Alfredo da Mota Menezes

Alfredo da Mota Menezes

Situação preocupante no norte do estado

As periferias dessas cidades têm muita gente desempregada ou à espera de empregos em determinadas épocas do ano

Chama a atenção o número de homicídios em Sorriso, Sinop ou Lucas do Rio Verde. Municípios com rendas altas. Lugares de grande produção agrícola. Os números impressionam.

Em Sorriso, como exemplo, nos dois primeiros meses de 2023, segundo a Secretaria de Segurança Publica, se comparado com o mesmo período do ano anterior, as tentativas de homicídios crescerem mais de 370%. Se a riqueza ali é maior que muitos lugares do estado, por que tem aumentado a violência?

Especialistas da área mostram que o modelo econômico dessas localidades talvez ajude a aumentar a violência. Ele é concentrador de renda. A propriedade pertence a um dono, uma família ou empresa. O lucro, pelo trabalho desenvolvido, como é natural, vai para os empreendedores. Não tem como distribuir terras altamente produtivas, com até mais de uma colheita por ano.

O agro não é gerador de muitos empregos. Máquinas no campo, cada dia mais sofisticadas, diminuem ainda mais a disponibilidade de empregos. Quando aumentam são temporários. As periferias dessas cidades têm muita gente desempregada ou à espera de empregos em determinadas épocas do ano.

Seleção para vagas de emprego será nessa quinta-feira (26). (Foto: Ilustrativa/ Secom VG)
(Foto: Ilustrativa/ Secom VG)

Também, continua a análise dos especialistas no assunto, nesses últimos quatro anos houve uma maior liberalização de armas. Mais gente armada e a consequência seria o aumento da violência. Venda de drogas cresceu junto com outros tipos de violência social e física. Nesse meio tempo chegaram as facções ou formadas ali mesmo. Recrutar gentes não seria difícil.

Os que trabalham nessa área de estudos mostram que ocorreu fenômeno parecido na Baixada Cuiabana ali pelas décadas de 1970 e 1980. Muita gente chegando, emprego não acompanhava o aumento populacional e a violência aumentou. Com o passar do tempo, os setores de serviços e emprego público crescendo, também alguma industrialização, acabou acomodando um pouco a situação.

No Nortão uma das saídas talvez seja investir em treinamento das pessoas para empregos diferentes, principalmente numa sonhada agroindústria. Industrializar parte da produção do campo nessas cidades. Produtos saindo in natura não geram muitos empregos.

Antigo argumento de que o mercado interno é pequeno ou que seria difícil mandar produtos com valor agregado para fora do estado por falta de transporte, talvez hoje não caiba mais. Perspectivas novas e diferentes é que não faltam.

A duplicação da rodovia 163 está na pauta. Também a alternativa do chamado Arco Norte ou saída pelos portos do Pará. Sem falar no sonho da Ferrogrão, aquela de Sinop a Miritituba e a Rumo Logística descendo a serra e caminhando para Lucas.

Deveria ter um trabalho conjunto de empresários da indústria, produtores rurais, governo do estado, prefeituras, universidades para encontrar meios necessários para se investir mesmo na agroindústria naquela região.

Se isso não acontecer, a quantidade de empregos deve ser sempre menor do que o tamanho da necessidade regional. O agro vai continuar, porque é de sua essência, a concentrar renda. As pessoas dessa região teriam que viver com o receio constante da violência. Ou quem sabe apareçam alternativas para gerar mais empregos. O debate é longo.

Exportações cresceram 76,9% em relação ao mesmo período em 2021. (Foto: Marcos Vergueiro/Secom-MT)

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Alfredo da Mota Menezes , e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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