Miss Nepal e a gordofobia disfarçada de cuidado
Admita, você não está preocupado com a saúde da pessoa obesa
Em pleno concurso de Miss Universo, a emblemática competição entre, literalmente, as mulheres mais lindas do mundo, uma cena derrubou o queixo dos espectadores: em seu maiô, uma mulher com medidas bem diferentes do padrão, desfilava sua segurança com passos firmes. A manchete de uma candidata plus size concorrendo ao Miss Universo foi o bastante para os seguidores brasileiros destilarem galões de gordofobia disfarçada de cuidado.
Em uma publicação nas redes sociais sobre a Jade Garret, a miss Nepal, cometi o erro de ler os comentários. Perdi a conta das vezes que alguma pessoa magra disse “Parem de romantizar a obesidade” ou “Gordura é doença e ponto”. Bem, permita-me dizer que a hipocrisia é uma doença bem mais nociva que um manequim 48.
Acho interessante que a criatura que deixa seu rastro de chorume em um comentário criticando a miss que não é magra, é incapaz de admitir que sua vida está bem longe de ser saudável. Fuma, bebe, cheira, bafora e não come, por isso está magro. Vira noites em festas e não dorme. Toma remédio como se fosse pastilha. Quando come, faz um miojo ou pede um delivery. E você tem a cara de pau de me dizer que o colesterol alterado é o da pessoa gorda?
A mulher com fotos de biquíni tem tendência genética à obesidade, e luta contra isso tomando sibutramina e pagando um salário mínimo numa caneta para se injetar medicamento, sem prescrição médica. Vive de shake, remédio e vodca, mas enche a boca para dizer que a gorda é que está doente.
Admita, você não está preocupado com a saúde da pessoa obesa. Quer apenas apontar que na competição pelo padrão estético você está na frente, mesmo que sua magreza seja a custo de drogas e compulsão por exercício físico.
Você pode estar magra às custas de anemia profunda, resultado de uma dieta maluca.
Você pode estar usando manequim 38 com a saúde mental totalmente estragada.
Você pode posar de biquíni depois da lipo, e ter um colesterol nas alturas.
Você pode tirar foto no espelho da academia jurando que é disciplina, mas é anabolizante.
Sua preocupação não é com a saúde da miss gorda. É por ela ocupar um espaço que você não ocupou, e teve que se sacrificar para se enquadrar em outro.

A gordofobia no país do biquíni é a fina flor do preconceito velado. É impossível admitir que a pessoa acima do peso se sinta confortável com seu corpo, porque você não conseguiu fazer o mesmo.
A culpa que recai sobre a mulher no fim de um dia que não conseguiu se exercitar, é reflexo do sentimento de não ser desejada. Se não estiver magra, não estará bonita, não ficará bem no vestido. O olhar de desejo de seu marido vendo a foto da influencer lipoaspirada, lhe cai como uma bomba na autoestima. Ela, exausta, engole a frustração. Você tem ideia do quanto isso é doentio?
Nós, mulheres normais, que não temos acesso a todo o aparato estético dessas que seguimos (e enriquecemos), estamos sempre em débito com a “vida saudável”. Mesmo o exame de sangue parecendo um boletim escolar cheio de notas boas, se não cabemos naquela calça dos 20 anos, não nos sentimos saudáveis o suficiente – e então derramamos nossa frustração dizendo que a miss gorda descaracterizou o concurso.
Aceitar corpos normais é uma questão de educar nosso olhar, e antes ainda, uma questão de bom senso. Sempre vale aquela pergunta: ao comentar sobre o corpo de outra pessoa, estarei sendo inconveniente? Sim, estará.
Jamais dê uma opinião não solicitada sobre o corpo de outra pessoa. Quem pode relacionar sobrepeso com questões de saúde é justamente o profissional de saúde, com os exames na mão. Você não está realmente pensando na saúde da pessoa gorda. No seu caso, não é empatia, é só gordofobia mesmo.
Comentários (4)
Olá!! Marcus Souza, em Sinop.
Simplesmente maravilhoso o seu texto. Em poucas palavras, mostra que a gordofobia está disfarçada em preocupação.
Parabéns!
Fica uma sugestão: vc poderia falar das pessoas que buscam a boa forma a todo custo, sem se preocupar com a saúde.
Eu estou longe de ser magro, tenho tendência natueal a ganhar peso luto contra o sobrepeso todos os dias, passo fome, acordo cedo e faço muitos sacrifícios pra não engordar. Por isso, sigo acreditando que GORDURA É DOENÇA SIM e ao defender a beleza de gordas, a mídia woke está MATANDO pessoas todos os dias fazendo-as acreditar que gordo é saudável. Problemas cardiovasculares matam meio milhão de brasileiros por ano, esta sim a verdadeira Pandemia da Obesidade e má alimentação que devemks combater. A mídia quer que você continue gordo e morra! Não sei se a autora do texto faz parte dos que sofreram lavagem cerebral ou dos que querem contribuir pra esse projeto mórbido de acabar com a saúde dos brasileiros, em todo caso melhor não acreditar nela. EMAGREÇA! lute pela saúde do seu corpo hoje mesmo.
A lavagem cerebral é uma doença ainda mais grave que tudo isso. As pessoas adoram acreditar na ciência. Ainda mais quando lhe favorecem. Mas nesse caso a OMC(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE), parece ter perdido o crédito. A OMC ainda tem o IMC(índice de massa corporal), que não acompanhou a moda plus size. As pessoas estão ficando obesas porque o nosso padrão visual é que mudou, mas o OMC continua imutável. Falei pra doutora que eu estava acima do peso, segundo a OMC, ela negou. Faltou pouco me chamar de gostoso, pela expressão que ela fez. Mas o que importa é que eu, com 1,70m de altura e 94kg,um padrão considerado ‘normal’ pela sociedade leiga, me enquadro em obesidade graus 1. Fica a dica. E parem de normalizar a o obesidade
Gordura pode se tornar doença. Anorexia e bulimia sempre serão doenças. Mas as “pele e osso” podem. As gordinhas não. rsrs
Não estamos falando em obesidade mórbida. Estamos falando em sobrepeso q é o suficiente pra rotular como gorda. OS PADRÕES DE BELEZA ENGESSADOS PRECISAM SIM MUDAR.