Jaqueline Naujorks

Como sobreviver à vida adulta sem um casamento?

Trago uma verdade difícil de digerir: não nos casamos por amor

Antes de começar esse texto, te convido a segurar a pedra por três minutos antes de jogar. Se até o final do texto você não refletir sobre isso de um ponto de vista social, aí é com você. Hoje trago uma verdade difícil de digerir: nós não nos casamos por amor.

É muito difícil para uma mulher sobreviver à vida adulta sem um casamento. Primeiro, porque os empregos destinados às mulheres pagam muito pouco. Você raramente vê um homem sendo empregado doméstico, recepcionista de consultório ou secretário de empresa. Esses são empregos femininos, mal-remunerados justamente porque a sociedade entende que esse salário deve bancar apenas despesas supérfluas, e não compor o orçamento total de uma casa.

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♬ som original – Jaqueline Naujorks

Se não tiver com quem dividir despesas de moradia, alimentação, transporte, luz, água, comunicação e vestuário, ela vai precisar de um bom emprego. Para ter um bom emprego, ela vai precisar ter acesso à educação, um bom cursinho para o Enem, estudar em uma boa faculdade, ter condições de bancar material e vai ter de apresentar um resultado extraordinário para competir no mercado de trabalho.

Se estiver bem colocada profissionalmente e se tornar mãe, ela conhecerá a sobrecarga. Se o genitor ajudar financeiramente, OK, mas ainda assim, ela precisará de uma rede de apoio nas noites em que a criança tiver febre e ela, coincidentemente, tiver uma reunião importante no dia seguinte. Não há mindfulness que ajude essa mulher a enfrentar a estafa de acumular as duas rotinas sem a ajuda de alguém que tenha a obrigação de fazer, e não o faça como um favor.

A verdade é que, se não fosse o casamento, a associação de orçamentos, boa parte das mulheres no Brasil não saberia o que é ter casa própria e carro. Se for lutar sozinha para conquistar esses bens, ela vai levar muito mais tempo e enfrentar o dobro de dificuldades. Para conquistar suas coisinhas com independência real, ela vai precisar de uma boa dose de foco, e isso significa se privar dos pequenos confortos que as mulheres ao redor desfrutam como rotina: a roupa nova, o sapato para o casamento, a academia, ir de carro por aplicativo para o trabalho quando chove, comer uma pizza no final de semana. Quem não conhece uma mulher que comprou sua casinha à custa de uma vida inteira de sacrifício?

A figura do “pai de família” é muito mais relacionada ao sucesso do que a “mãe de família”. O homem é digno da promoção, do emprego melhor, porque a sociedade entende que ele precisa mais. Essa é uma herança que não faz sentido para o Brasil em 2024, quando o último censo do IBGE aponta mais de 11 milhões de mulheres criando filhos sozinhas. Essas são as verdadeiras mães de família, e pela lógica, deveriam ter oportunidades iguais – mas a realidade que encontram é o descarte imediato em entrevistas de emprego quando mencionam a maternidade solo.

Imagine uma mulher que ganha um salário mínimo e R$300 de pensão do filho, como ela poderá pagar um aluguel ou a prestação de um imóvel e, sozinha, bancar todas as outras despesas? Pois é. O casamento é um caminho lógico para que ambos possam somar seus orçamentos e sobreviver juntos, na sociedade mais antiga que existe.

Calma, o amor existe. É ele o norte dessa caminhada, é o nosso critério de escolha, ainda que não seja o amor romântico, propriamente dito. Amizade também é amor. Mas ele nem sempre sobrevive a uma vida árida. Muitas mulheres se vêem no meio da vida, saindo de uma relação que optaram ainda na juventude, exaustas, alquebradas, desejando um pouco de paz. Essa mulher vai fazer de tudo para nunca mais depender financeiramente de ninguém. Lembra quando sua tia dizia que quando a pobreza entra pela porta, o amor foge pela janela?

A essa altura do texto você deve estar dizendo que penso assim porque sou amarga, não é? Bem, para sua surpresa, não me enquadro na minha própria análise. Hoje tenho uma condição privilegiada que me permite sobreviver sem precisar de ajuda nenhuma. A palavra é essa mesmo: privilégio. Quando você é independente, tem a chance de escolher. Isso é ouro na vida de uma mulher.

Se você tiver condições de se manter, case. Juntar os orçamentos é um caminho natural para um pouquinho mais de conforto na vida da gente, dividir a carga é lindo, e a rotina doméstica pode realmente ser uma bênção para quem cresceu em um lar disfuncional. Você pode viver em um eterno comercial de margarina. Porém, mesmo que o amor preencha seu coração, não deixe que ele turve sua visão. O futuro é uma incógnita para todos nós.

Ter por onde recomeçar se esse barco afundar, é garantia de paz no momento em que tudo desmorona ao nosso redor. Se o amor é a razão da sua vida, não esqueça que o amor-próprio é o que segura o ponteiro dessa bússola. Se ele te guiar, o resto todo será só felicidade.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Não Sou Obrigada, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Comentários (8)

  • Kelly Carvalho

    Levei muito tempo também pra entender que o amor é uma tomada de decisão, onde escolher alguém com objetivos, princípios e valores semelhantes, claro que com um admirar presente, pode ser o ponto de partida e com o passar do tempo o companheirismo e cumplicidade gera sentimentos maiores.

  • daniela winter cury

    Super concordo com seu ponto de vista

  • Geraldo Dimas de Souza

    E verdade mulher não é fácil sobreviver na vida adulta sem casamento

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