Carta aberta à Paolla Oliveira e todas aquelas que decidiram não ser mães
Pressionada, atriz precisou ir a público anunciar que não pretende ter filhos
Nos últimos dias não só o corpo da atriz Paolla Oliveira virou pauta na internet, como também a pressão para que ela tenha filhos, já que passou dos 40 anos. O falatório foi tão grande que a artista precisou ir a público anunciar algo de extrema intimidade: decidiu que não será mãe.

A fala repercutiu nas redes sociais e virou até tema de reportagem, tomando o lugar de destaque que seu trabalho deveria ter. Recapitulando as colunas de fofoca, não encontrei uma chamada sequer sobre qualquer ator/cantor/celebridade homem tendo que anunciar que não terá filhos.
A cobrança óbvia por reproduzir vem sempre em cima da mulher, como se coubesse tão somente ao sexo feminino a arte do nascimento. Além disso, vieram os comentários embasados no “somente sendo mãe é que conhecemos o amor de verdade”.
Como posso cravar que uma mulher sem filhos não conheceu o amor verdadeiro se ela ama os próprios pais, seu companheiro (a), suas conquistas, sua vida? Ah mas o amor de mãe pra filho não tem comparação! Amor nenhum tem comparação, qual é a necessidade de sempre ter que diminuir o sentimento alheio para validar o nosso?
Maternar é algo de intensidade que eu, por exemplo, jamais havia experimentado. Hoje não posso viver sem os meus filhos. Mas isso é o que eu sinto, dentro da realidade que eu vivo, levando em consideração o que eu acredito. Como colocar todas as mulheres do mundo numa forma só e ditar uma verdade absoluta?
Muita gente enxerga o sacrifício materno como algo bonito, beirando o sagrado, porém a realidade é que a gente se sacrifica por razões muitas vezes culturais: só a mãe sabe fazer isso, só a mãe consegue fazer aquilo, só a mãe é capaz daquilo outro. Deixa com a mãe pronto e acabou. Como obrigar alguém a desempenhar esse papel por pura pressão social/religiosa?
O trabalho é árduo e seria total romantismo se eu dissesse aqui que acordar antes das 6h todos os dias é lindo e maravilhoso, por exemplo. Que abdicar da liberdade, das noites de sono, da vontade de pegar um cinema em plena terça-feira, de viajar quando bem entender, de gastar com outras demandas, de morrer e nascer de novo é fácil. Não é e tá muito longe de ser. Tem dias, não raros, que a gente vai só pela misericórdia mesmo.
E faz por amor? Faz! Isso não quer dizer que seja 100% do tempo prazeroso. Aliás, dentre as 24 badaladas do relógio, esse percentual fica meio a meio intercalando entre momentos da mais pura ternura e momentos da mais pura loucura.
Portanto, não é errado não querer o trabalho de ser mãe ou não querer ter mais de um filho. Paolla, você ou eu não somos menos humana, nem devoradora de criancinhas.
Pelo contrário, não ceder à maternidade ou não aumentar a prole é um ato de coragem num sistema que insiste em dizer que nascemos pra ser mãe, mas depois que somos nos trata da forma mais cruel possível: quem pariu mantém e o embale.
Comentários (1)
Perfeito o texto, o não é não também para a maternidade, mesmo sendo maravilhoso ser mãe.
Parem de se preocupar com a vida alheia e sejam felizes.