Isabella Nardoni faria 22 anos e demorei 15 para entender o que isso significa
Aniversário da menina, que hoje seria mulher, ocorreu na quinta-feira (18)
Era março de 2008 quando mais uma criança teve a vida abreviada pela violência. Eu havia acabado de ingressar na faculdade de jornalismo, tinha recém completado 20 anos e a maternidade estava beeeem longe da minha realidade.
Mas, como futura jornalista, eu precisava ter um olhar diferente em um caso que parou o Brasil. Isabella Nardoni era o nome dela. Menina de cinco anos, jogada do 6° andar de um prédio de luxo em São Paulo.
Os suspeitos eram o pai e a madrasta da menina que, até hoje, nunca confessaram. Junto a um grupo de alunos, fui incumbida de falar sobre o crime durante exercício em sala de aula.
Me lembro de termos feito cartaz, ensaiado certinho o que cada um falaria em frente ao restante da turma. Em seguida abriram roda de discussão, houve troca com os professores Foi uma sensação de êxtase naqueles jovens que ainda acreditavam que poderiam mudar o mundo.
Esta semana essas lembranças me tomaram a memória quando vi um reels publicado pela mãe de Isabella, Ana Carolina de Oliveira, no qual a frase inicial já me tirou a concentração: hoje você faria 22 anos! Caramba, 22 anos! Isabella teria feito na última quinta-feira (18), 22 anos.
Como passa rápido o tempo… Como a gente muda. Olhando aquela menininha de sorriso largo das fotos que passavam em sequência ao som de uma música triste, meu coração gelou.
A partir do momento em que você se torna mãe/pai, uma síndrome te venda e qualquer criança que esteja no seu campo de visão, automaticamente, se torna seu filho.
Não, não estou dizendo que você se sente pai daquela criança em si, mas, sim, que aquela criança representa o seu filho de alguma forma.
Nos tornamos empáticos aos pequenos e às suas histórias. Nos colocamos no lugar dos pais e, obviamente numa escala quase ínfima em comparação a que eles sentem, também sentimos.
Agora, só agora, quando me deparei com esse compilado de imagens felizes daquela mãe e filha, foi que senti o nó se formar na garganta.
O sorriso que emoldurava os pequenos dentes de leite da Isabella me lembraram os de Maria Cecília, minha filha, que completará 4 anos no dia 9 de junho. Isabella, quando partiu, tinha 5 para 6. Então, quando me dei conta, pensei: como viver sem minha filha? Como deve ser a dor de pensar “hoje ela faria 22 anos”? Meu Deus! Mãe nenhuma deveria passar por isso.
Não sei de fato como é, mas só de imaginar não consigo pensar em nada diferente do que: perder um filho é morrer em vida. Isabella faria 22 anos… Mas há 16 não está mais aqui. E o intuito deste texto eu nem sei bem qual é.
Talvez falar sobre a importância de políticas públicas voltadas à segurança das crianças, talvez abordar o luto materno, talvez lembrar de um caso que parou o Brasil anos atrás e o que ele ainda representa. Talvez isso tudo.
Ou, pensando melhor, talvez te falar, sem a menor hipocrisia, para abraçar, cheirar, amar seu filho. AGORA. Seja ele de seis, vinte e dois ou cinquenta anos. Tê-los aqui em um mundo tão do avesso como o que vivemos é um baita privilégio.
Pegue o lencinho e veja abaixo o texto escrito por Ana Carolina na postagem do vídeo:
Neste dia, você, sem ao menos saber, realizou o meu grande sonho: o sonho de me tornar mãe. Não poderia ter sido melhor, não poderia ter sido diferente.
Você me ensinou muito desde a sua chegada, desde o nosso primeiro encontro, nosso primeiro abraço até o nosso último.
Só quero que você saiba que meu coração, meus pensamentos, são sempre seus. Sempre sentirei a sua falta! Saudades infinitas, minha eterna boneca.
Eu te amo muito!
Ana Carolina, mãe de Isabella Nardoni
Comentários (1)
E os responsáveis pela morte dela estão bailando por aí, infelizmente