Jaqueline Naujorks

Síndrome da impostora: não sou obrigada a me sentir incapaz

“Mulheres corajosas encorajam mulheres”. Minha mãe me ensinou isso ainda muito pequena. Mãe solo, criou as 3 filhas ao lado da mãe dela, viúva, e das irmãs que também encaravam essa caminhada sozinhas. Todo o exemplo de vida que recebi veio de mulheres tremendamente corajosas – e absolutamente exaustas. O cansaço era tanto, que elas […]

“Mulheres corajosas encorajam mulheres”. Minha mãe me ensinou isso ainda muito pequena. Mãe solo, criou as 3 filhas ao lado da mãe dela, viúva, e das irmãs que também encaravam essa caminhada sozinhas. Todo o exemplo de vida que recebi veio de mulheres tremendamente corajosas – e absolutamente exaustas. O cansaço era tanto, que elas mal sabiam que trabalho incrível estavam fazendo.

Jaqueline Naujorks

Para a mulher que desejou para si a vida de cuidar da família, o exercício da maternidade é seu maior contato com uma sensação que posso apostar que habita o íntimo de qualquer mulher: A Síndrome da Impostora, uma eterna sensação de que você não é boa o suficiente no que faz.

A composição da fina teia desse sentimento começa ainda na infância. Hoje, minha sobrinha de 13 anos estuda inglês, aprende matemática financeira na escola, faz terapia para compreender seus sentimentos, se comunica bem e já procura entender quais são suas aptidões para escolher com calma a carreira que vai seguir, sabendo o que é saúde mental. Eu, aos 13 anos, tinha uma disciplina na escola chamada “Técnicas Domésticas” onde aprendi a cozinhar e bordar (faço um ponto-cruz como ninguém!) e tinha que ser boa nisso, valendo nota. Em 1997, obviamente peguei recuperação nessa disciplina porque né, não sou obrigada a saber fazer tricô para passar de ano.

As mulheres da minha geração foram meninas ensinadas a administrar uma casa e cuidar de crianças, no exercício precoce da sororidade ajudando com os irmãos para aliviar a carga de suas mães cansadas. Ninguém ensinava uma menina a ser empresária.

Essas mulheres lutaram arduamente por espaço no instinto, e ainda assim, não se sentem a altura das posições de liderança que ocupam.

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  1. Não sou obrigada a acreditar que o amor não é para mim

  2. Não sou obrigada a depender de você

  3. Não sou obrigada a me sentir inadequada porque envelheci

Uma alta executiva de multinacional entra em uma sala de reuniões com 7 homens dentro: 2 deles têm cargos no mesmo patamar, 4 são subordinados e um é o chefe de todos. Ela vai anunciar um projeto novo, criação dela, que vai trazer um novo modelo de negócio para a empresa. Durante a reunião, 3 deles fazem questão de ficar no celular, 2 a interrompem e 1 acha que o projeto é perda de tempo. O 7° homem na sala vê naquela mulher o potencial de liderar uma campanha. Você já viu esse filme?

A questão não é o tratamento dado por esses homens a uma mulher que está voando alto.
A questão é como ela se sente.
Se ela não se vê capaz de sustentar uma posição de poder, como pode ter confiança suficiente para brigar por mais?
Se uma mãe se sente culpada pelos absurdos cometidos pelo filho, como pode achar que fez um bom trabalho criando um ser humano?
Se uma universitária vence um processo seletivo derrotando 10 homens, você acha que vão elogiar a competência dela ou dizer que ela dormiu com alguém para conseguir a vaga?

Encorajar mulheres é um trabalho gigantesco.
Sempre que puder, elogie direito.
Elogie sua colega quando ela produzir um trabalho bacana. Elogie sua mãe, sua irmã, sua amiga que acabou de ter bebê. Elogie sua chefe quando ela fizer algo legal por você. Elogie sua filha e encoraje a menina a lutar por mais. Elogie sua esposa, mas não faça isso da boca pra fora, elogie coisas específicas. Agradeça a coragem dela de encarar o cuidado familiar, o mais exaustivo dos trabalhos.

Ajude as mulheres ao seu redor a enxergarem o quanto são importantes, o quanto são capazes de encarar as próprias lutas, e principalmente, o quanto são dignas de vencê-las.
Você nunca vai perder tempo ajudando alguém a acreditar em si nesse mundo tão cheio de desimportâncias.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Não Sou Obrigada, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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