Terrifier 2: lugar de palhaço é no cinema
Cada medo tem um nome. Muitos deles são bem conhecidos. Como o de aranhas, aracnofobia. Outros, com nomes bem estranhos, como agorafobia que, ao contrário do que indica a palavra, nada tem a ver com questão de tempo, e sim, de local. Simplificadamente, é o medo de lugares públicos.
Nessa mesma categoria se encaixa o assunto da coluna desta semana: coulrofobia. Se pensou que alguém se assusta ao vestir uma jaqueta de “pele” de gado, errou feio. Esse é o nome dado ao medo de palhaços.
A etmologia atribui a origem do neologismo a uma junção de palavras gregas que fazem remissão a esses personagens que misturam tragédia e alegria em suas trajetórias. O serial killer da vida real, John Wayne Gacy, que se vestia de palhaço, com certeza contribuiu com novos adeptos desse medo ao ser acusado de torturar, estuprar e matar ao menos 33 adolescentes entre 1972 e 1978 nos Estados Unidos. Tem documentário sobre ele na Netflix.
Stephen King também incutiu, nas crianças e nos adultos, esse receio ao criar Pennyweise na obra literária IT, que ganhou os cinemas em dois capítulos nos anos de 2017 e 2019. O mesmo demônio que devorava crianças na cidade de Derry também já tinha aparecido no telefilme de 1990. Outro palhaço assustador é Twisty, da quarta temporada de American Horror Story, em exibição na Star +. Todos ótimos e assustadores personagens.
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Mas como alguém pode ter medo de palhaço? Se nenhum desses citados te convenceu, você precisa conhecer Art, the Clown, personagem da série de filmes Aterrorizante (Terrifier 1 e 2, em inglês). O primeiro filme, de 2016, está disponível na Prime Video. O segundo estreou nesta semana nos cinemas. É preciso ver na sequência? Não necessariamente. Por que? Porque a coerência da história é o que menos importa nesse slasher – subgênero do terror ao estilo de Sexta-Feira 13.
O palhaço vivido pelo ator David Howard Thornton é grotesco. Tem o rosto todo pintado de branco, um nariz de bruxa e uma vontade incontrolável de matar as pessoas com extrema violência e sem qualquer necessidade de razão. Sim. O filme é um banho de sangue do começo ao fim.
Se você é sensível e gosta de terror pelas histórias, esqueça, não gaste seu tempo ou dinheiro em qualquer uma das versões. Agora, se você gosta de assistir à pessoas sofrendo das piores maneiras possíveis, esses são filmes pra você. E Terrifier 2, nesse quesito, superou o primeiro.
Com um saco cheio de ferramentas que roubou de um necrotério, Art desfila pela telona – com o perdão do trocadilho – a arte de destruir suas vítimas; sim, esse é o verbo correto porque quase sempre não sobra nada do escolhido. As cenas são tão fortes que o filme – antes do lançamento aqui no Brasil – ganhou fama na internet por, suspostamente, expulsar pessoas das salas no meio da exibição. Fotos de pessoas recebendo atendimento médico do lado de fora viralizaram. Jogada de marketing ou não, deu certo.
O filme que era apenas um cult entre os amantes do gênero ganhou a curiosidade de mais pessoas, faz boa carreira nas bilheterias, garantindo muito lucro e, claro, poupança para sequências. As críticas também são positivas.
No site Rotten Tomatoes, um dos principais na avaliação de filmes, a nova incursão de Art, the Clown, conseguiu 85% de aprovação. Terrifier 2 é um parque de diversões para saudosos de Jason e Michael Myers. A exemplo dos precursores, o palhaço não fala uma única palavra durante os filmes. Ele se comunica por mímica e oscila da simpatia ao ódio nas expressões faciais com muita facilidade.
Mas ao contrário dos vovôs do slasher, ele é extremamente ágil. Nada de passos lentos rumo à vítima. Ele corre mesmo. E pega. Sem escapatória. Além de ser realmente mau. Como é mau. A cena da morte de uma das amigas da protagonista é de um desespero empolgante para os fãs da carnificina. E um martírio para quem não o é.
Nesta sequência, Art começa matando o legista que cuidava de seu suposto corpo. E parte para a cidade bem na época do halloween. Uma família atormentada pela misteriosa morte do patriarca acaba no caminho do psicopata. A partir daí é tentar adivinhar como alguém vai morrer. Criatividade para isso tem de sobra no diretor Demien Leone, responsável também pelos roteiros. Ele já teria anunciado querer fazer de Terrifier 3 o mais assustador de todos. Se a série vai continuar a ter o sucesso que vem alcançando é difícil prever.
Muitas outras, como Jogos Mortais (Saw), acabaram repetindo filmes em que a única diferença entre eles era a forma como as vítimas morriam. Algo que vai se tornando enjoativo. Art, the Clown, tem muito fôlego ainda E potencial. Espero que no próximo filme consiga trazer explicações sobre a origem dele, o que de fato aconteceu com o pai da protagonista de Terrifier 2.
E que, principalmente, como todo artista, ele saiba o tempo certo de parar. No auge. Deixando o público – independentemente da nuance de coulrofobia — ávido por mais Arts, Pennyweises e Twistys. E com a certeza de que lugar de palhaço é no cinema.