Mulher de 40, e agora?
Hoje faço 40 anos e sabe o que mudou dos 39 para cá? Isso mesmo! Absolutamente nada.
Hoje faço 40 anos.
Estranho pensar que até ontem eu não tinha nenhum carimbo, era só uma mulher comum preocupada em lutar pelos meus sonhos. Mas hoje não: amanheci com uma placa de “Senhora” em cima da cabeça e uma ampulheta gentilmente virada pela sociedade mostrando minha contagem regressiva.

De repente as pessoas começaram a me olhar diferente, e tudo isso porque não sou mais uma aceitável mulher de 30 e poucos anos. Sou divorciada e sem filhos, que usa short no pagode sábado à tarde.
Agora devo me comportar melhor, frequentar outros lugares, trocar a roupa curta por algo mais adequado, começar a ter alguma vergonha do meu corpo e acima de tudo, deveria me dar ao respeito, porque afinal, não tenho mais idade para certas coisas.
Beber, dançar e chegar em casa de manhã é coisa de menina, não fica bem para uma mulher de 40 anos.
O que se espera de mim agora é cortar o cabelo bem curto, assumir os brancos, dedicar meu tempo a fazer crochê e me conformar de nunca mais arranjar um namorado porque mulheres maduras são automaticamente descartadas.
A partir de hoje devo viver a vida ostentando uma certa aura de amargura, pelo tempo que passou rápido demais. Devo me sentir deslocada com essa idade por não ser a respeitável esposa de alguém, nem a mãe de dois adoráveis adolescentes.
Encerro a conta na loja de blusinhas do bairro para abrir uma na clínica de botox. Meu destino agora é aceitar a idade como uma sentença e me adequar ao que se espera de uma mulher que acaba de dobrar o Cabo da Boa Esperança na vida. A partir daqui, vivo para esperar a aposentadoria.
Sinto muito, mas não sou obrigada.
Inclusive, faço questão de ter essa conversa depois de subir dois dedos a barra do vestido.

Sei fazer crochê, tricô e bordo um ponto cruz como ninguém, e se tivesse grana agora eu botava um megahair gigante no cabelo. Nessa forma já não cabe uma massa do meu tamanho.
Nunca estive tão longe do estereótipo de “mulher madura”. Me recuso a murchar como um buquê de rosas que aceita seu destino de ir para o lixo. Murcha é a autoestima de quem julga. Eu sou FABULOSA!
Nunca me senti tão linda e incrível quanto hoje. Minha saúde está em dia, meu cabelo brilha, me equilibro bem num salto 10, amo meu trabalho, ganho dinheiro suficiente para viver em paz, compro um vinho decente para engolir os dissabores e só não tenho uma conta no tinder porque gente louca me dá gastura. Sou solteira e acho lindo o vôo solo.
Não aceito esse carimbo.
Não envelheci do dia para a noite. Caminhei para a maturidade com força e serenidade, batalhei por cada dia, e duvido você cruzar com um dos meus leões por aí porque matei todos.
É como se as pessoas gostassem de sentar e assistir a ação cruel do tempo sobre as mulheres que, ao contrário dos homens, não ficam “charmosas” quando envelhecem. A partir de hoje a idade vai começar a ser fator importante para fechar portas na minha vida, e garanto a vocês que vou chutar cada uma delas.
Hoje faço 40 anos, e sabe o que mudou dos 39 para cá? Isso mesmo! Absolutamente nada.
Não fez a menor diferença. Simplesmente cheguei nos “enta”, esse lugar do qual a gente dificilmente sai, e sinceramente, nem eu quero ser uma feminista centenária.
Se a coluna já dói desse tanto hoje, Deus me livre viver mais 60 anos. Me disseram que agora devo “pensar no futuro”, vulgo pagar uma previdência privada que me banque a velhice numa boa casa de repouso, já que não tive filhos.
Quem sabe economizar o dinheiro da cerveja para investir num futuro que nem sei se vai chegar. Eu, hein? Sai fora!
A maturidade é uma fase linda na vida da mulher. É o momento em que ela se sente mais forte, poderosa, ciente de quem é.
A gente não pode deixar que um preconceito estúpido nos tire o brilho de envelhecer. Etarismo é um horror, um costume demodê que destila a inveja, o ranço de ver uma mulher incrível passar pelos estágios da vida ficando mais cheia de si.
Agora, não vejo a hora de chegar aos 50 anos. Minha vida foi espetacular até aqui (às vezes um espetáculo de absurdos, OK, mas ainda assim um espetáculo) e quero ver o que mais ela tem a oferecer, que outras lutas vou travar, que outras conquistas virão para me orgulhar.
Não olhe para uma mulher de 40, 50, 60 anos com a condescendência da pena. Ela não é digna da sua piedade. O comentário jocoso mascarado de elogio, o “você nem parece ter essa idade”, pode economizar tudo isso.
Olhe para ela com admiração, porque vencer o que vencemos para chegar até aqui não foi fácil. A vida cobra um preço alto, e pagamos cada centavo.
Mulher de 40, e agora?
E agora nada.
Segue seu baile, peça outra garrafa de vinho, faça um ensaio fotográfico, dê uma festa, mude de carreira, faça um curso, planeje uma viagem, peça o divórcio, engate um namoro, mude de casa.
A vida é muito curta para nos apegarmos ao que se foi. Há um mundo cheio de coisas para viver, sentir e amar, e não precisamos pedir permissão para entrar mostrando a data de nascimento.
Tem uma vida mais brilhante do lado de cá, esperando por mulheres maduras e felizes para um dueto absolutamente perfeito.