“Tá magra” não é elogio!
Quantas Maiaras precisarão adoecer para esse costume cair?
“Você emagreceu, tá linda” é a frase que mais me aproxima de perder o réu primário. Como pode uma criatura ser tão sem noção a ponto de condicionar a beleza de uma pessoa ao emagrecimento do seu corpo, e pior, dizer isso a ela? Quem solicitou essa opinião? Quem te deu o direito de opinar sobre o corpo alheio? Quem te autorizou a sacramentar o que é bonito e o que não é?
Fui uma adolescente obesa e conheço bem o olhar de nojo que as pessoas dirigem a uma menina que está só querendo ocupar seu espaço no mundo com o corpo que tem. Frases como “você tem um rosto tão bonito, por que não emagrece?” ou “quando emagrecer vai ficar linda” são as grandes causadoras de transtornos alimentares em milhares de adolescentes ao redor do mundo, e isso é tão, tão absurdo!
Quão egocêntrica precisa ser uma criatura para se achar no direito de dizer o que é bonito e o que não é? Quem você pensa que é para me dizer que peso devo ter para ser considerada bonita? A vontade é pegar cada alma sebosa dessas e mandar se catar, para manter a elegância não dizendo o que realmente gostaria.
Mesmo que você esteja dizendo na boa intenção, “Tá magra” não é elogio!
Nunca, repito, NUNCA diga para uma mulher “Tá magra, tá linda”. Ela vai entender que só está linda quando está magra, e se por algum motivo engordar, vai se sentir feia. Você não tem o direito de fazer uma pessoa se sentir culpada porque seu corpo mudou.
É esse tipo de cultura que faz com que um medicamento para diabetes que custa quase R$1.300 esgote nas farmácias. A geração Ozempic tem a mesma angústia que tinha a geração Sibutramina. As mulheres que sofrem hoje com a caneta da magreza, são filhas das mulheres que tomaram medicamento “fitoterápico” com veneno para rato nos anos 1990. Todas elas ainda tomam chás milagrosos, ou comem quiabo por uma semana, ou fazem dieta Dukan. Todo tipo de maluquice vale para atender a essa magreza que você diz que é bonita.
Você não pode elogiar a magreza de uma pessoa, simplesmente porque não sabe o motivo pelo qual ela emagreceu. Pode ser dieta, mas também pode ser câncer, doença grave, pode ser luto, pode ser depressão, ansiedade, até falta de dinheiro para comprar comida. Acredite, no silêncio do problema que não é seu, acontece mais do que você imagina.
Quer elogiar alguém? Diga apenas “Você é linda!”, um estado permanente de beleza, sem vírgula nenhuma.
Quer elogiar uma mulher? Elogie seu trabalho, sua inteligência, seu currículo, sua oratória, sua evolução. Ao invés de reparar no corpo, repare nas palavras. Repare no brilho, no sorriso, na energia boa que emanam as pessoas felizes e confortáveis com seus corpos. Uma energia boa que você, fazendo um comentário descabido, não tem o direito de azedar.

Evoluir é abandonar esses costumes idiotas que a gente perpetua sem raciocinar. Magreza não é beleza. A cantora Maiara, dupla com Maraisa, foi torturada ao longo de anos ouvindo comentários sobre seu corpo, de gente dizendo que ela não tinha saúde porque estava acima do peso. Agora comentam que ela está doente, que perdeu a saúde porque está abaixo do peso. A verdade é que as pessoas nunca estão satisfeitas. Para os outros, você nunca será o bastante.
O mundo será um lugar muito melhor quando as pessoas pararem de se preocupar tanto com a beleza, especialmente a beleza alheia. A comparação nos faz esquecer que somos todos seres finitos, e que o corpo que nos abriga a alma precisa ser apenas saudável e feliz. Adoecer os outros para projetar seu próprio complexo é uma vergonha passada no débito.
A sua opinião sobre o corpo alheio deve ser igual aquele terno que você usava em 1998. Deve ficar guardado, no fundo do armário do seu ser, sem jamais sair de lá. Um comentário cafona, fora de moda, desnecessário, que cheira mal. Quando quiser usá-lo, lembre-se que já está na hora de comprar um terno novo. Isso é evolução. De nada!