A maravilhosa história dos camarões

Era uma vez num reino muito distante, uma jovem de 20 anos chamada Maria Eugênia. Filha de professores, ela foi a primeira de sua família a entrar para a Universidade, o que era um feito extraordinário nos idos de 1980.

Foi nessa época que ela conheceu um rapaz muito bonito. Aos 20 anos, ele tinha parado de estudar e não gostava de trabalhar. Pulando de emprego em emprego, ganhava um salário mínimo por pura pressão dos pais, que o obrigavam a contribuir em casa. Não levava nada a sério e não tinha qualquer ambição na vida.

Se conheceram em uma pizzaria. Trocaram telefones (de casa), e ele achou uma boa ideia namorar com ela. Depois de 1 ano, propôs casamento. Ela tinha plena convicção de que aos poucos colocaria esse homem nos eixos, e pasmem, foi exatamente o que ela fez.

Obrigou o cara a fazer supletivo, e ele entrou para uma universidade particular. Ela se formou em administração e montou uma pequena empresa. O pai dela conseguiu o primeiro emprego do genro em uma grande companhia, e ele finalmente começou a levar o trabalho a sério. Maria Eugênia engravidou, vendeu sua parte na empresa, comprou o terreno ao lado da casa onde viviam e financiou a construção de seu lar.

Ao longo de 20 anos, com todo o suporte da esposa, ele estudou inglês, fez outra faculdade, começou a viajar, passava longos períodos fora do país, e com um bom golpe de sorte, tornou-se um importante executivo na companhia. Maria Eugênia teve 3 filhos, e nunca mais trabalhou. No seu tempo livre, ela lia, lia muito, era sua maneira de continuar estudando.

Com 24 anos de casamento, quando o terceiro filho foi estudar fora, ela finalmente sentiu que poderia descansar, dar mais atenção a si e ao marido. Planejou uma viagem romântica para passarem mais tempo juntos. Um belo dia, depois do jantar, ele disse que precisava lhe falar. A única frase que dita, ecoaria na mente dessa mulher durante anos:

“Maria Eugênia, quero o divórcio. Você tem 2 dias para deixar esta casa”.

Incrédula, ela não soube como agir. Ele foi até o quarto, pegou uma mala de mão e sem maiores explicações, saiu de casa na mesma noite. Sem saber o que pensar, ela ligou para a sogra, e a família já sabia de tudo:

Ele estava apaixonado pela secretária de 22 anos e tão logo Maria Eugênia desocupasse, ele traria a moça para morar na casa que construiu com a (agora ex) esposa.

Naquela noite, o mundo dela desabou. A casa foi comprada com o dinheiro dela, mas estava no nome dele. Sozinha em casa, Maria Eugênia foi tomar um banho, e chorou, chorou tão alto que os vizinhos ficaram preocupados. Chorou até dormir.

Os camarões

No dia seguinte, Maria Eugênia acordou cedo. Maquiou-se, colocou um vestido bonito, sapatos de salto, pegou a bolsa cara e entrou no carro. Sua primeira parada foi no banco, onde transferiu para a conta dos pais todo o dinheiro que guardou na poupança ao longo de 20 anos.

Em seguida, foi pessoalmente a uma empresa de mudanças e contratou o serviço, que ficou agendado para o dia seguinte. Depois, foi na imobiliária, e sem sequer visitar, alugou um minúsculo apartamento em um prédio afastado. Pagou 3 meses de aluguel adiantado.

Passou o dia na rua, com o talão de cheques do marido. Comprou geladeira, fogão, móveis modernos, uma televisão grande e um sofá novo. Almoçou em um belo restaurante e passou a tarde no shopping. No final do dia, comprou 1kg de camarão, 2 garrafas do champanhe mais caro, e foi para casa. Tomou uma das garrafas, tirou o telefone fixo da parede e, exausta, dormiu.

No dia seguinte, o caminhão encostou e carregou a mudança. Levou só o que era dela, o restante, a loja iria entregar. No final da tarde, com a casa praticamente vazia, ela calmamente preparou os camarões. Depois, pegou o champanhe que deixou gelando desde a noite anterior, se sentou na varanda, e com a melhor louça, fez sua última refeição naquele lar tão cheio de lembranças.

Então, ela se levantou, desparafusou os varões das cortinas, e nos buracos depositou carinhosamente as cascas de todos os camarões que comeu. Depois, colocou os suportes e parafusou tudo de novo, encaixou os varões das cortinas, pegou sua bolsa e foi embora sem olhar para trás.

No dia seguinte, a mudança da nova moradora chegou. Ela e seu novo mozão, passaram 3 dias ininterruptos de muito amor no quarto que ele dividiu por 24 anos com Maria Eugênia.

E então, a casa começou a feder.

Depois de uma semana, a moça disse que voltaria para a casa dos pais. Aquela casa empesteada não era exatamente o ninho de amor que ela imaginou. O mozão, desesperado, mandou quebrar a casa toda, em busca de um problema no esgoto, um bicho morto, e nada. Com o cheiro insuportável de podre e temendo azedar seu novo amor, ele botou a casa à venda pela metade do preço, e mudou-se para um apartamento.

Maria Eugênia comprou a casa à vista por um valor ridículo. Assinaram tudo e fizeram os acertos em dois dias. Pegou as chaves, trocou todas as fechaduras, e mandou derrubar as paredes onde ficavam os varões das cortinas entupidos com restos de camarão. A casa foi reformada, ficou moderna, cheia de móveis novos. A viagem que tinha planejado para eles, ela fez sozinha, e voltou renovada, bronzeada e feliz.

Abriu uma empresa em sociedade com uma amiga, e com seu talento extraordinário para os negócios, elas prosperaram. Do ex, ninguém sabe. Maria Eugênia hoje namora um distinto cinquentão, que a leva para dançar, e aos domingos, ficam na varanda da casa lendo juntos e comendo camarão. Em dois anos convivendo com ela, ele abriu mais duas empresas. Neste momento, eles estão incomunicáveis, tomando champanhe em uma praia qualquer da Bahia.

Moral da história:
Nenhuma. É apenas uma história que eu adoro.

Fim.

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