Desigualdade é berço quando vida começa juntando moedas no semáforo

Taí a questão: menos é mais e muita, muita gente não consegue sequer ter o menos que temos

Era início de 2020. Tinha uma menina grávida vendendo balas no semáforo perto de casa. Magrinha, com barriga não tão grande, então pensei que teria tempo de separar umas coisas de bebê e levar para ela. Mas, com a pandemia e toda turbulência trazida pelo coronavírus, ela sumiu (claro!).

mariabebe
Maria Cecília com três meses de vida (Foto Arquivo Pessoal)

Meses depois, quando voltou, já estava com neném no carrinho. Passei e a vi empacotando balinhas e o companheiro tentava vender passando entre um carro e outro durante o sinal vermelho. Inevitável não pensar na discrepância das nossas situações.

Inevitável não pensar que a bebê dela e a Maria Cecília (minha primogênita) têm praticamente a mesma idade e uma vida que já começa tão desnivelada.

Inevitável não pensar que há quem acredite piamente que as pessoas têm as mesmas oportunidades, ignorando completamente a realidade desse mundo tão desigual e tão claro aos nossos olhos.

Então me lembrei de uma blogueira que pariu pouco tempo antes de nós e postou como foi o processo do parto. O café da manhã da maternidade era de hotel cinco estrelas. Morango, kiwi, mamão, chocolate quente…

A equipe, mesmo em meio ao ápice da pandemia (ainda sem existência da vacina), era enorme: enfermeira obstétrica, doulas, fotógrafo e a médica que a acompanhou desde casa até o hospital e não se fez ausente momento algum, até dançou com a grávida para estimular a dilatação.

Caramba, um abismo a separa da realidade brasileira. Só que na cascata da desigualdade, o luxo da blogueira não me fez diferença. Pari na Santa Casa, com plano de saúde que não era dos melhores, mas me foi útil até então, com a equipe de plantão e tudo bem porque no quebrar dos ovos, se a gente pensar bem, comparada à situação da moça do semáforo, minha vida é mansa que só.

Morango com kiwi não me fez falta, mas para aquela menina, que precisou levar um bebê recém-nascido para rua, a simplicidade da vida tranquila que tenho faria total diferença.

Taí a questão: menos é mais e muita, muita gente não consegue sequer ter o menos que temos. Puta privilegiado que somos. Acordar pra realidade é preciso!

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista E eu nem queria ser mãe, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Comentários (2)

  • Brígida Aparecida da Silva Godoy

    É pena que pensamos assim,mas não fazemos nada .

  • Geovana

    Concordo!

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