O terror que quer destruir a infância

Depois de Ursinho Pooh Sangue e Mel, outro diretor quer transformar Mickey Mouse em assassino

Em 1928, Walt Disney lançou um curta-metragem em preto e branco que se tornaria uma animação de enorme sucesso. Foi uma das primeiras sonorizadas.

“Steamboat Willy” catapultava de vez seu protagonista, Mickey Mouse, ao estrelato.

Noventa e cinco anos depois, essa primeira versão do rato famoso tornou-se de domínio público. Ou seja, qualquer pessoa pode usá-la sem ter de pagar direitos autorais aos criadores.

E o que era temido pelos estúdios Disney aconteceu.

No primeiro dia do ano de 2024 passou a circular um trailer de um novo filme de terror do subgênero slasher.

E, pasmem, o diretor teve a ideia de colocar o assassino com a máscara do Mickey Mouse. Do Mickey Mouse!!!

A troco de que?

Só pode ser em busca de publicidade gratuita.

Tá certo que ratos causam medo em muita gente. Mas não esse rato. Mickey faz parte do mundo infantil como as fadas, as princesas, os ursinhos de pelúcia.

Alguém, em sã consciência, vai ter a curiosidade de vê-lo desferir facadas nas pessoas?

Eu adoro terror, amo slasher mas, sinceramente, a chance de assistir a Mickey´s Mouse Trap (A Ratoeira do Mickey) é zero.

Já fui enganado uma vez. Mas, em minha defesa, por poucos minutos.

Foi quando dei o play, no Amazon Prime, em outro aproveitador da lei do domínio público.

mickey

Ursinho Pooh – Sangue e Mel chegou aos cinemas em agosto do ano passado. O diretor, o britânico Rhys Waterfield era só um fã de terror que resolveu desvirtuar a história do ursinho fofo.

No roteiro, Christopher Robin, que sempre cuidou de Pooh e Leitão, abandona os amigos fantásticos para ir pra faculdade. Acostumados a serem alimentados pelo rapaz na infância, eles não conseguem mais buscar alimentos sozinhos e acabam tendo de devorar um dos seres encantados.

Quando Robin resolve revisitar a floresta mágica com a namorada, encontra um grupo raivoso e sedento por vingança.

Tudo é muito ruim. Desde as atuações aos efeitos especiais. E, claro, a história.

Em entrevista ao Splash, do Uol, à época do lançamento, Waterfield disse que quer acabar com infâncias.
Usou isso em tom de brincadeira, o entrevistador deixou claro. Mas talvez ele não tenha noção do quanto pode estar, mesmo, destruindo uma parte importante dessa fase do ser humano.

Quando a criança está com medo, antes de dormir, ela faz o que? Se abraça a um bichinho de pelúcia. Tenho certeza que Pooh e Mickey estão entre os seguranças noturnos mais procurados pelos pequenos.
Com as redes sociais espalhando, sem qualquer tipo de restrição de idade, imagens, trailers, fotos sobre como esses bichinhos inofensivos se tornaram assassinos inescrupulosos, poderá haver, sim, um grande impacto na infância.

Foi justamente a força dessa corrente da internet que impulsou Sangue e Mel. O filme, com certeza, passaria despercebido, mas quando influencers descobriram algumas cenas vazadas, passaram a compartilha-las até que fossem viralizadas.

O diretor confessa que, depois disso, teve de dar um cuidado maior à “obra” que nem ele levava a sério.
E, meu Deus, se ele melhorou a película, eu não consigo nem imaginar como era a versão original.
Alguns filmes são tão ruins que acabam se tornando clássicos porque divertem. Não é o caso de Pooh.
Mas, por incrível que pareça, Waterfield ganhou aval para uma sequência. E ainda pretende desvirtuar outros personagens que entraram em domínio público.

“Com certeza veremos Bambi matando caçadores, e Peter Pan tem um grande potencial de ser um pedófilo. É um cara que nunca cresce, mora na Terra do Nunca. Vamos realmente arruinar Peter Pan e Sininho para muitas pessoas”, ele disse, na entrevista ao Splash.

Até onde isso vai parar é uma incógnita.

Torço, apenas, para que essa moda não chegue às produções brasileiras.

Eu odiaria ter de ver Mônica matando alguém a dentadas.

Ou Cebolinha arrancado o olho de alguém com seus cabelos pontudos.

Acho que temos imaginação suficiente para criar monstros novos.

Pobre Mickey, com certeza, teremos muitos patetas aplaudindo sua fúria assassina.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toda Sexta é 13, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Comentários (1)

  • Brigida Aparecida da Silva Godoy

    REALMENTE ESTRAGA A INFÂNCIA SIM QUE JÁ É BOMBARDEADA POR FATOS REAIS COMO VIOLÊNCIA DE TODO TIPO ,AGORA MAIS ESSA ,ATÉ QUANDO A CENSURA VAI AGIR NO REVERSO ?

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