BBB escancara o machismo que não surpreende ninguém

Se eu te contar que um homem médio, na faixa de 45 anos, com sua barriga de carboidrato, que está muito longe da beleza de Marcos Palmeira, sentaria ao lado de outros homens para julgar inadequado o corpo de uma das mulheres mais lindas do Brasil, modelo internacional, que está no topo do padrão estético considerado ideal, você acreditaria?

O BBB escancarou aquele machismo que não surpreende ninguém. Homens sabem que ele existe, mas juram que não existe. Mulheres sentem o tempo todo, e tentam desviar dele em todos os núcleos. Se o corpo da Yasmin Brunet é julgado inadequado, que diabos você está fazendo na academia tentando chegar perto do padrão aceitável no Brasil? Por que você se priva de comer um baguncinha para caber nas roupas bonitas da loja de departamentos, que só vestem até o tamanho G?

Tudo aquilo que eu sempre disse que acontece e sou amplamente criticada, foi protagonizado por esses caras numa cena naturalíssima, que culminou com eles tentando espionar a moça entrando no banho. Desde então, eu só assisto a repercussão na internet, em um loop infinito de expressão blasé comendo pipoca, como quem diz “Eu avisei”. O machismo na sua forma mais crua, aquela que o cara nem se envergonha porque jura que é normal. Criticar o corpo de uma mulher belíssima é legítimo porque sim.

E não termina aí: desde então, Rodriguinho abriu uma verdadeira cruzada contra o apetite de Yasmin. Para uma mulher que conhece a compulsão ou o transtorno alimentar, ter um fiscal de bolacha por perto é tudo que ela não precisa. Que direito tem esse cidadão, de dizer que ela está comendo demais?

O caso é que o Brasil está cheio de Rodriguinhos. Nas redes sociais, o que mais tem é homem botando defeito em mulher feliz. Se você estiver satisfeita com sua aparência, pode apostar que vai aparecer alguém dizendo que você é inadequada. Paolla Oliveira recentemente foi chamada de gorda e velha, amiga. Todos os dias no tiktok alguém me chama de velha e feia. E é aqui que chegamos no quociente da equação mais difícil para a mulher em 2024: acima da enxurrada de ódio que recebemos nas redes sociais, entender que a opinião do outro não é problema seu.

A autoestima de uma mulher precisa estar fundamentada na sua própria opinião sobre si. Pode ter certeza que 90% das coisas que odiamos em nós, vêm de um mundo que roda melhor se as mulheres tiverem aversão a si mesmas. Se você precisar da aprovação de outra pessoa para se sentir bonita, será uma voraz consumidora de cosméticos, medicamentos, cirurgias plásticas, procedimentos estéticos, apliques de cabelo e roupas caríssimas que te caiam bem ao longo do seu envelhecimento – que por sinal, é proibido.

Algumas coisas não vão mudar, a menos que o machismo seja morto no ninho, ou seja, na educação dos meninos. Já pensou que maravilhoso vai ser o mundo quando a sua menina tiver o direito de existir em paz, sem ser bombardeada por opiniões negativas a respeito de seu corpo, seus traços, seu tamanho, sua barriga, seus dentes, seu cabelo ou sua idade? Que lindo será viver numa sociedade em que a inteligência da mulher não seja considerada chatice. Que alegria será você colocar seu short aos 45 anos e curtir um pagode no sábado à tarde sem medo de ser julgada inadequada para aquele ambiente.  

O BBB apenas escancarou o que todas nós sempre soubemos. Para viver em uma sociedade que não ama as mulheres, mas suporta sua existência porque precisa delas, é preciso tampar os ouvidos para a maior parte das coisas que ouvimos ao longo da vida.

Yasmin querida, coma a bolacha que você gosta. Coma quantas bolachas quiser, e pare de comer apenas no caso do médico dizer que sua glicose está alta. Malhe se estiver com vontade, curta a possibilidade de descansar dessa pressão pela perfeição, durma, durma muito. Por fim, um conselho de amiga: pratique com mais frequência a fina arte de mandar um homem dobrar sua opinião e enfiar bem dentro do seu baú. Um beijo. 

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