Choro de criança irrita porque não podemos nos jogar no chão e dar birra

Adultos com total capacidade de discernimento atacam criança em conversa num grupo de condomínio

A frase “engole o choro” está tão normalizada que perdemos completamente a noção da realidade. Eu sei, viemos de uma cultura que prega isso, mas, preciso aqui fazer as honras da casa materna: crianças choram, o tempo todo! É comportamento natural e esperado.

Faz parte do desenvolvimento humano. Na ausência das palavras ainda não aprendidas e emoções incompreendidas, é o choro que expressa o que a criança está sentindo. Até os 20 anos de idade o córtex pré-frontal, área do cérebro que ajuda o indivíduo a pensar racionalmente e controlar as emoções, ainda não está completamente fechado.

Nos primeiros anos de vida, então, esta parte do cérebro está em formação. Sendo assim, este comportamento é fisiológico, já que crianças não são capazes de gerenciar o que sentem.

É isso que nos diferencia deles: temos um filtro social, os pequenos não. Olha só, vou tentar ser bem didática: sabe as frustrações da vida? Que a gente reclama o tempo todo, mas não há o que fazer senão seguir adiante? Crianças sofrem o mesmo sentimento, mas não têm capacidade de discernir, então choram.

Vou usar um tradutor adulto/criança:

“Nossa, que fome” – Choro.
“Estou tão cansado” – Choro.
“Caramba que tédio” – Choro.
“Puxa, que calor” – Choro.
“Dor de cabeça” – Choro.
“Acordei triste hoje” – Choro.
“Não queria ter que trabalhar hoje” – Choro.
“Os boletos chegaram” – Choro.
“O fim de semana acabou” – Choro.

A gente só não chora, não se joga no chão, não sapateia, porque não podemos. Mas, me diz você, se não passa por situações diárias em que choraria copiosamente? As crianças são como nós, mas usam o choro para dizer tudo isso.

E não vou aqui hastear a bandeira da mãe alecrim dourado! Longe de mim. Eu também me irrito com chororô eterno. Às vezes consigo acolher, mas, mermã, pra quem está nesse looping choramingado há mais de três anos, 24 horas por dia, é impossível manter a sanidade em 100% do tempo.

Dito isto, direciono agora minha fala às pessoas que pensam como as que mandaram estas mensagens num grupo de condomínio. Minhas queridas, muito provavelmente a mãe, o pai ou o responsável pela criança do 14° Bloco já tentaram de tudo para amenizar os escândalos.

Foto Grupo
“Diálogo” surreal em um grupo de condomínio (Foto Reprodução)

Óleos, fitoterapia, simpatia, cursos on-line que brotam feito mato em terreno baldio nos instagrans da vida. Se você teve uma noite mal dormida, se parece que o bebê está no seu quarto, calcule para quem cuida dele que está literalmente embaixo do mesmo teto, sem dormir, sem ter silêncio, sem ter o que fazer quanto a isso.

Ninguém é obrigado a aguentar piti de filho alheio, eu sei. Só que as regras para conviver em sociedade são essas e ter o mínimo de empatia não custa nada. Talvez nunca tenha lhe ocorrido ir até lá com um café fresco e um bolinho pra puxar assunto e entender a dinâmica que é ter criança.

Mas seria uma boa! Pode ser que ajude muito mais ao invés de expor, com endereço e tudo, uma mãe/pai/responsável que tá nessa batalha eterna e permanente do educar.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista E eu nem queria ser mãe, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Comentários (1)

  • Ana Paula

    Impressionante a falta de noção além da empatia da pessoa né?!
    Todos deveriam ser paia ou melhor então, conviver c pais pra ter uma noção q não é fácil.
    Essa noite , a criança acordada , mãe em surto e vida q segue…mais uma noite em claro!
    No meu condomínio ninguém ainda me mandou nada. Mas pode ter certeza q os pais e a criança estão mais cansados do a o ouvido de qualquer vizinho.

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