Jaqueline Naujorks

Não sou obrigada a ser coadjuvante da sua história

O protagonismo de uma mulher ao lado da pessoa com quem se relaciona nunca deveria ser motivo de crítica. Protagonismo não é uma liberalidade, não é um papel que alguém te cede como favor. É um espaço conquistado aos milímetros e mantido a duras penas por qualquer mulher – e nós sabemos bem o quanto […]

O protagonismo de uma mulher ao lado da pessoa com quem se relaciona nunca deveria ser motivo de crítica. Protagonismo não é uma liberalidade, não é um papel que alguém te cede como favor. É um espaço conquistado aos milímetros e mantido a duras penas por qualquer mulher – e nós sabemos bem o quanto isso custa.

Uma mulher que brilha demais ocupa um espaço gigantesco no mundo. Ela preenche qualquer ambiente, domina as conversas, chama a atenção sem fazer qualquer esforço. Se for hétero, essa mulher tem basicamente dois horizontes na vida: ou se relaciona com um homem muito seguro, ou não se relaciona com ninguém.

O machismo estrutural, aquele tão arraigado em um costume infeliz que custamos a desconstruir, nos trouxe uma safra de homens que simplesmente não sabe lidar com uma mulher que brilha demais. Essa figura lhe incomoda profundamente, um incômodo que inquieta e provoca as reações mais infantis, como se jamais tivéssemos saído da quinta série. A atitude dela lhe causa um tipo muito particular de repulsa, de ódio deliberado mesmo, e constantemente essas mulheres são transformadas em alvo de hate nas redes sociais.

Para os homens que não se incomodam com a presença maciça de uma mulher forte, o papel de protagonismo oferecido a ela não é um sacrifício – e é aqui que queremos chegar.

Um homem que te impõe como condição para o relacionamento a obrigação de ser discreta, quieta, abaixar a cabeça e dizer amém, ele não quer uma esposa, ele quer um apêndice. O papel de protagonista é dele, você foi escolhida como coadjuvante e jamais será promovida a coisa nenhuma além disso. Você sai do papel de uma mulher luminosa e passa a ser um lindo abajur decorativo que só brilha quando ele aperta o interruptor.

Se você é mulher e chegou até aqui nesse texto, sei que está passando um filme na sua cabeça. Se você é homem e chegou até aqui nesse texto, permita-me um conselho simples:

Sua mulher não é sua oponente. Ela não está disputando espaço algum com você. Vê-la brilhar argumentando sobre política e economia com seus amigos no churrasco de domingo não deveria te despertar a vontade de tirá-la dali. Sim, ela será admirada. Se isso for um problema, essa conversa precisa continuar dentro de um consultório numa bela sessão de terapia.

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Uma mulher que brilha não pode ser um problema para um homem, e muito menos, para outra mulher. Ocupar espaços que sempre foram majoritariamente masculinos é uma luta coletiva. Levantar a voz e se fazer ouvir é por todas as mulheres, é um caminho que abrimos tirando os espinhos com as mãos para que nossas filhas possam passar por ele.


Escolha para você um amor que te coloque no centro do palco, acenda a luz e coloque uma cadeira a seu lado. Devote seu tempo a alguém que, na hora do aplauso, aponte para você.

A gente não pode se condicionar a ser apenas uma participação especial na história de outra pessoa. Você não merece tão pouco, eu não mereço tão pouco, ninguém merece tão pouco. A apresentação de cada um de nós nessa vida é muito curta para nos contentarmos com os bastidores escuros de uma existência secundária e apagada.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Não Sou Obrigada, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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