Do DJ ao menino que aprendeu a amar o rádio com o pai, as histórias de quem vive pelas ondas

No Dia Mundial do Rádio, o Primeira Página bateu à porta do estúdio da Morena FM

Dia Mundial do Rádio. 100 anos das ondas no Brasil. Aonde estiver um rádio ligado, ninguém está sozinho. Na data comemorada neste domingo (13), o Primeira Página bateu à porta do estúdio da Morena FM para ouvir a história de quem há décadas se dedica, por amor, ao rádio.

Rádio - Edgar Scaff
Uma das vozes mais conhecidas do rádio, Edgar Scaff estreou em 1984, e tem de rádio mais da metade da vida. (Foto: Arquivo Pessoal)

Edgar Scaff é uma das vozes, se não a mais, conhecida de Campo Grande. O radialista já passou por todas as emissoras de rádio da Capital de Mato Grosso do Sul desde a sua estreia, no dia 30 de março de 1984, quase 38 anos atrás.

“Hoje em dia as coisas são mais formais, mas na minha época que não é tão distante assim, eu comecei moleque em rádio com 18 anos”, lembra o radialista e coordenador artístico da Morena FM, Edgar Scaff, de 56 anos.

Antes de pisar numa rádio, dentro do chamado “aquário” que dividia o locutor do sonoplasta por um vidro, Edgar Scaff era bancário e DJ. “Sempre gostei de música, aprendi com meu pai que era muito aficionado. Ouvia todos os discos de vinil dele. Até então era tudo assim”, recorda.

Nas festas que costumava fazer com os colegas bancários, Edgar deu os primeiros passos como DJ e chegou a receber o convite para tocar numa boate. Quem deu esta oportunidade era justamente uma pessoa que trabalha em rádio.

“Naquela época não tinha celular, então ele só me disse que trabalhava em tal emissora de rádio e eu fui para conversar”, conta. Nisso, a proposta ainda era só ser DJ. Lá, Edgar Scaff foi apresentado ao time de radialistas e começou uma amizade.

“Eu não saía mais de lá. Ia todos os dias na rádio. Aí um dia me falaram: ‘pô, você é novo e tudo mais, estamos querendo fazer um programa assim e você teria que ficar aqui ao vivo'”, lembra.

Sem fazer curso nem teste, Edgar Scaff simplesmente chegou e entrou no ar, ao vivo. “E estou aqui até hoje. Foi dia 30 de março de 1984, se você puxar no calendário vai ver que foi num sábado. O programa chamava Sábado Milionário, que de milionário não tinha nada, era só pra tirar sarro em cima do Silvio Santos que tinha um programa assim: Sábado Milionáaaario”, cantarola.

Edgar Scaff 1
Edgar Scaff no passado e no presente.

Desde a primeira vez que Edgar se sentou diante do microfone, nunca mais parou. Deixava a rádio para viajar a São Paulo, e saía do aeroporto direto para as lojas de discos. Até porque naquela época as músicas que tocavam nos grandes centros demoravam pelo menos seis meses para chegarem até aqui.

Era também ouvindo os locutores de São Paulo Capital que Edgar foi aprendendo a ter um ritmo mais acelerado, que o acompanha até hoje.

“Sempre que me perguntam o que é o rádio eu fico prostrado, sem saber o que dizer. O rádio foi e é praticamente a minha vida, não só profissionalmente, mas porque eu gosto. O rádio tem uma mágica de fazer você colocar a cabeça para pensar. As pessoas ouvem o rádio, o locutor e ficam imaginando: ‘quem é aquela pessoa’? O rádio mexe muito com a emoção das pessoas e isso te dá algo que eu não sei explicar. Nunca imaginei ser radialista na minha vida, mas hoje tenho um imenso prazer e uma saudade daquele início que só eu sei como era”.

Rádio em números

São 100 anos de rádio no Brasil e ele ainda continua sendo uma das mídias de comunicação mais confiáveis.

Pesquisa divulgada pelo Ibope revela o quanto o rádio é ouvido pelos brasileiros.
Pesquisa divulgada pelo Ibope revela o quanto o rádio é ouvido pelos brasileiros.

Uma pesquisa realizada aqui no Brasil, divulgada recentemente pelo Ibope, apontou que 80% dos brasileiros ouvem rádio. E cada ouvinte passa, em média 4h26min ligadinhos na programação, a maioria, mulher: 52% do público ouvinte é feminino.

E não faltaram percalços ao longo de um século na história do rádio. Professor universitário e pós-doutor em comunicação, Oswaldo Ribeiro cita a chegada da TV e anos mais tarde, da internet, e o quanto o rádio acompanhou as tecnologias.

“Desde a chegada da TV, em 1950, o rádio viveu uma crise bastante grande, porque veio um aparelho entregando imagem e som, enquanto o rádio era só som. Mas como ele é um veículo muito ágil e rápido, o rádio foi muito habilidoso em se transformar. Ele conseguiu se restabelecer e seguir as tendências que foram se apresentando ao longo dessa história”, afirma Oswaldo Ribeiro.

No rádio e na TV

A voz grave que os ouvintes acompanham de segunda a sexta, a partir das 6h30 com as notícias do Primeira Página na Morena FM, é de Antônio Marcos Espricido.

No rádio e na TV, Antonio Marcos Espricido, o Tonhão, é quem leva as notícias todas as manhãs aos ouvintes.
Antonio Marcos Espricido, o Tonhão, é quem leva as notícias todas as manhãs aos ouvintes.

Paranaense de nascença, foi em Formosa do Oeste, aos 14 anos, que Tonhão estreou no rádio, por influência do pai. À época ele fazia um curso de datilografia e da escola ia até a emissora de rádio esperar pelo pai.

Locutor, seu José Aparecido Espricido, conhecido como “Perigoso”, ficava do lado de lá do aquário, enquanto o filho acompanhava o trabalho do operador de áudio. Na conversa com o sonoplasta, surgiu o convite para o então adolescente aprender a mexer na “mesa”.

“Comecei a aprender a fazer mesa em fevereiro de 1985. Dia 1º de setembro daquele ano passei a fazer a função de operador de áudio”, lembra Tonhão, hoje com 50 anos.

Do áudio para a locução, foi um pulo. Quando o “Perigoso” não podia apresentar o programa aos domingos, era o filho, Antônio Marcos quem tomava o microfone. E assim foi até 1991, quando o comunicador trocou o Paraná por Mato Grosso do Sul.

“Surgiu a possibilidade de trabalhar numa rádio em Ponta Porã, onde eu fiquei por quatro anos. Depois o chefe da TV, que me ouvia na rádio, me convidou para ir para a TV”, conta.

Rádio Tonhão
À esquerda, Tonhão ao lado de Frank, radialista colega na rádio onde ele começou, em Formosa do Oeste, e à direita como apresentador do Primeira Página.

O retorno para a rádio só aconteceu em 2015, com um programa de notícias, já em Campo Grande. E desde então, Tonhão concilia os dois veículos.

“Gosto muito das duas funções que exerço, mas rádio… Quando você começa a fazer rádio dificilmente você não é tomado pela questão da rádio, pela dinâmica. Ela é um veículo que te conquista. O rádio tem essa magia, essa capacidade de integrar, se transformar no companheiro nas horas de solidão”.

Questionado se foi o pai, o “Perigoso”, quem lhe ensinou a trabalhar no rádio, Tonhão diz que em cada etapa, da mesa à programação e locução, foram várias as pessoas que lhe mostraram o caminho. “Só que foi o meu pai que me ensinou o amor pelo rádio”, coloca.

“Perigoso” não trabalha mais em rádio, mas teve a oportunidade de ouvir o filho em muitos programas. Há quem diga que a voz dos dois é igualzinha. Na época em que trabalhavam juntos, Tonhão e o pai não têm registros de fotos, então, é justamente se apropriando da magia das ondas que a gente imagina como é seu Perigoso.

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