Comunicação em tempos de inteligência artificial

A ferramenta também consegue criar imagens e até mesmo compor poemas e letras de música.

Desde que a internet se popularizou, no final da década de 1990 e começo dos anos 2000, a velocidade dos avanços tecnológicos não para de surpreender. A inovação do momento que tem gerado muita discussão é o Chat GPT. Lançado em novembro do ano passado e desenvolvido pela startup OpenAI, a plataforma de inteligência artificial (IA) é capaz de responder perguntas e fornecer informações sobre diversos assuntos, permitindo ao usuário ter uma conversa em “linguagem natural e em tempo real”. A ferramenta também consegue criar imagens e até mesmo compor poemas e letras de música.

Teletrabalho; computador (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Inteligência artificial (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A jornalista Suelen Alencar, da rádio Centro América FM de Mato Grosso, testou o experimento, fazendo uma entrevista com o Chat GPT, com perguntas sobre assuntos regionais. Ouça aqui.

“Eu criei em minha mente um rosto e uma personalidade que não existe. Quando escrevi as perguntas, olhava para cursor digitando e pensava ‘será que tem alguém digitando do outro lado?’, a mente cria essa imagem”. Suelen conta que algumas respostas foram genéricas, mas a inteligência artificial soube aguçar a curiosidade em torno da construção das respostas e conclui: “Eu, que sempre gostei de futurismo, mesmo tendo receio, espero poder entrevistar um robô com estrutura física presencialmente… quem sabe!”

E surgem muitas dúvidas que nos intrigam: quais os impactos que uma tecnologia como essa pode trazer para a comunicação entre as pessoas? Será que vamos preferir bater papo com uma máquina em vez de ter uma conversa com gente de carne e osso? Essa ferramenta vai substituir o trabalho humano?

O professor de tecnologia de informação da UFMT Jean Caminha explica que, no caso do Chat GPT, o programa vasculha na internet tudo o que já foi produzido e publicado e, assim, consegue criar as respostas. Ele acredita que algumas profissões podem, sim, ser extintas com programas de inteligência artificial, como o Chat GPT, mas outras podem ser criadas. O professor cita um exemplo: “Uma dessas profissões criadas é a de engenheiro de comandos, para conseguir se comunicar com a máquina, para pedir do jeito certo, para gerar o texto certo, a imagem correta, para que isso possa ajudar.” Ou seja, até na interação com uma máquina é preciso ter uma comunicação eficiente para que o resultado seja o esperado.

O balanço do Caged, Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho, evidencia outro efeito das mudanças tecnológicas no jeito de se comunicar e os reflexos para o mercado de trabalho. Em 2022, o setor de telemarketing foi o que mais fechou postos de trabalho com carteira assinada no Brasil. E um dos motivos apontados é o uso maior de robôs para os atendimentos de comunicação à distância. Goste o cliente ou não, serão cada vez mais frequentes as conversas com robô, em vez de um atendente humano.

Eu mesma decidi perguntar ao ChatGPT quais os possíveis impactos para a comunicação entre as pessoas com o uso maior da inteligência artificial. Eis a resposta do robô:

‘A inteligência artificial, incluindo modelos de linguagem como o ChatGPT, teve um impacto significativo na comunicação humana, permitindo que as pessoas tenham conversas mais naturais e humanas com as máquinas. Isso levou a maneiras novas e mais convenientes para as pessoas acessarem informações e concluir tarefas, como por meio de assistentes virtuais ativados por voz ou chatbots. No entanto, é importante observar que também existem possíveis desvantagens no aumento do uso de IA na comunicação. Por exemplo, as pessoas podem começar a confiar demais em ferramentas baseadas em IA e perder a capacidade de se comunicar efetivamente sem elas. Além disso, o uso de IA na comunicação levanta questões éticas, como o potencial de algoritmos tendenciosos para reforçar estereótipos nocivos ou espalhar desinformação.’

Como a própria máquina afirma, existem benefícios e desvantagens do uso de inteligência artificial que, inegavelmente, estarão cada vez mais presentes em nossas vidas. Já nos acostumamos a ver e ouvir pessoas conversando com o Google Assistente, a Siri e a Alexa, assistentes virtuais conectados a smartphones, tablets, televisores, e que fazem ligações, enviam mensagens, leem notícias, selecionam música, agendam tarefas e muitas outras coisas. Logo logo nos acostumaremos também ao Chat GPT. Apesar da praticidade e da facilidade que essas ferramentas oferecem, acredito que nada substitui uma conversa olho no olho, nada cria mais conexão que ouvir a voz do outro, nada é mais humano que nosso poder de comunicação. E nesse quesito, a máquina não tem como nos substituir.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Comunicação de primeira, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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