Eu fui a Setealém
O universo paralelo que é igualzinho ao nosso, mas cheio de podridão e maldade está com os portais aberto para relatos assustadores
Nesta semana, o quadro Luz Acesa do podcast Não Inviabilize bombou em todas as redes ao trazer um assunto delicioso. E se houvesse um mundo igual ao nosso, porém, sombrio, perigoso e mais parecendo ter sido destroçado por bombas?

Pior. E se você, acidentalmente, conseguisse entrar nesse universo paralelo e se perdesse lá pra todo o sempre?
Baita enredo.
Mas que não é novidade alguma. Ele já assombra o Brasil desde o início dos anos 2000, quando um universitário paulistano, Luciano Milici, criou uma comunidade no Orkut e descobriu Setealém.
Opa! Duas palavras incompreensíveis na mesma linha, colunista? Calma que eu explico.
Orkut é o avô do Instagram. Uma rede social onde os internautas falavam sobre temas propostos. E Setealém é o tal mundo paralelo do começo deste texto.
Milici contou que numa noite na década de 90, após terminar a aula na faculdade em São Paulo, foi até o ponto para esperar um ônibus que o deixasse próximo de sua casa. Como não morava tão distante, várias linhas poderiam satisfazer seu desejo.
Um ônibus estranho parou. Cansado, sonolento, ele nem reparou direito que era bem diferente dos que costumava pegar.
Sentou-se e começou a ler um livro, sem conversar com ninguém. Depois de um tempo percebeu que o caminho estava longe demais.
Uma mulher esquisita cutucou seu ombro e perguntou:
— Você não vai pra Setealém, né?
Ele não entendeu nada. Não sabia o que dizer.
— Você precisa descer — ela completou.
Milici disse que passou a ser encarado por outros passageiros. Todos muito fora dos padrões. Eles começaram a gritar com ele e acabou expulso do ônibus.
Assim que fez o relato no Orkut, uma série de experiências semelhantes foram descritas naquele espaço da velha rede social. A evolução tecnológica veio e, com ela, o maior alcance.
Hoje, Milici diz ter mais de 8.000 relatos relacionados a visitas a Setealém. A maioria sem publicação. Guardadas para o canal do youtube que ele mantém. Para as palestras que ministra. Para as participações especiais que faz em videocasts.
O número de pessoas que corroboram a existência desse mundo invertido nascido bem antes de Stranger Things cresce a cada dia.
É uma creepypasta genuinamente brasileira. Não se lembra o que é isso? Relembre clicando aqui para acessar a coluna que escrevi sobre esse assunto.
Para ir à Setealém, no entanto, é preciso um pouco de sorte.
Existem portais espalhados pelas cidades.
E você nunca sabe quando e como encontrá-los.
Foi o que aconteceu com a Déia Freitas, a idealizadora do Luz Acesa (citado na primeira frase deste texto). No quadro, a podcaster compartilha experiências de seguidores com as próprias.
No programa do dia 18 de março, ela leu a mensagem que recebeu de uma mulher chamada Mirela. E tanto a história da fã quanto da apresentadora convergiam para um contato real com Setealém.
Déia, aos 16 anos, voltava pra casa a pé na cidade de Santo André, no ABC paulista. Precisava apenas descer uma rua para chegar na casa dela.
Era noite e estava sozinha.
No caminho, numa das ruas perpendiculares a que descia, ficava a casa de uma grande amiga. Ela, então, olhou para a rua pra tentar avistar a colega.
O que viu foi uma rua totalmente destruída. As casas também estavam em ruínas, como se estivessem abandonadas por, pelo menos, 50 anos.
Passou pela casa da amiga que estava na mesma situação. Quis avançar até o fim do quarteirão, mas bastou andar 30 metros para que um homem aparecesse e falasse:
— Volta.
Não precisou falar duas vezes. A adolescente correu até a rua principal e, quando olhou de volta para a da casa da amiga, tudo estava normal.
Sempre quando humanos mortais do nosso planeta entram em Setealém, alguém aparece para evitar que se aprofundem na terra amaldiçoada e se percam.
O irmão de Mirella, a fã do podcast, não ouviu o aviso. E desapareceu por 40 dias!
Sabe como voltou pra casa? Encontrou um ônibus esquisito em Setealém e foi obrigado pelo motorista a entrar para ser despejado no mundo normal.
São inúmeros relatos.
Tem até um rapaz que garante ter estado naquele mesmo ônibus com Luciano Milici lá na década de 90.
O “criador” do multiverso do terror brasileiro conta essa história em suas entrevistas. E fala que o rapaz garante que Milici não desceu do ônibus e foi para Setealém.
Milici diz apenas que não lembra, mas que o rapaz contou vários detalhes que ele nunca tinha relatado desde que o Orkut ferveu com sua história.
Maluco, né?
Que nada.
Bom pra caramba.
Um ônibus que ainda tem muito espaço no bagageiro para explorar Setealém.
Por exemplo: o nome. Há quem diga que o universo tenha, na verdade, sete universos. O um é o mais belo e puro. O sete, o pior de todos. Quase que um inferno. A Terra estaria entre o três e o quatro.
Quem joga videogame de terror não consegue dissociar esse ambiente de Silent Hill, onde o protagonista entra num mundo totalmente deformado.
A exemplo do jogo, os habitantes de Setealém são maus e vão te fazer mal se te pegarem vagando por lá.
Há também monstros.
Alguns, já batizados.
Canis infernos, os cachorros gigantes que protegem os portais.
Blata Nimbus, baratas mutantes que comem restos humanos.
Corvus Pragis, um bicho que consegue burlar os portais e liberar os incautos que entram sem querer no inferno “Milicianesco”. Só que exigem algo valioso do humano em troca.
Para não ter de perder nada que goste para o Corvus, é bom ficar atento. Os portais relatados são: estradas, elevadores e até um divã é citado nessa mitologia tupiniquim.
Mas, claro, pra acessá-los, é preciso um misto de vibração certa com o ambiente adequado. Um dos vídeos do canal do Milici no Youtube ensina dez maneiras de acessar os portais.
Fica a dica pra quem quiser tentar.
Eu preferi ir pra Setealém de outro modo.
Através dos relatos de quem jura de pés juntos que visitou esse mundo. Por enquanto, eles garantem uma boa dose de “pulga atrás da orelha”.
Se Setealém existe ou não, deixo o próprio Milici responder:
— Se Setealém não existe, eu sou um gênio do marketing. — ele diz nas entrevistas.
Ah, quase que eu esqueço. Eu não mencionei um detalhe da primeira história que ele contou, a do ônibus. Lembram que ele voltava da faculdade?
Pois, é. Ele era estudante de publicidade.
Comentários (2)
SETEALÉM É UMA VERDADEIRA ESTRÁTÉGIA DE MARKETING PRA QUEM É ASSOMBRADO. MAIS NÃO PASSAM DE HISÓRIAS CRIA POR IMAGINAÇÕES MUITO FÉRTEIS, MENTES ASSOMBRADAS QUE SONHAM SEUS PRÓPIOS MEDOS E ACREDITAM QUE SEJAM REAIS. BOAS HISTÓRIAS.
Não, Jhenifer, não são história criadas por mentes férteis. Um computador quântico chamado Willow acabou de confirmar a existência de realidades paralelas (mesmo que nativos de diferentes países já haviam afirmado a existência dessas realidades.) O mundo é completamente espiritual, e eu acredito que essas pessoas tenham acidentalmente visitado tais realidades paralelas (por isso mesmo elas nunca se encontraram, cada realidade é diferente, porém igual. A mesma coisa acontece quando você toma certa decisão: você foi pra uma realidade paralela onde aquela decisão foi feita. Por exemplo, se eu decidisse não comentar, nós estaríamos em uma realidade onde esse comentário não existe, porém ainda estaríamos vivendo nossa vida normalmente, entende?) E se Setealém fosse uma lenda urbana, ou brincadeira, acredito que já teria sido esquecida a esse ponto – esse relato foi postado em 2024, Setealém ficou famosa em 2015.