Do que os homens gostam?

Nas últimas semanas recebi uma enxurrada de mensagens de homens com xingamentos dos mais diversos no tiktok: menções à minha idade avançada, minha falta de beleza, a quantidade de maquiagem caríssima que uso e até sugestões de que eu deveria fazer uma cirurgia bariátrica porque estou muito gorda para falar na internet. Sim, é esse o nível do meu hater.

Me lembro dos tempos de escola, lá pela quinta série, quando enfrentava o mesmíssimo problema. Garotos encantados com minha eloquência e meus belos olhos verdes, me xingando para chamar a atenção. Ao longo desses, sei lá, 30 anos, sigo mantendo a mesma postura: rindo e debochando, porque é simplesmente impossível frear o impulso do riso.

Acho interessante que esse tipo de cara parte do pressuposto de que sua opinião é importantíssima. Eles falam como se o mundo inteiro fosse parar para considerar se o Zaqueu acha uma mulher desqualificada porque ela já teve 10 namorados ao longo da vida.

Espalham vídeos a torto e a direito pela internet, sempre com o mesmo discurso: odiamos mulheres acima do peso, odiamos mães solteiras, odiamos mulheres com mais de 30 anos, odiamos mulheres tatuadas, odiamos mulheres independentes, odiamos mulheres. Ponto.

Sinto muito ser a portadora da má notícia, mas amigão, as mulheres estão pouco se lixando para sua opinião. Mulher nenhuma está tocando a própria vida pensando em atender ao seu pitaco sobre ela, seja qual for. Me diga se uma mulher incrível, no alto de seus 30 anos, se firmando na carreira, vai sair da cama pela manhã pensando – “como posso agradar um homem hoje”? – Nenhuma santa alma feminina coerente está preocupada em agradar um homem, muito menos lhe atender as exigências irreais. Esse ideal feminino dos anos 1950 não existe mais. Nem sua própria mãe é tão santa, moço.

A mulher da geração Y, a millennial, tem outros sonhos. Queremos comprar nossa casa e nosso carro, no nosso nome, para que ter essas duas coisas não dependa da vontade de um homem, nem de seu orçamento. Se eu comprar com meu dinheiro, é meu. Amanhã, se seu marido decidir que não te ama mais, você terá um teto para voltar e um transporte que te leve até ele.

Queremos conhecer o mundo, aquele mundo que nossas mães não puderam ver.
A mulher que realizar os sonhos dessa mãe, quer ir para a Europa, comprar bolsa de grife no débito. Ela quer ouvir o aplauso quando seu nome for anunciado para a empresa como a mais nova promovida. Quer encher o LinkedIn de certificados, quer ter várias graduações, quer pós-doutorado nos Estados Unidos.

Essa mulher quer comprar seu carro zero, e importar carrinhos e mais carrinhos de roupas estilosas no site chinês, nas quais ela vai caber lindamente porque cada cirurgia plástica foi paga com seu próprio dinheiro. Mulher quer nome no cartão de visita, quer ser aplaudida como a palestrante da noite, quer sua filha estudando 3 idiomas, quer o filho estudando nas melhores escolas.

O grande objetivo de uma mulher hoje é vencer. Se ela acha que vencer na vida é casar, ter filho e ser uma grande dona de casa, ainda assim, é uma decisão dela. Não é sobre a opinião de um homem.

O cidadão precisa ter uma grande autoestima para fazer um comentário ditando como uma mulher deve ou não ser, de acordo com suas preferências. Não pode ser gorda? Dane-se. Não pode ter mais de 40 anos? Ninguém liga. Não pode ter estria nem celulite? Não importa. Não pode ter filhos? Uma mãe tem outras preocupações além da sua opinião. Assim de simples. Essa cultura passa pela ideia ultrapassada de que a mulher não teria bom senso suficiente para fazer suas escolhas. Nem preciso dizer o resto.

Me chamou a atenção um comentário em particular. Um homem disse, com sua gramática sofrível que me recuso a repetir, que sou uma mulher “muito amarga”. Gostaria de decepcioná-lo publicamente mostrando quão orgulhosa sou da minha caminhada, e o quanto amo minha vida. Minha melhor amiga acaba de casar e está adorando a rotina de cuidar do marido, ela também ama sua vida. Minha outra amiga resolveu namorar uma mulher e está felicíssima com sua escolha, ela também ama sua vida. Minha vizinha depois do divórcio virou a rainha do tinder, está feliz da vida descobrindo que é desejada, e ela agora também ama sua vida.

Ser mulher passa pelo desafio diário de ocupar espaços, e o espaço da escolha é um dos mais importantes. Não aceito que outra pessoa dite como eu deveria me portar, porque esse espaço é meu. Sua opinião não importa, porque a opinião que realmente importa é a minha.
Não há homem nesse mundo que me convença de que sou feia, burra ou incapaz.

Não deixe que nenhuma opinião tire de você a alegria de começar mais um dia sendo dona da sua história.
Isso não é egoísmo, amiga.
Isso sim, é bom senso.