Pisque Duas Vezes e abra sua mente
Filme de terror psicológico chega ao streaming depois de fazer sucesso nos cinemas
Quanto menos você souber sobre o roteiro de Pisque Duas Vezes, melhor será sua experiência com esse filme que está na lista dos 5 melhores do ano passado de qualquer fã de terror.
A obra da diretora estreante Zöe Kravitz (filha do cantor Lenny Kravitz e da atriz Lisa Bonet) chega ao streaming depois de uma boa carreira no cinema. Está disponível no catálogo da Prime Video.
Com orçamento modesto para os padrões hollywoodianos, Pisque Duas Vezes apostou no galã Channing Tatum como Slater King, um magnata da tecnologia que resolve se afastar da diretoria de sua empresa para tratar uma depressão.
Parte desse tratamento consiste em passar dias em sua ilha particular rodeado de um grupo seleto de amigos, algumas convidadas, comida e bebida de qualidade e muita droga.
Entre as convidadas, estão Frida (Naomi Ackie) e Jess (Alia Shawkat). Elas conheceram o empresário durante um jantar de homenagem a Slater. As duas trabalhavam de garçonete na festa, mas deram um jeito de trocar de roupa e participarem como penetras.

Slater mostra um encantamento por Frida. E ela não resiste, claro, ao convite de partir com a amiga para a ilha paradisíaca. No local, começamos a ser apresentados a situações estranhas. É a diretora nos dando dicas de que qualquer peça que pareça fora do tabuleiro naquele momento vai se juntar mais tarde.
E é por isso que não posso revelar muito mais.
Kravitz consegue nos manter tensos o tempo todo à espera de que algo vai dar muito errado.
Ao mesmo tempo que constrói situações que vão no sentido contrário, deixando-nos em dúvida o tempo todo.
Afinal, o dono da ilha é Channing Tatum, notório por fazer papel de bom moço e símbolo sexual. Um dos amigos é interpretado por Haley Joel Osmont, o menininho de O Sexto Sentido que cresceu e se tornou um bonachão, quase um bicho de pelúcia. Outro companheiro é Christian Slater, ícone dos anos 80.
Já os funcionários do local….
Ah! Esses são sinistros.

Quando falam com as convidadas é para passar mensagens cifradas que soam quase como ameaças.
Por falar nisso, a ilha é cheia de cobras perigosas que são caçadas a mando de Slater.
Aproveite para piscar duas ou mais vezes nessa primeira metade do filme. Porque depois que Jess desaparece de uma hora para a outra, você não conseguirá mais fechar os olhos nem por milésimos de segundo.
O filme apresenta revelações e reviravoltas surpreendentes e que deixarão o telespectador sem acreditar no que estão vendo e no que é feito naquela ilha.
Pisque Duas Vezes fala de dois assuntos importantíssimos que jamais deveriam sair de pauta.
A dominância de um grupo ou de alguém sobre outro é um deles.
O desprezo que isso gera.
A insensibilidade que envolve essa relação.
Há tanto tempo.
Qual o limite disso?
Para satisfazer a necessidade de produção, invadimos países, destruímos famílias e fizemos escravos.
Para conquistarmos riquezas e recursos naturais, mandamos inocentes armados para terras distantes para morrer em nome de um futuro que não terão.
Para nos satisfazermos sexualmente, agarramos pessoas à força, sob ameaça ou com outros subterfúgios.
Para não sermos rejeitados, matamos a outra pessoa.
A minha vontade, o meu ideal, aquilo que eu acredito, que eu preciso é mais importante, mais forte, que qualquer dor que eu possa causar em outro ser.
A ponto de ele ser apenas um objeto, uma peça que eu movo a meu bel prazer. Você realmente conseguiria perdoar alguém que comete essas atrocidades contra você ou contra alguém que você ama? Esse é o outro mote de Pisque Duas Vezes.

Será que não seria melhor existir uma forma ou uma fórmula mágica que nos fizesse esquecer qualquer trauma com o qual convivemos?
Perdão ou esquecimento? Quais as consequências da existência ou da falta de cada um deles em nossa vida e na sociedade em geral.
Filmes inteligentes, que nos fazem pensar quando os letreiros sobem são raros.
É preciso aproveitá-los.
Para mantermos não só os olhos, mas a mente aberta, para as manipulações que sofremos e nem percebemos.
É bom saber identificá-las.
Porque esquecer é impossível.
Perdoar só é fácil da boca pra fora.