X - A Marca da Morte, a sexta-feira 13 e os virgens do terror

Se toda sexta é 13, esta, então, nem se discute. O calendário brindou os fãs de terror logo no começo deste ano. A data, que neste ano só vai se repetir em outubro, vale muito uma noitada com os monstros do universo sobrenatural. Da ficção, claro. Eles que fiquem no mundo deles e a gente […]

Se toda sexta é 13, esta, então, nem se discute. O calendário brindou os fãs de terror logo no começo deste ano. A data, que neste ano só vai se repetir em outubro, vale muito uma noitada com os monstros do universo sobrenatural. Da ficção, claro. Eles que fiquem no mundo deles e a gente no nosso. E assim, nesse distanciamento necessário, eu uso essa coluna para uma proximidade. Dia desses, um colega de trabalho, o grande jornalista José Câmara me disse:

— Alex, por que, na sua coluna, você não dá dicas pras pessoas que querem começar a ver filmes de terror?

Ótima ideia, Zé. E graças às forças sinistras do acaso, duas situações vieram a calhar para atender a esse pedido. A primeira delas, a data. E a segunda, a entrada, no catálogo da Prime Video, de um dos melhores filmes de terror do subgênero slasher produzidos nos últimos anos. É X-A Marca da Morte (X, 2022).

Se você não curte terror ainda, esta é uma grande oportunidade de mergulhar nesse submundo. O filme traz muitos elementos dos clássicos filmes slasher (aqueles que têm assassinos sanguinolentos) dos anos 80. E traz, no elenco duas atrizes que têm toda a atenção de Hollywood para um futuro brilhante. Jenna Ortega, mais conhecida como a nova Wandinha da série da Netflix e Mia Goth, britânica de pai canadense que é neta da atriz brasileira Maria Gladys. Elas fazem parte da trupe que entra numa van com destino a uma fazenda isolada do Texas para rodar um filme pornográfico.

Sexo, mortes… uia! Alguém falou em Jason Vorhees, de Sexta-Feira, 13? Não, a única semelhança entre o ícone da máscara de hóquei e o responsável pelas mortes nesse novo thriller é a total falta de empatia com as vítimas. Entrou na frente, já era!

Além, claro, do que move um filme como esse – que são as maneiras como as pessoas são mortas – X- A Marca da Morte ainda traz uma discussão: o quanto a mulher sofre preconceitos? E ali há dois cenários pra isso: um estado norte-americano conservador e o set de um filme pornô. Uau! Que combinação!

Jenna Ortega, apesar de coadjuvante no filme, protagoniza justamente a cena que mais escancara essa anomalia do nosso comportamento. Ela vive o papel da assistente e namorada do diretor do filme pornográfico: um jovem estudante de cinema que espera incutir nova ideias e enquadramentos para realizar uma obra prima do gênero e conseguir fugir para filmes “de verdade”.

Mia Goth vive a protagonista do filme (Foto: Divulgação)

A reação dele a uma decisão da namorada faz a gente até se esquecer de que estamos vendo um filme de “espirra sangue”. A mulher é dona do próprio corpo e pode fazer dele o que bem quiser? Homem pode fazer isso, mas mulher não? E há ainda outras premissas que envolvem mais personagens: existe limite de idade para ter desejo sexual? E a fidelidade conjugal resiste a isso? Até onde você iria pelo amor que sente por seu parceiro? Que concessões você estaria disposto a abrir por amor?

Há uma questão que incomodou uma parcela dos espectadores: a repulsa aos personagens idosos é um ponto que precisa ser ressaltado, mas que não dá para aprofundar aqui sem acabar revelando muito da história.

Até porque, apesar de interessantes, não são, definitivamente, o motor do filme. Seria mais um diferencial em meio a tantos roteiros banais no mundo cinematográfico do horror. O que se provou um acerto do autor, Ti West, também diretor da película e mais um da produção a estar no radar dos executivos de Hollywood. O sucesso foi tanto que já rendeu outros dois filmes. Uma prequel, ou seja, história contada antes dos fatos de X, chamada Pearl (Pearl, 2022) com estreia prevista pro mês que vem nos cinemas brasileiros e Maxxxine, ainda em produção – e que não direi sobre o que se trata para não dar spoiler.

Dificilmente, quem assistir ao objeto dessa coluna não vai colocar na agenda a programação para os outros dois. X é muito divertido. Tem um elenco carismático que inclui o produtor canastrão que namora a personagem de Mia Goth. Para ele, a moça é uma mina de ouro por ter o “fator X” – daí o nome do filme – uma analogia à sensualidade que brota da jovem linda, meiga e sexualmente voraz. Para ela, ele a produção são apenas a ponte para realizar o sonho de ser uma grande estrela e fugir da vida medíocre que leva.

Coincidentemente o mesmo sonho da anfitriã da trupe de cinema. A idosa que mora na casa principal da fazenda alugada para as tomadas é um ser misterioso que tem muito a ver com os desejos de fuga da jovem atriz pornô – não por acaso, é a própria Mia que a interpreta num papel duplo. Nem a idosa e nem o marido — um ex-combatente de guerra nada amistoso que quase não se aguenta em pé – sabem que os inquilinos estão usando a casa ao lado do celeiro para rodar um filme adulto.

Os desejos de fuga até parecem analogia usada por Ti West: todos estão ali porque querem fugir da atual realidade. A loira peituda quer apenas juntar dinheiro para ter uma casa com piscina. A assistente de câmera, se libertar das amarras de ficar à sombra do namorado. E tem, claro, até quem queira fugir de um porão sinistro…

Mas, se na vida, fugir nem sempre é possível, imagine num filme slasher.

Sensualidade, tensão, medo. Tudo o que uma sexta-feira 13 exige, X oferece. Sem dúvida, acompanhar a Marca da Morte num set de filme pornô é a melhor iniciação para os virgens do terror.

Depois me fale o que achou, José Câmara.

Boa sexta-feira 13 a todos!

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toda Sexta é 13, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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