Indigna, mas não choca: carta aberta às Izas mundo afora

A cantora Iza rompeu relacionamento com o pai de sua filha Nala, após descobrir traição

Quando a cegonha bate à porta é um choque, mesmo que este seja o plano. Gerar um ser, guardar um corpo dentro do seu, e, mais que isso, se despedir da pele que habita para ter outra forma, é lindo, mas solitário dentro das inseguranças. Quem deveria ser suporte maior é aquele que ajudou a conceber a criança, vulgo pai.

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Grávida de seis meses, Iza se tornou mãe solo antes mesmo de parir (Foto Instagram)

Mas, na minha missão às vezes amarga de desromantizar o imaginário feminino quanto à maternidade, não, não foi somente com a cantora Iza, grávida de seis meses de uma menina que se chamará Nala. Estudo feito pelo Journal of Clinical Medicine mostrou que uma a cada dez mulheres grávidas são traídas nessa mesma condição.

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Ainda conforme a pesquisa, a medida em que a gestação evolui, as chances de o parceiro procurar companhia de outra, crescem. Eu já passei por duas gestações. Ambas ocorreram dentro do esperado, sem percalços. Porém, foram suficientes para entender que a espera não é somente pelo bebê.

O parceiro, quando se faz presente – lembrando que 172,2 mil bebês foram registrados sem o nome do pai no Brasil em 2023 – também entra num modo de espera. A disposição não é a mesma para tudo, inclusive para cama e assuntos relacionados à intimidade.

Aí entra aquele lero-lero de que homem não pode esperar porque é instinto. Que balela! O instinto de trair a esposa grávida ficou para eles e o materno, para nós. Que plano infalível!

Consagrado pela sociedade que tem na ponta da língua a resposta de perdão ao pai que trai a companheira, “coisa de homem”, mas que condena a mulher que decide não ter filhos, cravando um belo “assim você nunca vai conhecer o amor de verdade” no nosso peito.

Iza, mesmo com estrutura financeira que certamente a confortou para bater o martelo no rompimento, vai ainda provar o calvário do puerpério, solitário por si só, piorado sem o pai da criança. Uma das fases mais melancólicas da maternidade, época de adaptação ao bebê e à nova vida. Marcado pela montanha-russa hormonal, com plus da privação de sono.

Sangramos por 40 longos dias no pós-parto. Este, no entanto, tem data para sanar, ao contrário da ferida aberta por se ver parida e traída. E quantas dessas que dão rosto ao estudo acima não tiveram, por inúmeros motivos, oportunidade de romper. Estão acorrentadas econômica ou emocionalmente.

Sabemos que nem sempre o dinheiro é quem conduz o rumo da prosa, vide o caso mais antigo também de um jogador que traiu a namorada grávida. Milionário que bate ponto na Europa ou jogador da série B, tanto faz.

Que sacanagem! Como pode um pai ter respeito pelo filho, que sequer veio ao mundo, se não o faz com a morada dele? Deixo aqui às Izas que me leem neste momento, a reflexão de que um cara que não respeita um dos momentos mais vulneráveis da vida de uma mulher com certeza não seria companheiro das intermináveis noites insones.

Não respeitaria o tempo de resguardo não só físico, mas também mental para tentar retomar o mínimo contato (lembrando que não há prazo para isso). Um cara desses não estaria na jornada do trocar, ninar, auxiliar na hora de amamentar.

Um cara desses não seria pai, nunca se sentiu um, nunca será por completo porque mesmo o fato de sua filha existir no ventre da mãe, não foi suficiente para freá-lo. É assim, Izas.

Encaramos o “nasce uma mãe, nasce uma culpa” e toda carga que essa frase traz desde o primeiro minuto do positivo; já os caras, ahhh esses não vestem a capa de pais nem mesmo quando a vida pulsa ali aos seis meses de gestação.

Parafraseando sua música “Fé”, desejo que você, Iza; a menina Nala e todas as mulheres que passam por situações como essas, tenham “fé para enfrentar esses filha da puta“.

Bônus

Quero fazer aqui um adendo: se você é pai e não se encaixa em nada que escrevi acima, parabéns! Tá agindo como um homem que colocou uma criança no mundo e se responsabiliza por isso, a exemplo de 99% das mães normais e jamais cultuadas por se debruçar à criação da prole. Se te incomoda, talvez seja hora de rever se não lhe serve a carapuça, pelo menos um pouquinho.

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista E eu nem queria ser mãe, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Comentários (1)

  • Brigida Aparecida da Silva Godoy

    É muito constrangedor saber que ainda isso acontece,já a criança e a mãe já vem com o estigma que não pode contar com o parceiro,que a traí porque é coisa de homem,isso é coisa de egoísta, imaturo,mas tudo o que se faz de incerto e de forma egoísta tem a lei do retorno ?️?

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