Jaqueline Naujorks

Pensar em você primeiro não é egoísmo, é inteligência

Independência financeira deveria ser um conceito ensinado a todas as meninas

Se você é uma mulher entre 30 e 60 anos, sabe que ainda fomos educadas em um modelo antigo, em que mães ensinavam as filhas a cuidar de uma casa e dos irmãos menores, para aliviar o fardo doméstico. Nossas mães e avós eram essencialmente donas de casa, porque o modelo social era aquele: marido provedor, mulher em casa com múltiplos filhos.

Fomos educadas para esse papel. Não era importante educar a menina para ser uma empresária de sucesso ou uma alta executiva, porque dificilmente haveria espaço para ela no topo. A lógica das nossas mães era garantir nossa sobrevivência, e não incutir na gente um sonho pelo qual teríamos que cavar até o centro da Terra, com poucas chances de sucesso. Hoje, felizmente, a realidade é outra.

Para uma mulher, a independência financeira significa uma única coisa: o poder da escolha.
A mulher que se anula, abre mão da carreira, da faculdade, dos sonhos, em prol de uma engenharia doméstica que facilita unicamente o crescimento do homem, está investindo tudo de si no acordo mais furado do mundo. Não há qualquer garantia de que esse homem vá passar o resto da vida com você.

Isso significa que você não deve apoiar seu marido? Não. Significa que você não deve pensar nele primeiro. Não deve anular a sua caminhada contando que ele vá te honrar, proteger, cuidar e especialmente, manter. Se amanhã esse homem juntar as coisas e resolver ir morar com a estagiária, não há absolutamente nada que você possa fazer. Não há juízo moral, religioso ou social que se possa evocar nessa hora, diante de um homem apaixonado que quer reviver a juventude perdida com outra pessoa.

Se você tem uma formação, um emprego, uma ideia para empreender, faz curso online enquanto amamenta o bebê, tudo isso é seu. Amanhã, sua carreira não vai amanhecer dizendo que o amor acabou. Se algo acontecer com seu casamento, você tem por onde recomeçar – e acredite, ter esse norte vai te manter em pé se tudo desmoronar. Você vai ter um rumo para caminhar, uma razão para sair da cama, se tudo que conhece como rotina familiar for apenas ruína um dia. Nenhuma de nós está livre disso.

Pensar em si primeiro não é egoísmo. Colocar o bebê na creche e fazer um curso de empreendedorismo não fará de você uma mãe ruim. Ter a sua rede de apoio para cuidar da criança, pegar seu currículo e ir até o Sine, arrumar um emprego nem que seja para ganhar menos do que compensa, é um começo. Você pode crescer na empresa, fazer novos cursos, se especializar. Ninguém começa de cima.

O trabalho ajuda na autoestima da mulher, porque o ambiente social hoje não favorece mais o modelo de dona de casa que nossas mães foram. Tudo nesse mundo está muito caro, e pedir a um homem o dinheiro para comprar seu xampu da revista, ou fazer a unha (e muitas vezes ouvir um “não”) rebate nos confins da nossa autoconfiança. É muito lindo conquistar as coisas a dois, mas não deixe que essa seja a única maneira de você chegar a algum lugar.

Ter suas próprias ambições te mantém viva. Duvido que você não queira viajar, proporcionar um intercâmbio para seus filhos, entrar em uma loja e comprar o vestido lindo da vitrine sem ter que pedir nada a ninguém. O mercado de trabalho pode te render aquele reconhecimento, aquele elogio, aquela dose de autoestima que muitas vezes, você não tem dentro de casa.

Ensine educação financeira para suas filhas. Prepare a menina para empreender, investir, ter um currículo espetacular, passar num concurso bom. Explique para ela que vencer na vida não é cruzar um corredor vestida de noiva aos 20 anos, é caminhar até a reitora para receber o diploma. É mobiliar a própria casa, é cheirinho de carro zero, é ter o passaporte carimbado e um repertório infinito de histórias para contar. Quando ela tiver tudo isso e ninguém puder lhe tomar suas conquistas, aí ela poderá escolher se quer casar e ter filhos. O importante é que o casamento seja escolha, e não necessidade.

Num avião, se uma emergência acontecer, a orientação é colocar a máscara de oxigênio primeiro em você, para depois salvar os outros. A mulher que numa emergência na vida, pode se tornar o arrimo da própria família, tem o poder da sobrevivência, independente das escolhas dos outros. Pensar em você primeiro não é egoísmo. É inteligência.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Não Sou Obrigada, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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