Ter filhos: se você não tem certeza, talvez seja porque não quer
Muitas não sabem explicar o porquê estão reticentes, sem perceber que na verdade não querem ter filhos, são apenas induzidas a tê-los pela velha e conhecida pressão social, classificada como "ciclo natural da vida"
Ao longo desses mais de três anos compartilhando textos e reflexões sobre maternidade, recebi inúmeras mensagens de mulheres que tinham “vontade” de ser mães, porém eram desencorajadas por N motivos.

Muitas, no entanto, não sabiam explicar o porquê estavam reticentes, sem perceber que na verdade não queriam ter filhos, eram apenas induzidas a tê-los pela velha e conhecida pressão social, classificada como “ciclo natural da vida”.
A “motivação” era das mais variadas: preciso ser uma pessoa melhor, meu casamento está pedindo, minha vida não tem muito sentido, tenho medo de nunca sentir o amor verdadeiro… Eu, do alto da minha aquariana sinceridade, muito mais aguçada quando o assunto é ser mãe, sempre respondi: se você não tem certeza é porque não quer (pelo menos agora).
E explico: sob a ótica real da maternidade a gente sabe mais do que ninguém que ter um filho é algo denso, difícil, cansativo e muito mais profundo do qualquer frase pronta sobre maternar. Algo vitalício, sem chance de reset ou desistência.
Portanto, aconselho com toda sanidade do mundo que: quer ser alguém melhor? Vá pra África, pra Índia ou então aqui mesmo no Brasil, não é preciso ir muito longe dos nossos próprios umbigos para se dedicar a causas realmente nobres, que não vão salvar o mundo, mas são capazes de nos dar outra dimensão de realidade.
Quer salvar seu casamento? Dialogue, busque ajuda profissional, apare as arestas e recomece. Ou então coloque um ponto final para poder de fato seguir em frente.
Quer ser feliz? Faça terapia, tenha amigos, viaje, siga o caminho do bem, procure autoajuda. Tenha em mente que a felicidade é uma inconstante, hora mais, hora menos.
Quer sentir amor verdadeiro? Olhe no espelho! Se abrace. Enxergue as pessoas ao redor, se abra. Faça o que for preciso, só não transfira a alguém que sequer existe a responsabilidade de já chegar neste mundo para cumprir a sua expectativa, porque definitivamente filhos não são para isso (e não o fazem, viu?!)
Aliás, talvez o grande X da questão seja exatamente esse. Estamos sempre em busca de respostas para nós mesmos, tentando tapar nossos próprios buracos que ignoramos o fato de que gerar outro ser humano, é tudo, menos criar outra versão de si.
Se conselho fosse bom…
Ok! Realmente, se conselho fosse bom… então digamos que não estou aqui para aconselhar, mas para tecer observações que eu gostaria muito que alguém tivesse me dito antes de ser mãe.
Se o filho está nos planos:
- Muito provavelmente você deve ter conversado com seu ginecologista, está tomando as vitaminas e o ácido fólico. Porém, muito além de cuidar do físico, é necessário dar atenção à saúde mental. Infelizmente, não faz parte do pré-natal, mas ter apoio psicológico vai fazer total diferença na sua vida materna.
- Se apegar ao que está no imaginário romanizado da maternidade não é proibido, porém divida o espaço com a realidade. Pense também nas coisas práticas como quem vai ficar com seu bebê quando você voltar a trabalhar? Vai ficar em casa? Ok, a renda tá somada?
- Também leve em consideração que o outro tem vida, então não está 100% disponível. Creches e escolinhas são uma ótima rede de apoio, mas fecham, têm férias, emendam feriados enquanto você terá que seguir dando jeito nas suas responsabilidades fora do maternar. E a sociedade te cobra isso, tá? Seja mão, mas produza como se não fosse uma.
- Filho é eterno, as fases passam, mas sempre virá outra e você pode cair na besteira de gastar dinheiro com cursos mirabolantes para “normalizar” a vida, como ensinamentos sobre sono, introdução alimentar e por aí vai. Eles podem ajudar, claro. A questão principal é ter em mente que absolutamente nada que você faça trará a vida anterior aos filhos de volta. Você vai parir e automaticamente renascer junto à cria. É lindo e doloroso.
- Onde come um, comem dois. Será? Não, não é bem assim. Os custos são de fato altos, pensar minimamente nisso é algo vantajoso. Todo mundo vai te dizer “ah mas a gente dá um jeito”, só que quem vai dar um jeito é você. Não custa zapear um pouco sobre o custo que uma criança traz. E é real… Depois que pari nunca mais poupança enchi rs.
- Dentro da análise mental inclua trabalhar o fato de que nos primeiros anos de vida a abdicação é bem maior. De sono, descanso, tempo e L I B E R D A D E. Pense que tudo o que você faz hoje, pode até fazer, porém com uma criança junto. Ao decorrer da estrada não só a carga fica menos pesada, como a gente aprende a caminhar de forma que pese menos. Até lá esteja cerca de gente que vai de fato te ajudar.
O amor incondicional? É real. Não funciona como pregam. “O sorriso do meu filho me recarrega”. Fisicamente você vai seguir cansada, emocionalmente também. O sorriso do seu filho vai alimentar algo mais profundo: sua alma. Faz tudo valer a pena? Não sei. Cada um tem seu contexto, sua história.
É a generalização que faz com que as mulheres caiam na maternidade compulsória sem perceberem. Por aqui sigo defendendo que a mulher é completamente capaz de ser feliz sem ter filhos, mas uma mulher que já é mãe, nunca terá felicidade se sua prole não estiver bem.
Comentários (2)
Tenho 59 anos e optei por não ser mãe. Sou feliz assim. Romantizar a maternidade é uma das formas de subjugar as mulheres. Por que mulheres tem “vocação” para maternidade o os homens não são vocacionados à paternidade? Nenhuma mulher nasce querendo ser mãe, aprende-se que é uma obrigação. Temos o direito de escolher se queremos ou não. E há inúmeras outras formas de exercer a maternidade sem ter gestado uma criança, adoção, por exemplo. Apadrinhar uma criança num orfanato etc…
Querendo ter filhos ou não temos que reivindicar do local que trabalhamos creches,no local de trabalho para que no intervalo dar uma fugidinha para ver o bb e nos feriados prolongados a creche deve ter funcionamento na própria empresa