A difícil missão de encontrar a mulher que habita sob a pele da mãe
A partida da individualidade é requisito pra chegada de um filho. Não há mais um indivíduo, não há mais você por si só
Feliz dia da Mulher, mas que mulher? Cadê a mulher que fui um dia? Essa de sorriso largo, cabelo ao vento, livre? A perdi. No dia em que soube que não era só mais meu o corpo que habito.

Fomos nos desconectando até o rompimento total naquele dia em que adentrei a maternidade já em trabalho de parto. Ela me olhou nos olhos pela última vez e apenas sorriu como se dissesse “foi bom dividir a vida com você até aqui”. Ruptura, despedida.
Nunca mais nos encontramos. Às vezes tenho a impressão de que ela está por perto. Posso sentir quando ouço uma música, vejo uma foto, sinto um cheiro.
E aí bate um misto de sentimento: nostalgia, felicidade, gratidão, saudade, raiva. Difícil explicar para quem vê de fora a gente no mesmo corpo, sem compreender que a alma é outra.
A partida da individualidade é requisito pra chegada de um filho. Não há mais um indivíduo, não há mais você por si só.
E até que nos reencontremos minimamente numa esquina qualquer, fica o enorme eco quando vem à mente a pergunta: quem me roubou de mim?
Indo mais além, tocando mais afundo na ferida, quando o título de mãe nos é concedido, a mulher sai de cena.
Falar de sexo? Beber? Dançar? Falar palavrão? Como assim? Você é mãe de família, porte-se como uma. Mais uma vez o tal do sagrado que querem nos enfiar goela abaixo…
Mãe é santa? Não. Embora a gente rogue pelos nossos filhos dia e noite. Reflexo do amor, do instinto de cuidado, nada a ver com essa imagem canonizada de “mãezinha”.
Mãe transa, mãe se diverte, mãe tem um milhão de assuntos que nada têm a ver com maternidade, mãe joga conversa fora na mesa do bar, mãe tem hobby, sonhos, planos que não incluem os filhos. Ser mãe é apenas umas da várias partes que compõem o ser M U L H E R.
Comentários (1)
Texto magnifico. Em poucas palavras descreveu toda a trajetória de uma mulher/mãe. Parabéns!!!