Jaqueline Naujorks

O dia em que fui ameaçada de morte no tiktok

Não contente, o criminoso ainda ofendeu a memória de uma mulher que perdeu a vida nas mãos de um machista.

Hoje vocês vão ver de perto o tipo de chorume que sou obrigada a lidar todos os dias nas redes sociais. Uma mulher que usa sua voz para defender outras mulheres, precisa estar muito preparada para não esquentar a cabeça com hater, porque toda hora tem um. Eles se multiplicam, compartilham o conteúdo de influencers feministas em grupos de ódio, e o resto do roteiro você já sabe. O que não pode é aceitar de boca fechada o tipo de ameaça que veremos a seguir.

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No dia anterior eu postei no tiktok o vídeo em que falo da Cristiane Castrillon, a advogada vítima de feminicídio, num recorte do Bom Dia MT. O que mais me tirou do sério aqui não foi a ameaça, foi o modo como ele se referiu a ela: “O que houve com a mulher daí foi merecido”. A bile sobe na garganta, não é? A gente sente uma vontade irracional de avançar no pescoço de um homem que não tem rosto.

Não contente, ele diz que está “só desejando mesmo”, mas está claramente me ameaçando: “Tomara que aconteça igual ou pior com você […] tomara que vc ache um que te estupre ou até mate [sic] aí aprende”.

Em seguida, ele desativou o perfil, para que não fosse possível rastreá-lo, mas já aviso de pronto que não adianta. Tudo, absolutamente tudo que você faz na internet deixa rastro. Esse cara, em particular, deixou um rastro importante. Um padrão, uma série de “coincidências” que a polícia vai acompanhar.

Interessante que na sexta-feira, mesmo dia em que vi essa ameaça, comemorava uma vitória na luta contra o stalking: o homem que primeiro me perseguiu, difamou e caluniou na rede social, finalmente foi condenado, depois de 6 longos anos. Sentença na mão, agora só espero que a justiça seja realmente feita. Por hora, não pretendo citar nomes porque afinal, não estou aqui batendo palma para maluco dançar, mas por segurança, 3 jornalistas amigos têm todo o histórico do processo, cada print, cada conversa, cada ameaça, tudo devidamente catalogado.

Cada hater que envia algum texto misógino em tom de ameaça para mim, tem o link de seu perfil incluído numa lista, que envio a uma amiga policial. Cada um deles está mantido em um radar necessário e sempre operante. É um cuidado que qualquer influencer homem não precisa tomar, porque ele não recebe ameaças de estupro, não é?

Qual é o objetivo de ameaçar uma mulher que produz conteúdo para fortalecer outras mulheres?
Calar a voz que lhe aponta os erros.
O que o machão de rede social quer, é que você tenha medo dele.
Que se intimide, que vá chorar embaixo da cama, que exclua suas redes sociais. Era o que esse cara queria há 6 anos, quando resolveu ser meu algoz no facebook. Não só não me calei, como me transformei numa ativista furiosa em defesa da mulher, ajudei a criar uma lei federal efetiva, em pleno vigor, que protege outras vítimas de perseguição. Mesmo sendo da imprensa, já fiz mais que muito vereador. Que ironia, não?

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Uma mulher que grita, é a voz das que estão perdidas no silêncio. (Foto: Ilustração)

Ele não é o único, eles não estão sozinhos, tem uma multidão de machistas que não se contentam em odiar de boca fechada. Eles querem atenção, confete, palco. O homem que me ameaçou, o homem que ameaça as outras influencers feministas, o homem que manda mensagem raivosa no whatsapp, o homem que se incomoda com o conteúdo que eu produzo, precisa fazer uma séria reflexão:
Se você não é um abusador de mulher, por que se dói como se fosse um?

Sinto muito, amigo.
Nesse caso, vou ficar te devendo.
Não é a primeira ameaça que recebo, nem será a última. Uma mulher com a missão que eu assumi precisa se firmar em outra rocha, a da opinião pública. Um belo exposed, deixa a sociedade ciente de quem é o agressor, essa é a sua trilha de migalhas de pão. Uma mulher precisa contar com o aparato da justiça, da Maria da Penha, da lei do Stalking, fazer quantos boletins de ocorrência forem necessários, gritar, berrar, fazer um escândalo.

O primeiro delegado que me ouviu quando fui fazer o boletim de ocorrência contra meu perseguidor, questionando se eu realmente não tinha vínculo com o agressor, me fez essa pergunta:
“Você tem certeza que não o conhece? Porque você bebe, e mulheres que bebem nem sempre lembram com quem se relacionam”.
O machismo estará em todo lugar.
Jamais deixe que ele te intimide o suficiente para interromper a sua luta.

Uma mulher que grita, é a voz das que estão perdidas no silêncio.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Não Sou Obrigada, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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