de stop motion que vive à sombra da mãe. Veja o trailer no vídeo acima.
Considerada uma lenda dessa técnica, Suzanne sofre de artrite severa e está com as mãos paralisadas.
A filha, então, ajuda a mãe a terminar um filme sobre uma ciclope que vendeu o olho aos deuses para saber seu futuro.
A relação entre as duas é péssima. Suzanne é autoritária, controladora e não confia no talento da filha.
Ella é o boneco que a mãe ainda consegue manipular. Até que um AVC coloca a mulher mais velha em coma. Ella tem a chance de, enfim, andar com as próprias pernas.
Ao decidir continuar o filme da mãe e se mudar de apartamento, ela se depara com uma menina muito estranha que lhe propõe fazer uma nova produção. A menina conta uma história que deixa Ella empolgada. O problema é que ser controlada está no DNA da animadora. E a menina passa a exigir cada vez mais atos de violência de Ella para que receba a continuidade da história.
Logo, Ella não sabe mais o que é ficção e o que é realidade. E acaba perseguida pelas criaturas que moldou com cera, carne de bicho morto, sangue humano. É muito legal também acompanhar como um filme dessa técnica é feita. Fica muito nítido que só o esforço por trazê-la pra tela já é mérito gigantesco.
E Stopmotion foi além.
Entrou na lista dos 50 filmes mais assustadores de todos os tempos, ocupando a 24ª colocação. Clique aqui e leia: A Entidade, Host e os 50 filmes mais assustadores de todos os tempos.
Tem momentos muito tensos realmente e dá pra imaginar o porquê o batimento cardíaco dos entrevistados da pesquisa aceleraram. Uma boa sensação pra experimentar nesta data comemorativa.
Então, não fique com o movimento parado nesta sexta-feira, 13. A não ser por poucos instantes, quando o susto acaba congelando nossos músculos. Só toma cuidado.
Se neste momento alguém vier mexer em você com uma câmera fotográfica, cai fora. Ser boneco de stop motion em filme de terror nunca é uma boa opção.