Assédio terceirizado e a conivência dos inocentes
Você vai achar engraçado quando a mulher assediada for a sua neta?
Recebi pelo instagram um relato que fez até meu café azedar. Quando li, senti aquele arrepio na espinha que a gente sente assistindo filme de terror, só que pior, porque pelo menos no filme você sabe que boa parte é ficção. Nesse caso, não. É real, tudo real, e acontece o tempo todo.

O cenário é uma empresa qualquer. Três homens estão reunidos num ambiente separado, rodeado de vidro. Lá adiante, vem vindo a colega de trabalho, vestida com calça jeans, camisa de uniforme e um salto básico. Um figurino estéril, o dress code de milhares de outras mulheres brasileiras em dias úteis.
A colega se aproxima, distraída, segurando uma pasta rumo à sala do diretor. Seu caminhar é normal, o decoro natural do ambiente de trabalho, mas nem o recato profissional da colega foi suficiente para impedir o diálogo a seguir:
– Essa fulana é uma gostosa, né? Olha essa bunda!
– Pegar eu quero, só não tenho oportunidade (risos).
– Se eu pegasse essa mulher ela ia ver o que é machismo do bom (mais risos).
– Olha os peitos dela na camisa! Olha lá, olha lá fulano!
Fulano, o terceiro elemento, está claramente incomodado. A esposa dele é a única mulher em um escritório onde trabalham 7 homens.
– Uai, fulano? Que foi? Não gosta de mulher não?
– Gosto, mas tenho uma esposa e não gostaria que ela fosse tratada assim.
Os outros dois riem.
-Eu sou homem, cara! A gente faz isso! O que é bonito é pra se olhar, olha lá, olha que delícia!
Fulano pensou em simplesmente sair, mas se sentiu na obrigação de responder:
-Se você é homem, por que se comporta como se fosse irracional? Você não tem esposa? Não tem filha? Não tem mãe? Respeita a mulher, cara!
Um silêncio desconfortável. Em seguida, vem a resposta desenxabida:
-Então você é fruta! (e cutuca o colega ao lado forçando uma risada.).
Para encerrar o ato, os dois machistas que desrespeitaram a colega, saem andando tranquilamente, debochando da indignação do terceiro, afinal, não ofenderam ninguém, não é?
E a moça que pensou estar apenas indo colher uma assinatura, foi a razão de uma conversa absolutamente nojenta, como se ela fosse um simples objeto colocado na vitrine para apreciação.
O nome disso é assédio terceirizado.
É um tipo de assédio que não é dirigido para a mulher, mas é sobre ela. É cometido à distância.
É o comentário que sexualiza uma colega dentro do ambiente de trabalho, feito à boca pequena, no cafezinho, na sala ao lado. É a roda de onde sai a avaliação sobre o corpo de uma mãe de família, se ela é desejável, e inclusive, se não é.
É o momento em que todo o verniz social se vai e homens adultos se comportam como bichos esfomeados diante de uma caça.
Talvez você, homem, em que esta carapuça serviu, esteja desconfortável com a sensação.
Então, permita-me piorar:
Pelo corredor polonês do machismo, sua esposa também passa. O corpo da sua mulher será avaliado por uma roda de machistas como você, apesar da roupa discreta que você a vê vestindo pela manhã.
Sua filha será a estagiária. Sim, essa mesma estagiária que você teceu comentários usando o termo “novinha”.
Um dia, sua filha vai ser o alvo da avaliação de 3 homens escondidos numa copa. A menina que você em casa chama de “princesa”, será “gostosa” na conversa deles.
Sua irmã mais nova, sua sobrinha, sua afilhada, TODAS elas vão passar por isso. Sabe por quê?
Porque você não tem coragem suficiente para combater um machismo que te diverte.
Se toda vez que um machista levantar a voz para objetificar o corpo de uma mulher, um homem se levantar para dizer “Pare”, já pensou quantas dessas conversas serão interrompidas? É meio que matar no ninho uma coisa que vai crescer e levar para lugar nenhum.
A mudança de cenário passa pela mudança de comportamento, e pelo desconforto de ser o primeiro a apontar o quanto um determinado costume, antes bem aceito, já não faz mais sentido. Se você se incomoda quando imagina sua filha sendo avaliada ou sua neta sendo assediada, essa mudança já começou a acontecer. Seja você o agente do caos que vai se levantar para dizer o óbvio.
Comentários (3)
E uma pena que nos dias de hoje, ainda existam homens da caverna.
A única evolução e um terno.
Simplesmente enojada.
Não sou obrigada ?
Uma estória muito mal formulada, longe de sequer se aproximar de algo real (exceto em um ambiente de baixo nível comportamental). Nem terminei de ler o artigo …
Oi Edson! Se você acha irreal, basta que tenha coragem suficiente para se opor quando acontecer ao seu redor. Não pode é dar uma de inocente e ficar de boca fechada quando o coleguinha for machista. Esperto ter ajudado, viu? Paz! <3