Wes Craven: do Pesadelo ao Pânico

Com a Hora do Pesadelo, nascia também outro mito. Esse, de carne, osso e uma imaginação deliciosamente assustadora: Wes Craven

O sonho dos amantes do terror virou pesadelo em 1984. Foi neste ano que um homem todo desfigurado por queimaduras invadiu os cinemas do mundo. Freddy Krueger, com sua blusa listrada de verde e vermelho, um chapéu marrom e uma luva com garras afiadíssimas assustou toda uma geração.

freddy
Freddy Krueger (Foto: Divulgação)

Com a Hora do Pesadelo (Nightmare on Elm Street, EUA), nascia também outro mito. Esse, de carne, osso e uma imaginação deliciosamente assustadora: Wes Craven. O criador do pedófilo queimado vivo por um grupo de pais inspirou seu personagem icônico num mendigo que o intimidava na infância e o batizou com o nome de um colega de escola praticante de bullying contra crianças menores.

A franquia, que traz Freddy matando adolescentes durante seus sonhos (pesadelos, pra ser mais justo), gerou 8 filmes e uma refilmagem. Em 2003, Krueger chegou a fazer um cross com outro ícone, Jason Voorhees. Um filme, aliás, ao contrário do que possam pensar, bem legal e disponível na HBO. Não à toa, Freddy X Jason, de 2003, foi roteirizado pelo próprio Wes Craven.

Leia mais

  1. O maior terror do cinema: o público

Só A Hora do Pesadelo seria suficiente para colocar o diretor no pedestal do horror. Mas ele tinha outra carta na manga. Junto com o roteirista Kevin Williamson, ele revigorou os filmes slasher em 1996 ao criar outro personagem eterno do terror: Ghostface, o assassino de Pânico (Scream, EUA). A cena inicial com Drew Barrimore atendendo ao telefonema de um estranho propondo um quizz sobre filmes slasher é sensacional. Você sobreviveria à pergunta de quem é o assassino de Sexta-Feira 13???? (Cuidado, tem pegadinha).

Só pra se ter uma ideia, 27 anos depois de estrear, o filme está no sexto episódio e lidera o ranking de arrecadação de bilheterias no Brasil.

criador do freddy
Wes Craven

Quando surgiu, Pânico era quase uma paródia ao reunir e escancarar os clichês — que tem o nome técnico de tropo — desse subgênero. Um dos personagens chega a enumerá-los durante uma cena. A ideia era preparar o grupo pra fugir deles e, assim, sobreviver aos ataques do maluco.

Ao contrário dos amigos da galeria dos monstros eternos, Ghostface não tem nada de sobrenatural. Mas como, então, ele está presente em 6 filmes? Não morre? Morre. E o que ressuscita é o personagem, a fantasia. Sempre vestida por alguém que exige do público perspicácia para descobrir quem é: antes de Pânico 6 eram 9 os assassinos, o que, numa matemática básica, mostra que em alguns dos filmes havia mais de Ghostface em ação – Craven bebeu da fonte do giallo – já escrevi sobre eles aqui — filmes italianos que tinham assassinos mascarados e com luvas para impedir qualquer indício de identificação até a revelação final.

Pânico 4 foi o último filme dirigido por Craven. Ele morreu em 2015, vítima de um câncer no cérebro.
Sem o parceiro genial, foi de Williamson a incumbência de ressuscitar a franquia com o quinto filme, chamado apenas de Pânico (2022) que volta à cidade de Woodboro 25 anos depois dos primeiros assassinatos. A aceitação foi total e mais um acerto ao escalar atores como Jack Quaid (da série The Boyz, da Prime Video) e Jenna Ortega, a Wandinha da Netflix. A volta de Neve Campbell, Courteney Cox e David Arquette em seus papéis originais para ajudar os jovens a combater o novo Ghostface também serviu como um tapete vermelho para a entrada dos antigos fãs à nova fase da franquia.

Em Pânico 6, os diretores Matt Bettinelli e Olpin Tyler Gillett, responsáveis também pelo anterior, deixam clara a mudança de fase. O filme ingênuo que era mais uma homenagem aos slasher amadureceu e ficou mais violento. As mortes são mais explícitas e as regras já não precisam ser seguidas à risca. O ataque brutal à professora da disciplina de slasher da faculdade de cinema no início do filme já é um recado de que este novo Pânico quer surpreender.

As duas irmãs agora vivem em Nova Iorque, fugindo dos acontecimentos do último filme. Uma série de assassinatos sugere que Sam – que tem passado ligado a um dos ghostfaces – seja a responsável por eles. Logo, percebemos que, na verdade, ela é o principal alvo do maníaco.

Eu gostei bastante. Temo, no entanto, que não haja mais munição para um outro – e inevitável — filme. Pelo menos não com esses personagens. Ghostface, no entanto, é imortal. E enquanto monetizar, vai ressurgir.

Quem sabe, um dia, o Pânico não possa encontrar o Pesadelo.

Ghostface e Freddy Krueger juntos num mesmo filme seria uma ótima homenagem a Wes Craven. Desde que feita com a mesma competência que guiou a carreira desse monstro do horror.

Outros filmes de Wes Craven que valem a pena

  • UM VAMPIRO NO BROOKLYN – 1995
  • AS CRIATURAS ATRÁS DAS PAREDES – 1991
  • A MALDIÇÃO DE SAMANTHA – 1986
  • BENÇÃO MORTAL – 1981
  • QUADRILHA DE SÁDICOS – 1977
  • ANIVERSÁRIO MACABRO – 1972

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toda Sexta é 13, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Leia também em Cinema!

  1. Multiplane Camera: a técnica secreta de Walt Disney para animações

    A técnica que revolucionou as animações foi aperfeiçoada pelos estúdios Disney e...

  2. Ator Val Kilmner morreu aos 65 anos (Foto: Divulgação)

    Morre Val Kilmer; ator fez 'Top Gun' e 'Batman'

    Val Kilmer, conhecido por om “Iceman” Kazansky, em Top Gun – Ases...

  3. Novidades no Globoplay, Max, Netflix e Prime Video em abril

    Abril chegou com muitas novidades emocionantes para os assinantes de Globoplay, Netflix,...

  4. Em 1950 era feito o primeiro live-action dos estúdios Disney

    A princesa favorita de Walt Disney foi a primeira a ganhar um...

  5. O que é incel?

    O termo é citado na série “Adolescência”, na Netflix e fez a...

  6. teste de atores "Mãe Bonifácia" será interpretada pela atriz Zezé Motta. (Foto: Reprodução/ Redes sociais)

    Zezé Motta grava dois filmes em MT sobre líderes negras históricas

    Zezé Motta vai protagonizar dois filmes gravados em Mato Grosso interpreta figuras...