Vem aí a celebração do trabalho dobrado
Que tal facilitar a vida das mulheres da casa este ano?
Vem aí mais um combo de festas de fim de ano, aqueles dias em que todo mundo se diverte, menos a dona de casa. Essa trabalha o dobro. No ano em que até o Enem provocou a reflexão sobre a invisibilidade do trabalho doméstico, que tal combinarmos outro modelo de organização para o Natal e Ano Novo em 2023?

Para começar, a organização da ceia. Não vai cair um dedo da sua mão se você acompanhar essa mulher nas cansativas compras no mercado. Divida essa tarefa com ela, e quando estiverem lá, não fique reclamando do alto gasto. Ceia de natal é uma coisa cara mesmo, você já está careca de saber disso. A culpa é da inflação, não da sua esposa.
Já pensou que legal, se ajudar a escolher o cardápio e não jogar nas costas dela um “Decide você”? Se nos dias 24 e 25 você ajudar a cozinhar, ganha uma estrelinha na testa. Um simples “deixa que eu resolvo isso para você” faz uma diferença enorme para quem tem um check list que não acaba. Se levantar da mesa ao final da refeição e recolher os pratos, vai ganhar duas. Se lavar a louça, ganha uma constelação inteira. Essa simples atitude não deveria ser extraordinária, mas é.
Vai receber visitas? A casa precisa ser preparada, ajude nessa organização. Lâmpadas queimadas precisam ser trocadas, toalhas de banho, arranjos de lençóis, coberta, ventilador e cama para todo mundo, sabonete no banheiro, comida suficiente, lanche para criança, tudo isso pode e deve ser pensado e dividido, não é um problema só da mulher.
Durante a festa, cuide das coisas para que as mulheres da casa tenham tempo de se arrumar. Elas querem estar de roupa nova, cabelo escovado, unha feita e maquiagem cintilante, querem estar bem nas fotos que vão eternizar esse momento. Isso não deve ser um sacrifício, nem uma liberalidade para elas, correndo para passar batom entre um respingo e outro de gordura na beira de um fogão.
Depois que as visitas vão embora tem casa para ser limpa, calçada para ser lavada, cesta de roupa cheia, louça para lavar, criança para ser cuidada, a rotina começa a voltar ao normal. A organização da casa não é uma incumbência exclusiva da mulher, e ela não precisa te pedir para ajudar nisso, porque você já sabe que precisa ser feito.
“Ah, mas eu trabalho e ganho dinheiro para que ela cuide dessas coisas”.
Você tem horário para parar de trabalhar, ela não.
Será que dividir o fardo do cuidado doméstico com as mulheres da casa vai realmente fazer de você um homem pior?
No ano novo, quando todos brindarem usando branco, você quer ter ao seu lado uma mulher feliz celebrando, ou uma mulher exausta que só quer dormir logo? Acredite, a diferença está nesse sentimento de partilha.
Que as festas deste ano sejam realmente boas para as mulheres, que a parceria seja maior do que todos os preconceitos bobos que herdamos. Que nenhuma mãe, filha ou irmã durma com a coluna doendo de tanto limpar, lavar e cozinhar, para ouvir um “Está cansada de quê? Você nem trabalha!”!
Que no próximo ano, onde uma esposa sobrecarregada passa sua vida desejando que o dia acabe logo para poder descansar, onde a mãe aguenta sozinha a árdua tarefa de cuidar, onde a mulher que trabalha fora encara sua jornada como uma perpétua prisão até o dia de sua morte, uma nova realidade deixe brotar a alegria de viver.
Que 2024 chegue com mais consciência e igualdade para todas nós, um contexto em que ser mulher não seja sinônimo de cansaço. Que possamos celebrar juntas a leveza, com suas cores tão suaves, colorindo uma caminhada digna e, sobretudo, feliz.
Felicidade para a mulher não é estado de espírito. É conquista.
E nós (sempre) estamos prontas para recomeçar.
Comentários (1)
Texto lindo e necessário! Parabéns pela objetividade e sensibilidade.