O peso de nunca ser a escolhida

Vou começar esse texto, excepcionalmente, com um relato pessoal.

Certa vez ouvi de um cara com quem me relacionei, que eu era extraordinária, e justamente por isso não serviria para casar. Sua “justificativa” era que preferia uma mulher menos expansiva, mais modesta e fácil de lidar. Não vou entrar no mérito do quanto essa fala é ridícula, porque obviamente, quem se livrou fui eu. Porém precisamos questionar: por que mulheres extraordinárias não são as escolhidas?

Ocupar muito espaço nesse mundo tem um preço. Se você é uma mulher esclarecida, bem-resolvida, que se posiciona, luta pelo seu lugar no mundo, fala quão alto for necessário para ser ouvida de fato, batalha para crescer e ganhar bem, será considerada uma má escolha quando se relacionar. Homens são socializados para competir, e se você for uma mulher com esse perfil, ele vai te enxergar muito mais como uma oponente do que como parceira de vida.

Todo homem diz que quer uma mulher inteligente, porém, não a ponto dele se sentir diminuído. Ele quer uma mulher batalhadora, mas se você for mais bem-sucedida, ele se sentirá castrado. Homens querem mulheres independentes, que ganhem o próprio dinheiro, mas no final do dia vão esperar que você cozinhe. No fim das contas, não importa quão espetacular você seja, nunca será o bastante.

Uma mulher muito sábia que eu conheci, disse que as mulheres fortes são como uma lâmpada fluorescente no meio do mato. Atrai todo tipo de mosquito, encantados com o poder daquela luz. Eles ficam hipnotizados, voejando em volta – mas se ela se apagar, nem o vagalume fica.

Mulheres fortes serão admiradas, invejadas e observadas sob a lupa do julgamento o tempo todo. Na contramão da onda da desconstrução, o perfil da mulher idealizada pelo conservador de 1950 ganha força. Hoje eles chamam essa mulher de “sábia” – aquela que edifica seu lar. Neste caso, edificar o lar significa perdoar o imperdoável, obedecer e aceitar carregar toda a carga do cuidado doméstico sobre as costas sem reclamar.

É claro que um homem médio vai preferir a mulher que não lhe dê trabalho, e nessa conta, toda princesa que já furou a bolha da Disney não se enquadra mais. Basta você dizer um “não aceito” para ser derrubada do posto de mulher ideal. Nessas horas a gente se questiona: qual escolha devemos fazer, sermos cordatas ou sermos descartadas?

Impossível que não existam por aí homens que saibam valorizar uma mulher extraordinária. Barack Obama não se apaixonou apenas pela beleza de Michelle. Simone de Beauvoir e Frida Kahlo foram casadas, ainda que em modelos de matrimônio pouco ortodoxos. Eu poderia citar aqui uma infinidade de mulheres que não se contentaram com a posição de coadjuvante na história de outra pessoa, que tiveram maridos orgulhosos, aplaudindo na primeira fila o sucesso delas. Não é tão incomum assim (pelo menos a gente espera que não).

Esse entendimento ultrapassado de que mulher precisa ocupar apenas a função de ovelha de presépio, não condiz com as posições de poder pelas quais lutamos e que hoje ocupamos. A figura do homem provedor não é unanimidade nem no censo do IBGE, com mais de 11 milhões de mulheres chefes de família, criando filhos sozinhas.

A independência feminina é tão valorizada quando se fala em dividir despesas, por que ela não é considerada um fator de valor na hora de escolher essa mulher forte, trabalhadora e sem tempo, em detrimento de outra que poderá se dedicar 100% a você?

Toda vez que outra história de amor naufragar e você achar que tem menos peso nesse mundo porque se posiciona sobre seu próprio valor, entenda que o problema não está em você. Mulheres que voaram além das cercas que a sociedade impôs, não devem cortar suas asas para caberem em relacionamentos rasos, onde serão menos exaltadas por seu brilhantismo do que por sua capacidade de ser a esposa perfeita.

Bom mesmo seria que as duas coisas não concorressem, que não fôssemos vistas como um problema. O fato de ser uma mulher ciente do seu poder, não te faz incapaz de ser uma grande companheira, pelo contrário. Quando a sua namorada dá um show no churrasco falando sobre reforma tributária, isso não deve ferir seu ego por não entender nada do assunto. Mulheres gigantescas não deveriam fazer com que homens se sentissem diminuídos. Nós não estamos nessa para competir.

Quando você se questionar do porquê não é a escolhida, lembre-se da famosa parábola das pérolas aos porcos. Às vezes o que você acha que seria uma linda história de amor, terminaria com você juntando seus casos na terapia depois de ter emprestado sua luz a um mosquito qualquer. Ninguém nesse mundo é obrigado a te amar, assim como você não é obrigada a se diminuir para caber na caixinha de namorada oficial, que a sociedade nos faz crer que é um pedestal.

Amor é plenitude e relacionamento é troca, engrandecimento, valorização. Se você não tem essas coisas na mesa, é hora de levantar-se e ir embora.