Creches sem vagas, mães sobrecarregadas e a conta que nunca fecha

Um bebê de quase dois anos morreu afogado na última quinta-feira (20) e a culpa é de quem?

Perto de casa funciona uma creche “clandestina”. Coloco entre aspas porque não gosto da pejoratividade que tem a palavra usada neste caso. Óbvio que um local que funciona sem autorização, supervisão ou qualquer aval de segurança, cai na clandestinidade, só que é preciso ir mais além.

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(Foto: Reprodução)

Fui criada em um bairro periférico. Pai e mãe trabalhavam fora e os cuidados ficavam por conta da minha irmã, sete anos mais velha, com “supervisão” de familiares que vez ou outra davam suporte nos olhando. Também haviam vizinhas, conhecidas ou casas que recebiam crianças por valores praticamente irrisórios para que mães pudessem trabalhar.

O preço cobrado engordava um pouco a renda das cuidadoras e, abaixo do praticado nas escolinhas, aliviavam a vida materna. Uma rede de apoio meio capenga, mas que funcionava naquela dinâmica.

O cenário hoje me soa tão longínquo, porém a realidade continua essa. Fora da bolha. As creches públicas seguem sem vaga, vide os mutirões promovidos pela Defensoria Pública.

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De acordo com dados disponíveis na Semed (Secretaria Municipal de Educação) hoje são 4.814 crianças na fila de espera por uma vaga nas Emeis (Escolas Municipais Infantis) de Campo Grande.

As escolinhas particulares simplesmente não cabem no bolso do proletariado que se vira com um salário mínimo para custear a casa, principalmente numa realidade em que 11 milhões de mães brasileiras são solo, pesquisa do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas) de 2022.

Um bebê de quase dois anos morreu afogado na última quinta-feira (20) e a culpa é de quem?

O pobre vive de tapar buracos, de dar “jeito”, de suspirar até o último minuto de mês para dar conta de tudo. Sempre um restinho de fôlego no sufoco. A conta nunca fecha. Cabe a responsabilidade de quem cuida? Claro!

De quem assume o risco de deixar o filho num lugar “clandestino”? Também! Mas essa culpa já será penitência eterna para essas pessoas. Nas entrelinhas, não tão “entre” assim, quem assina embaixo é o sistema massacrante de não ter políticas públicas que acudam mães.

E se você acha um absurdo casas funcionarem como creches, talvez seja hora de abrir a janela e respirar o ar da realidade que bate fora do seu cotidiano, da sua rede social.

Juro que também gosto de escrever sobre a boniteza da maternidade, mas a realidade é ardida de mais.

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista E eu nem queria ser mãe, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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