No hospício do machismo estão as mulheres mais lúcidas

Para desqualificá-la vale tudo: não cuidava da casa (não tinha mínima ajuda), usava roupas inadequadas (desaprovada pela moral e bons costumes), era temperamental (sobrecarregada), sem postura de mulher comprometida (não queria assumir as tarefas sozinha)

É clássico. Todo homem abusivo, antes que lhe caia a máscara, propaga aos quatro ventos o quanto sua ex é louca. Aponta defeitos, descreve trejeitos. Coloca exatamente a mulher no papel de protagonista na trama do macho legalzão que se libertou da megera.

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Mulheres são chamadas de loucas, quando na verdade são sobrecarregadas (Foto Freepik)

Para desqualificá-la vale tudo: não cuidava da casa (não tinha mínima ajuda), usava roupas inadequadas (desaprovada pela moral e bons costumes), era temperamental (sobrecarregada), sem postura de mulher comprometida (não queria assumir as tarefas sozinha).

Desenha situações em que ela perdeu a cabeça, omitindo, claro, o extenso caminho que a fez chegar à exaustão de gritar por sobrevivência. Mas eu tô aqui pra contar como é essa maluca.

A descontrolada acumula jornada de cuidar da casa, dos filhos e resolver pendências do bonitão como, por exemplo, marcar médico, dentista, comprar roupas e até cueca. Prepara o alimento de todos, planeja as férias, incluindo arrumar as malas de geral e calcula milimetricamente tudo que será necessário para passar os dias fora de casa.

A pirada está sempre aberta à mudança, mas só consegue mesmo mudar algo quando é para benefício dele. Abre mão do próprio corpo para torná-lo pai, enquanto ele segue com o futebolzinho regado a cerveja. Pausa a própria carreira para ser uma boa mãe aos seus filhos, se muda de casa, cidade, país para o maridão alçar voos enormes no ofício.

A paranóica estuda sobre educação respeitosa, introdução alimentar, rotina do bebê. Comparece às reuniões escolares, contorna a situação para o queridão não se estressar quando as crias tão mal na escola. Esconde as notas baixas para ele não “educar” as crianças com violência. Quando tudo rui, ela assume a bronca.

E não é que com a separação a doida foi quem assumiu de vez as crianças? E, olha só, ficou ainda mais surtada só porque o paizão sumiu, não paga pensão se não for sob forte ameaça e tá fazendo mais filho por aí com a nova esposa que, ainda, não enlouqueceu.

Ah mas a atual é diferente, né? Esta não é uma descontrolada. Pelo menos não agora, no começo do caminho. Enquanto não percebeu a toxidade que o relacionamento irá alcançar. Porque a longo prazo, sabemos, ele fará com que mais uma se torne ex e se junte às outras no mesmo hospício chamado… machismo.

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista E eu nem queria ser mãe, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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