Tribunal virtual já sentenciou, mas fala de BBB Fernanda é pedido de socorro

A sister disse em conversa com a Pitel que às vezes quer "matar" os filhos

Não sou uma telespectadora do Big Brother Brasil. E, não, não faço parte do time do “vai ler um livro”, acho esse discurso cafona, inclusive. Não assisto justamente por ter dois filhos pequenos e o horário ser incompatível com mães de madrugadores. Mas vi a fala da Fernanda.

Muitas pessoas me enviaram o vídeo, sabendo que faz parte do meu repertório esse assunto. Bem, vamos lá! A sentença já foi dada pelo tribunal da internet: culpada! Talvez por ter no currículo falas que vão além da polêmica e chegam ao capacitismo, preconceito e por aí vai, os dizeres da sister sobre maternidade foram uma arma contra ela.

De fato se trata, pelo pouco que vi na internet, de uma pessoa que precisa de uma revisão nos conceitos. Mas, tirando a máscara de Fernanda, analisando a fala como alguém que já esteve naquele lugar de desespero materno, posso dizer que as pessoas estão mais preocupadas em julgar do que em questionar o porquê de uma mulher ter esse sentimento.

Podemos naturalizar o discurso violento contra crianças? Jamais! Mas, para que isso não ocorra – mesmo que dá boca para fora, como foi o caso – é preciso muito mais que o ódio da internet. É necessário colocar uma lupa sob a carga carregada pelas mães.

No caso da Fernanda, com o plus de ser mãe atípica e solo, combo encarado por milhares de mulheres Brasil afora. Mas, Jéssica, uma mãe que diz que quer jogar os filhos do prédio? Isso é absurdo. Eu sei, pesado né? Tão pesado quanto a sobrecarga que a gente precisa encarar sozinha e em silêncio para não sermos apedrejadas em praça pública.

Leia mais

  1. Nossa, depois que foi mãe embarangou, né?

O exemplo é dado para dar este exato impacto. A frase é, na verdade, um pedido de socorro. A exaustão tira a gente do eixo. Adoece, literalmente. Se ver numa rotina de cuidado dos filhos e ainda corresponder a todas as outras demandas da vida adulta é enlouquecedor.

Se ver no looping do cuidado diário sem previsão de folga, deixa qualquer ser humano fora de si, só que, sabemos, o cuidado geralmente fica com a mulher, é comprovado estatisticamente. E aí deveria entrar a tão falada aldeia. Só que hoje em dia o grupo se tornou uma pessoa só: a mãe. Quem pariu mantém e o embale e a saúde mental vai para o saco.

A solidão deixa tudo muito mais amplo. Ecoa. Sabe quando a mãe se levanta da mesa para ir atrás da cria? Ou se ausenta para garantir a soneca do bebê? Ou se isola para amamentar? É isso aí. Mães conhecem o isolamento social muito antes da pandemia.

Sem contar a exclusão do mercado de trabalho, a mudança na silhueta que reflete (infelizmente!!!) no casamento, na autoestima. O distanciamento dos amigos que não conseguem encaixar crianças nos programas antes tão comuns.

Fernanda diz que “em dias em que tudo dá errado” e esses dias são muitos dentro da maternidade, seja qual for a fase que o filho está. Simplesmente apontar o dedo não vai fazer com que aquela mulher desesperada seja amparada.

Ao contrário, vai fazer com que haja silenciamento. Exemplo disso são os inúmeros relatos que recebo no inbox, todos com conteúdos que seriam massacrados pela sociedade, porém nunca resolvidos porque a missão é criticar.

Mulheres que se dizem exaustas, que relatam querer morrer, que desabafam tão sinceramente e me dizem no fim “sei que com você posso falar sem ser julgada”. Então, bora dar uma analisada mais profunda?

Ninguém quer naturalizar a violência contra crianças, mas desnaturalizar a sobrecarga que faz uma mãe dizer coisas inconcebíveis é mais que urgente!

FALE COM O PP

Para falar com a redação do Primeira Página em Mato Grosso do Sul, mande uma mensagem pelo WhatsApp. Curta o nosso Facebook e nos siga no Instagram.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista E eu nem queria ser mãe, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Comentários (4)

  • Mônica Cristina Sommerfeldt

    Bom dia eu tenho cinco filhos por mais que a gente tenha uma sobre carga em cuidar dos nossos filhos nunca passou na minha cabeça uma coisa dessa hoje eu estou em um hospital com minha filha fazendo tratamento de leocemia e tudo que eu mais quero é que ela fique bem pra nós voltar pra casa meus filhos são tudo na minha vida amo eles mais que tudo nessa vida

  • Mônica Cristina Sommerfeldt

    Olha minha opinião sobre esse assunto tem tantas mulheres que quer ter filhos e não pode e essa ai tem e não dá valor na dádiva que Deus deu pra elas eu amo mais que tudo meus filhos eles nunca foram uma fardo pra mim agradeço todos os dias por Deus ter me dado cinco filhos maravilhosos hoje me encontro em um hospital em Cuiabá com minha filha com leocemia e mesmo assim agradeço todos os dias por meus filhos

  • Brigida Godoy

    Que dependendo da situação é compreensível perder a cabeça e falar coisas desagradáveis,mas essa pessoa, está fazendo drama,imagine então cuidar de 16 filhos,como aconteceu com minha mãe,e ainda exercia a profissão de professora,que provavelmente pensou nessa possibilidade,mas nunca falou por ter discernimento

  • Edinho venega

    Não é fácil filhos, quando fica só pra um a responsabilidade…pesado…..eu tenho 5 filhos, se não fosse em conjunto a criação deles….falaríamos…..amor compensa tudo…meus netos são muito amados….isso vale tudo… obrigado Deus ❤️❤️❤️❤️❤️

Leia também em Comportamento!

  1. Por que ruas do Santa Amália têm nomes de aves? BQQ revela origem curiosa

    A reportagem especial mostra que a mudança começou ainda em 2001, quando...

  2. O tom de voz também comunica

    A sua maneira de se comunicar não depende somente do que você fala, mas...

  3. Lúcia Maggi, aos 93 anos, tem fortuna equivalente a cerca de R$ 5 bilhões. (Foto: Divulgação) Ela aparece na lista da Forbes de mais ricos do brasil

    Lista da Forbes 2025 tem só uma mato-grossense e ela tem R$ 5 bilhões

    A edição 2025 da tradicional lista de bilionários divulgada pela revista Forbes...

  4. Lei do Stalking: 4 anos combatendo perseguidores

    Como a perseguição que sofri ajudou a criar uma lei federal...

  5. Número de casas com internet ultrapassa o de TVs em MT, segundo IBGE

    Em Cuiabá, o número de pessoas com acesso a internet é maior...