A dor de Ana Hickmann também te incomoda?
Violência doméstica não escolhe vítima
A apresentadora Ana Hickmann é um dos nomes mais comentados nas redes sociais nos últimos dias, por um motivo que nada tem a ver com seu trabalho, seu talento ou sua longa carreira. Ela foi vítima de violência doméstica.
A pergunta espinhosa que te faço é: sendo ela uma mulher rica, linda e famosa, a dor dela também te incomoda?

Violência doméstica não escolhe alvo. A esposa do deputado e a esposa do pedreiro que trabalha na casa dele, estão no mesmo barco. A diferença social não importa quando se trata de um companheiro abusivo, que pensa ter direito de vida e de morte sobre sua esposa, namorada, ou ex.
Ana cuidou do marido quando ele teve câncer. Apoiou, segurou a mão, ajudou na hora difícil. Ele, lutador de jiu-jítsu, prensou a esposa contra uma parede e fechou uma porta no braço dela, causando uma lesão. Negou, depois admitiu tudo, e disse que foi uma “desinteligência entre o casal”. Foi para as redes sociais reclamar que uma senhora chamou sua atenção na padaria, e não para dizer “eu errei, estou com vergonha e vou me tratar”.
Ana superou inúmeros outros momentos, com as mesmas desculpas que sua amiga usa: caiu da escada, machucou brincando com o filho, escorregou na beira da piscina, ficou roxa porque bateu no aparelho da academia.
Ela não teve qualquer privilégio para evitar a exposição desse momento horrível. Foi até a delegacia e deu parte, amparada pela mesma Maria da Penha que protege a sua diarista. O machismo que dá a um homem a certeza de que pode “perder a cabeça” em uma briga de casal, atinge a mulher periférica e a mulher do Alphaville, na mesma medida. O patriarcado nos iguala, a rica e a pobre, expostas ao mesmo perigo.
Ana tem condições de pagar advogado e pode se separar sem medo do filho passar fome, uma realidade bem diferente da maioria das vítimas de violência doméstica, que não têm outra alternativa a não ser permanecer com o agressor. Elas não sabem por onde recomeçar porque pararam de trabalhar para cuidar da casa e dos filhos. Esse desalento a apresentadora não sentirá, mas ela não é menos digna da nossa empatia por isso.

Haverá quem diga que ela provocou, que de alguma maneira mereceu, que deve ter começado a bater em um homem gigante, truculento, e apanhou porque pediu. Esse é o machismo que permeia os discursos que limpam a barra de um agressor a ponto dele se sentir à vontade para bater, sabendo que será perdoado pela sociedade – ou absolvido em um júri popular. Ele sabe que poderá ir às redes sociais e se colocar como vítima, reclamando que está sendo apontado na rua.
Mulher nenhuma casa pensando em terminar seu relacionamento em uma delegacia, machucada pelo homem que amava. Rica ou pobre, empresária ou funcionária, jovem ou idosa, o volume de denúncias mostra que em um ponto, estamos evoluindo: o agressor não ficará mais protegido pelo silêncio de uma vítima desencorajada a falar.
Se você ouve sua vizinha ser agredida, se sabe do seu primo que bate na mulher, se presencia qualquer agressão verbal ou psicológica, não pense duas vezes em ligar para o 180. Grave, registe, se proteja e proteja as outras. Uma mulher que age pode salvar a vida de inúmeras mulheres, e isso nunca foi tão necessário.
Comentários (2)
Não somos Obrigadas a viver um inferno na terra e Ana hickman fez certissimo, lugar de violência é longe de todos e todas e o agressor que trate de curar se bem longe…
É uma brutalidade sem tamanho. É muito feio bater em mulher. Vai seu valentão bater num homem forte. Em mulher não se bate nem com uma rosa.