Que em 2024 metamos a colher, o garfo, o prato e o que for preciso para salvar nossas crianças

Vivemos ainda na cultura de que a violência educa, se você não bater em casa, o mundo vai bater lá fora

Quase um ano atrás Campo Grande acordava com uma notícia que se espalharia pelo país. Era noite de quinta-feira, 26 de janeiro, quando chegou a informação de que uma criança com sinais de violência havia morrido em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Menina de dois anos. Me lembro exatamente do frio na espinha que senti.

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Na manhã seguinte a história ganhou desdobramentos que espalhou o arrepio pelo corpo todo. Sophia era o nome dela. Menina de dois anos e sete meses que teve a vidinha finalizada naquela noite de janeiro. Eu, mãe de uma menina com a mesma idade, senti como se fosse comigo.

Como jornalista acompanhei o caso, fui à audiência de instrução, vi os acusados de pertinho, a mãe e o padrasto. Li o processo quando o segredo de Justiça foi derrubado. Aquilo me envolveu de tal maneira que sonhei com Sophia diversas vezes.

Os detalhes do ciclo de violência ao qual ela foi submetida e o fim de uma vida que mal havia começado me tiraram a paz. Os réus, que estão presos e serão julgados em março que vem, respondem também pelo crime de maus-tratos por deixarem um cachorrinho em situação insalubre.

Os vizinhos denunciaram e aí está o ponto: avançamos muito no combate à violência contra os animais e à mulher (embora esteja muito longe do ideal), mas quando a figura é uma criança, caminhamos a passos lentos quase parando. Não metemos a colher. Ao contrário, ainda há quem defende esse “modelo” arcaico (para não dizer criminoso) de criação.

Como mãe digo que a máxima “cada um sabe o que é melhor para o seu filho” é completamente equivocada. Vivemos ainda na cultura de que a violência educa, se você não bater em casa, o mundo vai bater lá fora.

E assim deixamos que crianças sejam reféns no lugar em que deveriam estar mais seguras até que ciclos como o que viveu Sophia acabem da pior forma. Claro que sem o funcionamento mínimo dos órgãos competentes não vamos conseguir mudar a realidade.

Mas certamente o primeiro passo é “desnormalizar” o discurso de que violência educa. Não dá mais pra ficar calado. Não dá mais para pensar que “foi só uma palmadinha”. Levar um tapa que seja é normal em qual situação?

Enquanto a gente não meter a colher, mais meninas Sophias serão enterradas e a vida valiosa dos nossos pequenos, por mais justiça que peçamos, não voltam mais.

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista E eu nem queria ser mãe, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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