Internetês
A linguagem usada nos meios virtuais é mais um exemplo de como a comunicação é adaptada a diferentes realidades
A popularização da internet nas últimas duas décadas trouxe mudanças marcantes na vida de grande parte da humanidade. Mudamos o jeito de trabalhar, de fazer compras, de pagar e receber dinheiro… Houve transformações também na forma com que nos comunicamos. Não é exagero dizer que surgiu um novo idioma: o internetês.
Palavras reduzidas a duas ou três letras. Caracteres que são usados de tal forma que criam figuras que expressam emoções. Quem se comunica por mensagens de texto em meios eletrônicos e usa redes sociais com certeza já se acostumou com expressões como essas a seguir:
blz, fds, ksa, obg, sqn, cmg, d+, vlw, rsrs (adaptações do português)
bff, lol, omg, 4U (adaptações do inglês)
\o/ :\ :,-( :- ))))))
(para quem não fala o idioma internetês, no fim do texto tem a tradução)
Esses são alguns exemplos do internetês. Também fazem parte dessa linguagem os GIFs (Graphics Interchange Format), que fazem a compactação de várias cenas, exibindo movimento, e os emojis (ou emoticons), que são representações gráficas que transmitem uma ideia, emoção ou um sentimento.
O internetês surgiu para tornar a comunicação mais rápida e dinâmica nos meios digitais, mas já ultrapassou o universo cibernético de computadores, tablets e smartphones. A linguagem foi parar nos bilhetes manuscritos e até mesmo em textos que poderiam ser considerados mais formais, como nos ambientes profissionais e nas salas de aula. A fronteira entre a linguagem online e offline parece estar cada vez mais estreita. E quem não adotou o hábito do idioma cifrado da internet muitas vezes é até rotulado de ultrapassado e desatualizado.

Doutora em Estudos Linguísticos e professora da faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ana Larissa Adorno Oliveira faz pesquisas sobre texto digital. Para ela, nos espaços em que é utilizado, o internetês sugere fluência, atualização e familiaridade com o mundo cibernético. A pesquisadora acredita que os impactos da linguagem da internet estão associados a componentes que podem gerar o sentimento de comunidade. Ana Larissa lembra que a língua é algo que está sempre em construção, é feita daquilo que fica e daquilo que muda. E acrescenta: “É nessa perspectiva que o internetês precisaria ser visto, sem preconceitos, pois, como nos lembra Belchior, o novo sempre vem”.
Quando questionada se o esse tipo de linguagem é bom ou ruim, a professora doutora explica que, do ponto de vista científico, nenhuma variação ou uso linguístico pode ser rotulado como positivo ou negativo. Quando os usuários de uma rede social se comunicam, eles, em geral, esperam encontrar internetês e não linguagem formal. Nesse contexto, o internetês é uma forma muito eficiente de comunicação.
“Naturalmente, não será o internetês a variação preferida para a produção de um texto formal escrito, em certos âmbitos sociais, por exemplo, o acadêmico. Mas isso não significa que seja ruim”, afirma a pesquisadora. Ana Larissa conclui: “O que precisamos é de um sistema de ensino forte, em que os estudantes possam se tornar multilíngues em seu próprio idioma, transitando pelas várias camadas da vida social, com fluência, segurança e criatividade.”
E para quem não é fluente em internetês, abaixo está o significado das expressões que aparecem no começo do texto:
blz – beleza
fds – fim de semana
ksa – casa
obg – obrigada
sqn – só que não
cmg – comigo
vlw – valeu
rsrs – risos
bff (do inglês “best friend forever” – melhor amigo/a para sempre)
lol (do inglês “laughing out loud” – rindo muito alto)
omg (do inglês “oh, my God” – oh, meu Deus)
4U (do inglês “for you” – para você)
\o/ cara de espanto
:\ indeciso
:,-( chorando
:- )))))) muito bom!
