O primeiro trailer de Maxxxine e O Último Sacramento: temos de falar de Ti West
Sem data definida no Brasil, o filme que fecha a ótima trilogia do diretor norte-americano, estreia em 5 de julho nos Estados Unidos
“Seu sonho era ser uma estrela.”
“Eu sempre quis ser famosa.”
“Mas Hollywood pode ser uma assassina.”

Maxine Minx é uma jovem atriz pornô que sempre quis ser famosa.
São algumas das frases do trailer de um dos filmes mais esperados do terror nos últimos anos. Divulgado nesta semana, ele termina com outra sentença:
“O mundo inteiro saberá o nome dela.”
Parte desse mundo já sabe. Maxine Minx nos foi apresentada em 2022 no ótimo slasher “X- A Marca da Morte”. Vivida por Mia Goth, a atriz de filmes adultos e jeito de jovem ingênua, acaba enfrentando uma grande ameaça durante as filmagens numa fazenda no interior dos Estados Unidos.
A dona da propriedade é Pearl, uma mulher que, a exemplo de Maxine, sonhava em ser famosa. Mas com marido na guerra e um pai PCD, só conseguia atuar para os animais da fazendola durante a limpeza do celeiro. Até que a decepção se transformou numa raiva doentia. Esta é a história do segundo filme da trilogia que, a exemplo deste terceiro, também levou o nome da protagonista.
“Pearl” é, sem dúvida, um dos melhores filmes de terror dos últimos tempos.
Então, pra quem não viu, vamos esclarecer: “X” veio primeiro, mas “Pearl”, uma prequel, conta fatos acontecidos anteriormente.
Quer seguir a história na ordem cronológica? Aí vai:
1) Pearl (2023)
2) X – A Marca da Morte (2022)
3) Maxxxine (2024)
Reparou que há 3 letras “x’ no nome do filme, né? Uma referência ao estilo de filme estrelado por Maxine.
“X” , na antiga classificação indicativa de filmes dos Estados Unidos, alertava que a obra era destinada apenas a adultos – por conter temas sensíveis como violência ou sexo.
Os produtores pornôs, tentando vender ainda mais seus produtos, se apoderaram desse termo e aumentaram o número de “x” para dizer que os filmes continham ainda mais sexo que os demais. E acabou ficando “xxx”.
“Maxxxine” já tinha uma grande expectativa porque “Pearl” elevou o sarrafo de qualidade em relação a “X”. Mas o trailer conseguiu criar ainda mais alarde sobre o sucesso da nova obra.
Ele mostra Maxine numa audição para o papel de um filme de terror em Hollywood.
A data? 1985.
A cidade? Los Angeles.
E o que aconteceu de terrível nesse ano e nessa cidade? Já escrevi sobre isso na coluna. Se quiser recordar, clique aqui.
Enquanto Maxine é procurada por um detetive particular (Kevin Bacon) pelo que aconteceu na fazenda de Pearl, policiais da capital do cinema caçam um dos piores serial killers da história: o Night Stalker.
Richard Ramirez entrava na casa das pessoas, estuprava mulheres e crianças e as assassinava friamente. Demorou muito até que fosse capturado.
O trailer traz, ainda, uma cena de Maxine no corredor de um hotel que pode, muito bem, ser o Cecil Hotel, conhecido como assombrado e que foi morada de Ramirez. E, claro, se tem sobrenatural por lá, também já falamos na Toda Sexta é 13. Veja história do Cecil clicando aqui.
É muita coisa boa junto. Mas tem um problema.
Ainda está muito longe da estreia.
Então, que tal conhecermos um pouco do maluco que nos trouxe essas três pérolas do cinema do horror.
O diretor e roteirista Ti West tem 43 anos e desde 2005 faz filmes de terror. Dois deles assisti recentemente, até procurando conhecer mais do cara por trás de dois dos meus filmes prediletos.
O primeiro foi Hotel da Morte (The Inkeepers, 2011), disponível no Prime Video.
Com baixo orçamento, o filme é apenas ok. Mas é possível perceber que, com mais grana e prestígio, ele chegaria aonde chegou.
O roteiro tem dois personagens principais: Claire e Luke. Eles são recepcionistas do hotel Yankee Pedlar. Centenário, o empreendimento vai fechar as portas e Luke tenta driblar o desemprego capitalizando sobre uma história sombria acontecida no local décadas atrás.
Uma das hóspedes, abandonada pelo noivo no dia do casamento, teria cometido suicídio num dos quartos.
O rapaz cria um site sobre o evento e faz vídeos sobre acontecimentos bizarros que ele teria flagrado no hotel.
Claire, atraída pelas histórias do colega, passa a gravar sons pelos ambientes abandonados do imóvel — Luke diz que a câmera de vídeo quebrou.
Imagine se ela não vai captar um choro e um musiquinha de gelar a espinha?
Nessa receita linear — sim, não tem nenhum plot twist que vai virar a história de cabeça pra baixo — ainda há lugar para saudosistas se encontrarem com Kelly McGillis, a eterna namorada de Tom Cruise na primeira versão de Top Gun – Ases Indomáveis. Irreconhecível, ela vive uma atriz famosa que esconde um segredo.
Vale a pena assistir? Por curiosidade, sim. Mas não espere Ti West em grande forma.
O que já melhora muito, apenas três anos depois, quando ele escreve e dirige O Último Sacramento (The Last Sacrament), também encontrado no streaming como apenas O Sacramento. É possível assistir na Darkflix + ou alugar na Prime por R$ 6,90.
Patrick é um fotógrafo de moda que recebe a carta de sua irmã, uma dependente química que se isolou numa comunidade religiosa (leia-se seita) no estado norte-americano do Mississipi em busca de tratamento.
Os fiéis construíram as próprias casas e vivem sem qualquer tecnologia e ameaças das grandes cidades.
Todos venderam tudo o que possuíam e entregaram para o líder desse culto: um homem conhecido como Pai.
É incrível a semelhança do ator Gene Jones com João de Deus, o tarado que enganou milhões de pessoas em Abadiânia, Goiás, usando a fé para estuprar pessoas vulneráveis.
Patrick é convidado a visitar a irmã na comunidade.
Mas ele não vai sozinho.
Leva dois amigos que trabalham num programa de jornalismo investigativo. O objetivo é fazer um documentário sobre a comunidade.
O local é tão isolado que só é possível chegar de helicóptero. E a entrada é protegida por homens armados com metralhadoras.
West trabalha muito bem o conceito de found footage. Grande parte das cenas é apresentada como se estivesse sendo gravada pelo cinegrafista do programa investigativo.
Momentos de empatia e de desconfiança vão se alternando até que o inevitável acontece.
Esses filmes de seitas religiosas sempre me chamam a atenção.
Como é possível que uma única pessoa consiga manipular tantas outras usando suas fraquezas e o nome de Deus?
Apesar de eu preferir que Ti West tivesse mergulhado mais profundamente nessa dúvida, ele consegue fazer um filme interessante.
É incrível como as pessoas no fundo do poço não conseguem perceber que a salvação que idealizam, na verdade, não passa de um explorador de boa lábia.
Frustrações são perigosas.
É o que mostra a arte desse diretor.
Seja por não alcançar o sonho de ser famosa, seja por não conseguir enfrentar a dureza da vida.
Tudo é muito assustador.
Seja uma atriz frustrada, um picareta religioso, um fantasma com raiva ou um serial killer na meca do cinema.
Quando o assunto é terror, Ti West é “XXX” da questão.
Que venham mais ideias sombrias!