Para mães que não fazem nada o dia todo...
Mulheres que ficam em casa cuidando dos filhos têm que encarar o julgamento alheio
O relógio marca 05h da manhã e logo começa o primeiro (ou último?) turno do levantar/balançar/amamentar/ adormecer antes que o bebê acorde de uma vez para iniciar o dia.
Este rito já ocorreu algumas vezes durante a noite, mas, não tem problema, afinal você não faz nada da vida mesmo, não tem horário para bater ponto, nem chefe te esperando.

Filho desperto, hora de dar o café da manhã, deixa para depois a troca de fralda, mas, vixe, tá cheia! Limpa bumbum, passa pomada, tira pijama. Hora da distração até a primeira soneca chegar.
Brinca, passeia no quintal, canta. Coçada de olho, irritação, mão na orelhinha. Hora de ninar. Dez, 15, 20 minutos e o soninho chegou. Haja braço!
Corre, engole um café frio, tira o pijama e tenta organizar a casa, o dia, a vida, mas já deu o ciclo de sono e seu filho está em pé novamente.
Haaa não tem problema! Cê tem tempo de sobra, né? Nem trabalha… A manhã passou voando, segue o baile do ‘brinca um pouco’ que já já tem troca-amamenta-nina.
Os ponteiros indicam que metade do dia se foi – e você sequer escovou os dentes. Bora agilizar o almoço. Mas, havia um bebê no meio do caminho, no meio do caminho havia um bebê. Para evitar chororô, faz tudo com ele no colo mesmo.
Almoça rápido, arruma a bagunça, dá banho na cria, mámá e sonequinha. Opa! Hora de respirar um pouquinho? Nãooo, há muito o que se fazer. Pra que descansar? Nem emprego você tem. Fica em casa o dia todo…
Bebê acorda. Frutinha da tarde, mámá em livre demanda, cocô explosivo, roupinha suja. Limpa, limpa, limpa. Brinca um pouco e o sol já está indo embora.
Dá uma volta no quintal pra estimular a melatonina. Faz ritual noturno. Luz baixa, banho, mámá, ruído branco. Nana-nenê. Ufa, dormiu. O dia voou e ainda são 20h.
Dá tempo de terminar aquela arrumação ou ver uma série. Ver série? Ah é! Você não trabalha… tem tempo de sobra.
Vai para o banho enquanto decide o que fazer. Mas ouve um chorinho. Sai com pressa. Mal se seca e lá se vai o primeiro (ou último?) turno do levantar/balançar/amamentar/adormecer.
É melhor cochilar antes que comece tudo outra vez.
Mas e a série? Pode ficar pra amanhã, afinal de contas você não faz nada da vida mesmo.
Bônus
Escrevi esse texto quando estava no olho do furacão materno. Um bebê recém-nascido, outra de um ano e três meses. Me sentia consumida e, fora do mercado de trabalho à época (por motivos óbvios), ouvia muito a frase “está cansada do que? Fica em casa o dia todo”.
Aquilo me tirava do sério. Hoje, pouco mais de dois anos depois, sigo com o mesmo pensamento. Vejo mulheres que por não haver vaga na creche, por não encontrar emprego, porque foram demitidas ou por avaliar não poder retornar ao mercado de trabalho, seguem em casa cuidando dos filhos mesmo maiores, mesmo após a licença-maternidade.
Limpam, cozinham, cuidam em tempo integral e são massacradas: por que não voltam à vida de antes? Porque a vida de antes simplesmente não existe mais e as prioridades agora são outras.
Quando se deparar com uma mulher que se dedica à criação dos filhos 100% do tempo, não julgue! Reconheça que aquela mãe trabalha, a diferença é que não tem remuneração, férias ou qualquer direito trabalhista, porque ser mãe é labuta vitalícia, sem moeda de troca.