Jaqueline Naujorks

A verdade só é nua quando você é descoberto

Nizan e a súbita honestidade de quem é pego no pulo

Trago uma pílula difícil de engolir: a verdade só é nua quando você é descoberto.
O filtro da mentira é um dos primeiros que o ser humano desenvolve. A máscara que encobre nossos defeitos mais abomináveis, escondendo-os inclusive de nós mesmos, será nosso cartão de visitas na maior parte das situações. Mas e quando a máscara cai?

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Nizan chorando em eliminação. (Reprodução / TV Globo)

Uma das cenas mais emblemáticas que acompanhei nesse sentido foi protagonizada por Nizan, um participante do BBB deste ano, que ficou mais famoso por suas falas misóginas do que propriamente pela atuação no programa. Nizan viralizou em recortes problemáticos, em que ora criticava mulheres, ora manipulava, usando a culpa como moeda – e ele, claro, na posição de credor.

Ao ser eliminado, Nizan era a pura expressão da injustiça, como um menino pego escondendo os cacos do abajur da mãe. A revolta durou até o momento em que foi obrigado a confrontar as imagens das suas próprias falas na casa: assim que a máscara caiu, o manipulador sumiu, dando espaço para um Nizan choroso, forçado a reconhecer que errou pela exposição absoluta do erro. Não havia qualquer chance de dizer o velho e bom “Não foi bem assim”.

A verdade só é nua quando você é descoberto. A exposição do erro te obriga a reconhecê-lo, porque do contrário, você poderia passar a vida inteira negando que errou. O marido pode mentir todos os dias e dizer “Você é louca” para os questionamentos da esposa, até que ela vaze os prints das conversas com a amante no grupo da família. Aí a mensagem muda: passamos do “Você é louca” para o “Me perdoe, vou melhorar”.

A mentira dura até que a câmera exponha a verdade. A pessoa jura que não bate na criança, o criminoso jura que não roubou, o agressor jura que nunca agrediu e o misógino jura que nunca disse nada que ofendesse uma mulher.

Ao ser exposto, Nizan chorou e disse que não dava para defender o que disse, que foi errado e precisava melhorar. A consternação era visível, estampada no rosto em full HD. A pergunta que fica no ar é: se fosse apenas a palavra dele contra a palavra da mulher, ele teria o mesmo comprometimento em reconhecer o erro e melhorar?

Sem nos aprofundarmos na pauta do narcisismo, que explica mas não justifica muitos desses comportamentos, é complicado lidar com o ser humano que jamais está errado. É a velha cartilha: “Não estou errado, mas se eu estiver, a culpa é sua”.

Além das câmeras de segurança, que transformaram a rotina da gente em um grande BBB, o monitoramento constante já tirou muito coelho do mato e mudou até o rito das investigações no Brasil. Hoje pouca coisa fica escondida, acobertada pela rua deserta ou pelo pouco movimento. Um celular posicionado atrás de um enfeite na sala já salvou muita gente.

Como luz no fim do túnel, ainda enxergo a educação. Já avançamos muito na pauta do respeito ao outro, com punições mais duras para o bullying por exemplo, mas o machismo enraizado também precisa ser combatido com instrução. Educar os meninos no respeito, na naturalidade dos direitos iguais. Ensinar que não se deve opinar sobre o corpo de uma mulher, ou tocá-lo, ou xingar por não poder tocá-lo. Cada vez mais a tecnologia será aprimorada, e não podemos depender da exposição para avançar em uma questão comportamental tão básica.

Poucas coisas na vida são tão cruas quanto uma verdade incontestável. Mais crua que isso, só a súbita honestidade de quem é pego no pulo.

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Não Sou Obrigada, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Comentários (1)

  • Clarice valeria

    E o ser humano está perdendo o amor ao próximo.
    O amor está se esfriando.

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