Quem pariu mantém e o embale!

Pesquisa feita pelo Datafolha em março e divulgada esta semana mostra que 69% dos brasileiros acham que mulheres são as principais responsáveis pelos filhos

O assunto esteve nas rodas de conversa, nas capas dos jornais, fez parte do tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2023, mas não foi suficiente.

Estudo mostra que mães solo têm cada vez mais dificuldades para entrar no mercado de trabalho. (Foto: Ilustrativa)
Mãe e bebê (Foto Reprodução)

Pesquisa feita pelo Datafolha em março e divulgada esta semana mostra que 69% dos brasileiros acham que mulheres são as principais responsáveis pelos filhos.

O debate na Internet foi inflamado e os argumentos os mais diversos: a mãe é quem amamenta, a mãe é que acalma, a mulher é que tem o instinto, é dela a licença-maternidade…

Pois então, gente. É tudo isso mesmo. Mas ter um filho vai muito, muito além. Tem tarefa de sobra e o pai que não assume é porque não quer sair da zona de conforto. Pai? Que pai? Ah, verdade!

Só em 2023 mais de 173 mil bebês foram registrados sem o nome do genitor, segundo dados da Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais). Número 5% maior do que o apurado em 2022.

Então quando a figura paterna existe, “nossa, dê graças a Deus!”.

Este é o pensamento que enraíza esses 69% apontados na amostragem. Somos as cuidadoras. Para além do viés cultural (não vou nem falar do religioso…), vem o reforço de todo um sistema que empurra a mulher ao papel de principal cuidadora.

Para se ter ideia, 56 % das mulheres que trabalham sob regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) são demitidas quando retornam da licença-maternidade, conforme pesquisa divulgada em maio passado pelo portal Empregos.

O padrão é tão forte que 40,6% das mulheres que têm três filhos ou mais, estão fora do mercado de trabalho, segundo levantamento da PUC gaúcha feito com base nos dados do último trimestre de 2022 e divulgado ano passado.

E por falar em licença-maternidade, vamos lá! São 4 meses, com sorte cinco se somar as férias, para mãe suprir a demanda – surreal, diga-se de passagem – do filho recém-nascido. Enquanto pais têm míseros 5 dias. Pelo menos esse dado não é tão desanimador, 76% dos entrevistados acham que as licenças deveriam ser iguais.

Vejam só: a estrutura reforça o pensamento arcaico de que mães criam, pais sustentam. Assim, homens catapultam as suas carreiras, enquanto mulheres são conduzidas ao trabalho (eterno) e não remunerado do criar/zelar. Quem é que você vê nas emergências, no aguardo por vaga na creche pública, nas reuniões de pais e mestres?

Pra quem a escola liga quando há uma emergência? Quem é que sabe os dados mais triviais sobre os filhos? O instinto materno pode até existir, mas muito do que nós, mães, sentimos em relação à criação dos filhos é, na verdade, culpa causada pela pressão desse papel que nos incumbiram e insistem em deixar conosco.

Quem fica com a guarda das crianças quando há separação? É normalizado que o pai saia de cena e quando ocorre o contrário a mulher é simplesmente crucificada: que tipo de mãe é essa que abandona a sua prole? Não tem perdão.

Parece um discurso repetitivo. Jéssica, você bate demais na mesma tecla. Pois é, imagina se não houvessem hoje movimentos que gritam pela paridade entre mulheres e homens na criação dos filhos e tarefas domésticas?

Ainda há um abismo entre os gêneros quando o assunto é filho. Mas a ponte… ela já está sendo construída. E nós não vamos parar!

Datafolha

O levantamento ouviu 2.022 pessoas de 147 municípios de todas as regiões do país entre os dias 19 e 20 de março. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista E eu nem queria ser mãe, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Comentários (1)

  • Deiran Rudy Pereira

    Eu fui pai e mãe, minha esposa mãe e pai, de nossa filha e nós 5 nos damos muitíssimo bem, pois não dividimos as responsabilidades, mas sim as curtimos sempre juntos!

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